Manhattan Connection: 20 anos de história

BBC Brasil

03/2013

Por Lucas Mendes

 
Lucas Mendes: Conexão para todas as idades
Parabéns para o Manhattan Connection, o MC. Apesar do nome, o programa merece aplausos pelo aniversário de 20 anos que será comemorado no domingo. O primeiro programa foi ao ar dia 5 de março, mas a Globonews decidiu comemorar o nascimento no dia 24.
 
Atraso e lentidão são duas marcas do programa mais antigo da TV por assinatura no Brasil e que nunca teve tanta audiência. Uma combinação de milagre, mistério, esforço e talento dos meus companheiros de mesa, Diogo Mainardi, Caio Blinder, Ricardo Amorim, Pedro Andrade, da editora executiva Angélica Vieira, da turma atrás das câmeras e de muita gente na direção da empresa.
 
Como tantas coisas em jornalismo e televisão, o programa nasceu por acaso, numa reunião com Luis Glaser e Letícia Muhana, na sede da Globosat, no Rio, em outubro de 92.
 
A dupla era responsável pelo recém-nascido canal GNT, cujas iniciais até hoje não sei bem o que significam. Será Globo News Television? O canal não tem news. Mistério.
 
Me pediam uma reportagem internacional por semana, de uns seis ou sete minutos. Na Nova York dos anos 90, pré-repórter abelha, cada equipe tinha repórter, produtor, editor, cinegrafista, assistente e, com frequência, motorista. Patota de seis. O minuto editado saía na base de US$ 1 mil, 7 minutos = US$ 28 mil por mês. Muito acima do orçamento.
 
Por que não um programa de estúdio? Minha sugestão tinha duas origens. Três ou quatro anos antes tinha tentado formar um programa de rádio com Paulo Francis e o jornalista Antônio Augusto, da Globo. Eu e Antônio Augusto daríamos duas notícias, o Francis comentaria. Houve até quem bancasse, mas o Antônio Augusto voltou para o Brasil, eu saí da Globo, a ideia murchou.
 
A outra fonte era o programa MacLaughlin Group que estava na TV por assinatura, comandado pelo posudo MacLaughlin com sua voz encorpada e um jeitão de Paulo Francis. Cinco pessoas em poltronas numa sala discutindo a semana de Washington. Em geral, começa com educação e voz baixa, mas termina, como Ronald Regan comentou, “numa versão política de Animal House”.
 
O programa, agora na rede aberta NBC, está fazendo 31 anos, mas não é o decano no gênero. Meet the Press, também ao domingo de manhã na NBC, tem 66 anos, é o programa mais antigo da TV americana em todos os gêneros.
 
Notícia é dos alimentos mais antigos nas rádios e televisões americanas. Este mês, a CBS comemorou a primeira transmissão ao vivo de um programa de rádio com Ed Murrow, narrando, de Viena, a invasão das tropas de Hitler e a entusiástica recepção dos austríacos. Ancorado de Washington, cinco jornalistas e políticos participavam ao vivo de diferentes cidades. Foi um primor, e modelo para programas semelhantes no futuro.
 
A primeira transmissão ao vivo pelo rádio não foi jornalística. Foi ópera do Lincoln Center, em 1910. Na primeira noite, dois atos de Tosca, na segunda, Pagliacci, com Caruso. Chegou a ser ouvido em Nova Jersey, do outro lado do rio Hudson. Eu achava que a BBC fosse a pioneira nestas transmissões, mas ela só entrou no ar no começo da década de 20.
 
Voltando ao nosso programa, que não saiu nada barato e foi batizado pelo Rio de Manhattan Connection, apesar dos nossos protestos. O Francis achava que lembrava French Connection, filme sobre drogas. Não entendemos nada de título e as queixas, além das nossas, foram raríssimas. Brasileiro gosta de falar inglês.
 
O nome que vendeu o programa foi o do Francis. A direção do GNT topou a ideia na hora. Depois vieram Caio Blinder, editor precoce que fazia doutorado em Indiana, e Nelson Motta, que estava à toa na vida em Nova York.
 
Durante a gravação do nosso único piloto, as Torres do Trade Center sofreram o primeiro atentado terrorista. Foi o tema dominante do primeiro programa, que segundo o Francis “era uma avacalhação que jamais ira ao ar”. Não foi a primeira, nem a última previsão errada do querido Francis, que quase matou o programa quando morreu, em 1997.
 
Ficamos um mês fora do ar, em choque e tristeza. Desta vez, quem disse que o programa estava morto fui eu. Levei uma bronca da direção que ressuscitou o Manhattan com oxigênio de vários convidados durante seis meses, até a entrada do Arnaldo Jabor.
 
Nosso segundo coma foi em 2002, quando o dólar, empurrado pelo medo da vitória do Lula, que parecia inevitável, encostou em 4 reais. Ficamos dois meses na UTI e saímos cortados até a carne, graças a iniciativas de publicitários que gostavam do programa e de diretores do GNT e da Globo.
 
Hoje, a Conexão conecta em mais de 100 países. Com o operário padrão Caio, que nunca faltou a uma gravação em 20 anos – eu faltei duas – Ricardo Amorim, Diogo Mainardi e Pedro Andrade, e a transferência para o canal Globonews, o programa triplicou a audiência e está entre os três primeiros do canal, com surpreendente participação de universitários pelas redes sociais.
 
No primeiro bloco, teremos o antropólogo Roberto da Mata, o primeiro convidado do programa e o brasileiro mais citado pelo New York Times. No terceiro, teremos cinco jovens de 20 anos que competiram com vídeos sobre o tema “por que devo fazer parte da bancada do MC”.
 
O autor da frase “porque vale a pena passar uma preciosa hora da sua vida assistindo a este programa” foi premiado com duas passagens para Nova York, hotel, almoço com a equipe e noite com o Pedro Andrade. Eu preferia porque vale a pena “perder sua hora”, mas fui voto vencido.
 
“O programa de maioridade”, como diz o Caio, é um programa para todas as idades. Nosso novo lema.
 
Maioridade é aos 18 ou 21? Para nós, é 20. Números e fatos são detalhes que não interferem com nossas absolutas certezas metafísicas.
 
Obrigado pela companhia, até domingo.
 
 

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