Allia jacta est.
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Artigos
Revista MAN Magazine
Outubro/2011
Por Ricardo Amorim
Tradicionalmente, bancos centrais são conservadores e apenas reagem a fatos consumados, não se antecipando a eles. Por isso, gerou surpresa a ousadia do Banco Central (BC) em reduzir as taxas de juros enquanto a inflação, que já estava acima da meta, continua em elevação.
Somando a decisão do BC à s declarações da Presidente Dilma, poucos dias antes, de que haveria condições para se reduzir os juros, surgiram preocupações com uma potencial interferência polÃtica nas decisões do BC, o que minaria um dos mais fundamentais pilares da estabilização brasileira, a autonomia da autoridade monetária.
No entanto, ao que parece, o BC fez uma aposta. Apostou que a crise econômica na Europa vai piorar muito e logo, com consequências negativas significativas sobre a economia brasileira. Se isto acontecer, o que está longe de ser improvável, a decisão terá sido correta. Como reduções de juros levam pelo menos seis meses para impactar a economia, se o BC esperasse a crise europeia tomar proporções globais para só então reagir, a recessão já estaria instaurada no paÃs até os efeitos da queda dos juros serem sentidos.
Por outro lado, se for encontrada uma solução para as dificuldades europeias que impeça a geração de problemas bancários, que tornariam a crise global, é provável que a inflação continue a subir. Isto forçaria o BC não apenas a reverter a queda dos juros, mas a elevá-los de forma mais contundente.
Sem dúvida, a decisão foi arriscada. Entretanto, como o mais provável ainda parece o agravamento da crise europeia com consequências globais, talvez, o risco mais significativo fosse não fazer nada e esperar. O tempo dirá.
Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa Manhattan Connection da Globonews, colunista da revista IstoÉ e presidente da Ricam Consultoria (www.ricamconsultoria.com.br) e realiza palestras em todo mundo sobre perspectivas econômicas e impactos em diversos setores.
Fernando Sonvenso disse:
14 de outubro de 2011 às 18:11
Foi ousado e o momento pedia ousadia. A crise europeia piorou desde o dia que o Copom diminuiu a taxa de juros e tudo indica que vai piorar ainda mais.
Quanto a interferência polÃtica, são apenas preocupações saudáveis e vigilantes, mas também acredito que a decisão do Copom foi, como deve sempre ser, autônoma.
14 de outubro de 2011 às 18:24
Ricardo,
Acredito que a aposta foi bem feita, explico: Supondo que a Europa resolva seus problemas e impeça a geração de problemas bancários. Nesse caso nossa inflação tenderia a subir, certo? Logo, deverÃamos reduzir a inflação de maneira rápida. A Dilma já mexeu no BC, então imagino que se precisar ela mexe no preço da Gasolina e força uma queda maior do dólar para ter um forte impacto negativo na inflação no curto prazo!
Abs
Felipe Petrucchio disse:
14 de outubro de 2011 às 19:47
Os juros SELIC em um viés de queda e sua eficácia dependerá exclusivamente da questão fiscal.
O consumo do governo terá que sofrer a mesma reversão dos juros para que o Brasil se antecipe positivamente ao cenário global. Isso refletirá primeiramente na inflação, que por sua vez aumentará os ganhos reais dos juros no médio prazo e consolidaria maior poupança no longo prazo.
No entanto, o histórico de gastos crescentes do governo indica que não haverá redução do consumo estatal. No melhor cenário haveria estabilização dos gastos.
A inflação acima do centro da meta, mais um viés baixista favoreceria apreciação da BOVESPA, na busca de melhor rentabilidade das carteiras devido ao ganho real baixo (~2%a.a) da SELIC.
14 de outubro de 2011 às 21:39
Ricardo, na minha humilde percepção o consumo continua forte. Emprego e renda não demonstram retrocesso importante, ao mesmo tempo que há tempos reparo em shoppings e supermercados inúmeras placas de “contrata-se”. Você é um cara experiente para fazer uma leitura consistente dos dados antecedentes… o que você enxerga?
Acho que o IPCA de Outubro será o divisor de águas nas apostas de erro/acerto do COPOM, pois neste ano o Ãndice tem estado todos os meses sem exceção acima de 2010, e, em Out’10 subiu a 0,75%.
Em Agosto o COPOM nos aplicou uma surpresa, lembro-me que no mandato anterior do BC não havia esse tipo de coisa, muito pelo contrário, o resultado das reuniões era aborrecido de tão previsÃvel, o que é bom para o mercado.
No inÃcio do ano o Min. Mantega dava explicações sobre benefÃcios do aumento do superávit total (não primário), e como decisões de SELIC contribuiriam nesse processo. Suspeito que esse seja o motivador do COPOM.
Enfim, quando vejo o mesmo ministro dando explicações sobre as inúmeras formas que o governo tem de frear o consumo sem aumentar a taxa de juros, logo penso no que H. Meirelles chamava de “medidas pouco ortodoxas”.
Um abraço.
Luiz Roberto Moraes disse:
14 de outubro de 2011 às 22:26
Concordo plenamente com este seu artigo meu caro Ricardo!
Os Bancos Comerciais já são tradicionalmente conservadores e reativos à s condições e ambiente de mercado…os Bancos Centrais então, são muito mais ou deveriam ser…mas neste caso mostrou se uma certa ousadia…O tempo dirá!
16 de outubro de 2011 às 14:10
Ok, Ricardo, boa análise, mas já vi um monte de economistas falando o mesmo. Portanto, nada de novo. E tu ficaste em cima do muro porque não procurou mostrar qual seria o cenário mais provável.
Quer minha opinião? Acho que em 2012 a inflação tende ao centro da meta sim; crise na Europa e EUA se mostrarão menos agudas; crescimento na Europa e EUA será retomado, bem timidamente. SELIC tende a ficar em 11%.
S4ndr0 disse:
18 de novembro de 2011 às 12:53
Lúcida sua análise, contrapondo aos fatos de 2008, durante a mãe de todas as crises, onde o BC aumentou os juros… E ninguém escreveu uma vÃrgula contra. Resultado final: crescimento do PIB em -0,2%.
Qual o motivo de toda a crÃtica que existiu por baixar 0,5%? Por que era gestão “temerária e polêmica” segundo Mailson da Nobrega?
http://jovempan.uol.com.br/noticias/2011/09/decisao-do-copom-foi-temeraria-e-polemica.html
Porque a credibilidade do BC seria afetada? Não é esse o papel dele?
http://dinheiro.br.msn.com/mercado/redu%C3%A7%C3%A3o-da-taxa-selic-pode-afetar-credibilidade-do-banco-central-afirma-ex-ministro
Perguntas que não querem calar…
S4ndr0 disse:
18 de novembro de 2011 às 13:16
Complementando.. aqui um pouco mais sobre os “erros” do BC atual e os “acertos” do BC em 2008..
A quem servem os profetas do caos?
http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite/2011/11/18/aqueles-economistas-erraram-de-novo-de-novo-de-novo-de-novo/
Roberto de Carvalho Rodrigues disse:
20 de novembro de 2011 às 22:49
Com o tamanho das reservas e da divida publica o nÃvel de juros é absurdo! Considere ainda que esta não é a taxa de juros da grande maioria… Perdemos uma grande oportunidade de redução quando da “marola”, não podÃamos perder mais uma vez. Acertou o Bacen, erramos quando ainda somos a maior taxa de juros do Mundo!!!
30 de março de 2017 às 23:48
Concordo com sua análise, O Brasil é afetado diretamente pela crise da Europa… Mas a economia interna brasileira é lenta para recuperar a médio prazo.
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