Revista Via ACAV
09/2012
Mapa de oportunidades – Economista faz projeções para o mercado brasileiro e mostra nichos especiais a explorar por aqui.
O Brasil está condenado a crescer. Esta é a sentença do consultor Ricardo Amorim, economista e presidente da Ricam Consultoria.
Em entrevista à Via ACAV, Amorim explica como o País bene ciou-se das alterações na dinâmica da econômica mundial, especialmente pela escalada chinesa ante as crises europeias.
Amorim destaca que ainda há muito a ser feito por aqui, principalmente no setor de infraestrutura. E enumera boas perspectivas decorrentes dessas mudanças mundiais, como o aumento da demanda de alimentos. Para Amorim, o setor de agronegócio e, consequentemente, a venda de veículos pesados por aqui, é rota obrigatória no mapa de oportunidades brasileiro.
Em suas palestras você diz que o Brasil está condenado a crescer. Como isso deverá ocorrer?
Ricardo Amorim – De fato, nos últimos oito anos, a média de crescimento anual do PIB brasileiro foi de 4,9%, o dobro do que tinha sido nos 25 anos anteriores. Isto aconteceu não aconteceu porque o Brasil resolveu todos os seus problemas. Isto aconteceu apesar de ainda não os termos resolvido. Este é o meu ponto. Uma mudança estrutural da economia mundial fez o crescimento dobrar na última década e, apesar dos muitos trancos e barrancos – como os impactos negativos da atual crise europeia na economia mundial – nosso crescimento nas próximas duas décadas deve continuar a ser muito mais acelerado. Salvo uma hecatombe econômica na China ou nos Estados Unidos.
E quais são os problemas não resolvidos pelo Brasil?
Ricardo Amorim – Muitos, mas pelo menos eles são conhecidos. Carga tributária elevadíssima, infraestrutura ruim, ambiente de negócios burocrático, baixa qualidade dos serviços públicos, educação e saúde ruins são apenas os obstáculos mais óbvios.
Um dos pontos mencionados a se resolver é a infraestrutura. Qual é a projeção da demanda de obras necessárias para o mercado de caminhões?
Ricardo Amorim – Brutal. Quase ¼ de século semiestagnado levou o Brasil a negligenciar investimentos em infraestrutura. Quando o país volta a crescer a partir de 2004, os gargalos de infraestrutura ficam aparentes.
A boa notícia é que o governo acabou de reconhecer sua incapacidade em fazer sozinho os investimentos necessários e anunciou um megapacote de R$ 133 bilhões de concessões à iniciativa privada no setor de transportes.
Melhor ainda, devido às boas perspectivas de crescimento do país a médio e longo prazos, há enorme apetite hoje na inciativa privada tanto brasileira quanto estrangeira em financiar projetos de investimentos em infraestrutura no Brasil.
Outro destaque deste ano é a aguardada safra recorde. Como o agronegócio impactará a economia brasileira e como se aproveitar disso?
Ricardo Amorim – Com a enorme fome chinesa por alimentos, o agronegócio acabou se tornando um dos principais motores do crescimento brasileiro. Neste ano, o impacto será ainda maior porque se soma à safra recorde brasileira a quebra de safra de grãos nos EUA, o que gerou preços muito favoráveis ao produtor brasileiro.
Desde a virada do milênio e a crescente integração da China à economia global, o Brasil tem se tornado uma fonte cada vez mais importante de alimentos para os chineses. Como todos sabem, bocas a serem alimentadas não faltam por lá.
Por ter território extenso, clima favorável e oferta abundante de água potável, o Brasil tem uma vocação natural que muito o privilegia na produção de alimentos.
Não por acaso, o país é o maior exportador mundial de açúcar, café, carne bovina e avícola, suco de laranja e fumo. Aliás, as exportações brasileiras de suco de laranja correspondem a 84% das exportações mundiais de todo o setor.
A produção de alimentos é um dos setores mais beneficiados neste novo contexto?
Ricardo Amorim – Sem dúvida. Uma de suas consequências é que o crescimento da riqueza no interior na última década foi muito maior que nos centros urbanos, e é provável que essa tendência não seja revertida tão cedo.
O Brasil é, disparado, o país com mais área potencialmente arável ainda não plantada, chegando a quase 350 milhões de hectares, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), três vezes mais que o segundo país com maior área disponível para a agricultura ainda não cultivada, o Congo.
Para se ter uma de ideia de por que o Brasil deve se tornar, cada vez mais, o celeiro do mundo ao longo das próximas décadas, a área arável no país equivale a todo território de trinta e três países europeus somados.
E quais são as projeções?
Ricardo Amorim – O superávit comercial do agronegócio brasileiro passou de pouco mais de US$ 9 bilhões em 2011 para US$ 78 bilhões nos últimos 12 meses, com as exportações do setor quase quadruplicando no mesmo período. Neste ano, com preços e volumes elevados de muitos produtos, deve crescer ainda mais.
Podemos dizer que a economia mundial vive um novo momento?
Ricardo Amorim – As transformações econômicas globais da última década talvez tenham sido as maiores em mais de um século.
O que levou a isso?
Ricardo Amorim – A Entrada da China na Organização Mundial do Comércio em dezembro de 2001 somada a um acelerado processo de industrialização e urbanização naquele país que causou o êxodo de 400 milhões de chineses do campo para a cidade viraram o mundo de cabeça para baixo, favorecendo países emergentes como o Brasil e desfavorecendo os países ricos.
No caso do Brasil, quais são e onde se concentram as oportunidades?
Ricardo Amorim – Agronegócio, varejo, construção, infraestrutura e serviços foram os setores líderes na última década e devem continuar a ser nesta.
Qual é a projeção para a economia de Europa, Estados Unidos e Japão?
Ricardo Amorim – Infelizmente, bastante ruim. As mesmas forças que beneficiam o Brasil e a maioria dos países emergentes tem impactos negativos significativos nos países ricos. São dois lados opostos da mesma moeda.
Depois de quase três décadas de consumo excessivo, chegou a hora dos países ricos passarem por um longo e doloroso ajuste, onde o consumo terá de crescer em ritmo muito lento ou nulo, reduzindo muito o crescimento destes países. Não por acaso, na maioria destes países, o PIB hoje é menor do que era em 2007, às vezes, bem menor, como, por exemplo, no caso da Itália, onde é quase 7% menor.
Como o Brasil poderá se beneficiar dessa conjuntura?
Ricardo Amorim – Como no caso da crise financeira global de 2008, fundamentos econômicos muito mais sólidos do que nos países ricos farão o Brasil sentir menos e sair mais rapidamente da desaceleração global causada pela crise europeia. Em outras palavras, aqui a crise será mais curta, menos profunda e seguida de crescimento acelerado, como em 2010, quando o PIB brasileiro teve o maior crescimento em 26 anos, chegando a 7,6%.
Mesmo em crescimento, o Brasil enfrenta a restrição ao crédito, principalmente no mercado de caminhões. Por que isso ocorre?
Ricardo Amorim -Porque a desaceleração do crescimento brasileiro nos últimos trimestres causou uma elevação da inadimplência nos financiamentos, que foi particularmente aguda no caso dos financiamentos de veículos, levando bancos a serem muito mais duros na concessão de novos créditos.
Há riscos de ocorrer no Brasil algo semelhante ao que houve nos Estados Unidos durante a crise financeira de 2008?
Ricardo Amorim – Pelo menos nos próximos anos, o risco é muito baixo pelas razões expostas acima.
Há formas do Brasil se proteger da entrada do dólar?
Nenhuma que não tenha efeitos colaterais ainda mais graves do que a própria apreciação cambial causada pela entrada de dólares. Infelizmente, uma forte entrada de dólares no país e uma forte apreciação do Real também são consequências quase inevitáveis da nova estrutura da economia mundial, onde países ricos precisam exportar mais e países emergentes precisam consumir mais. Um dólar mais fraco é uma condição para que isto possa acontecer.
Como as Olimpíadas e a Copa do Mundo beneficiarão o Brasil? E as vendas de caminhões?
Ricardo Amorim – Grandes investimentos em infraestrutura e forte crescimento de turismo devem impulsionar não apenas as vendas de caminhões, mas também de ônibus. Devemos praticamente dobrar o número de turistas estrangeiros visitando o país até as Olimpíadas, sem falar em quase 300 mil empregos gerados e um crescimento adicional do PIB de cerca de 1%.
E o Pré-sal?
Ricardo Amorim – A dinâmica é parecida com a da Copa e da Olimpíada, mas os números são ainda maiores. Só nos próximos cinco anos, os investimentos devem chegar a US$ 250 bilhões e a geração de empregos diretos e indiretos a mais de um milhão.
Além disso, um crescimento significativo da produção de petróleos e derivados no Brasil pode colaborar para um menor custo de combustíveis no país, impulsionando o setor de caminhões e ônibus.
Ricardo Amorim é economista, consultor, apresentador do programa Manhattan Connection da Globonews, colunista da revista IstoÉ e presidente da Ricam Consultoria. Realiza palestras em todo mundo sobre perspectivas econômicas e oportunidades em diversos setores, é o único brasileiro incluído na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do site inglês Speakers Corne e é o economista mais influente do Brasil e um dos dez mais influentes do mundo de acordo com o site americano Klout.com.