Vitória republicana não afeta o Brasil.

04/11/2010

A vitória dos republicanos nas eleições para a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos (EUA), equivalente à Câmara dos Deputados em Brasília, não deverá ter efeito sobre as relações
comerciais com o Brasil, mesmo com o fato de tradicionalmente o grupo ser mais liberal e defensor do livre comércio.
Com um déficit fiscal de 8,9% do PIB em 2010 e o estrangulamento do mercado de trabalho, com desemprego de 9,6%, o temor é que segmentos mais populistas dos chamados
cinturões americanos — seja de aço, milho ou outros setores — prevaleçam na defesa do protecionismo.
Para o economista André Sacconato, da Tendências, a situação comercial não mudará com o poder maior dos republicanos:
“Eles agora estão mais focados em problemas internos do que em ir atrás de uma potencial guerra comercial. O que deve apertar, e isso independe da eleição, é a pressão para a China valorizar suamoeda”.
Em última instância, isso pode beneficiar o Brasil. Ele acha que o governo chinês direcionaria o excesso de produção para o mercado interno.
“Com o iuane forte, poderíamos vender mais para eles. E nossas exportações de manufaturados ficariam mais competitivas”,
avalia.
Entre os produtos negociados mais importantes para o Brasil com os EUA estão etanol, carne “in natura” e açúcar. Recentemente, o Brasil venceu
uma velha disputa com o país na Organização Mundial do Comércio sobre o algodão. Ficou acertado que os EUA fariam concessões como um fundo de assistência temporário para o
setor brasileiro, mas ainda não houve desembolsos.
O diretor da Associação do Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, lembra que a “liberalização” dos republicanos é relativa. Mesmo durante a era Clinton o Brasil não notava um
endurecimento das negociações com os democratas. Para ele, a administração do presidente Obama está tomando decisões que em tempos normais não tomaria, ainda que democratas sejam
consideradosmenos liberais.
“O Obama está sendo protecionista porque, com a crise, ele está tentando criar um ambiente favorável à geração de empregos. Temos a China do
outro lado do mundo tomando o lugar dos EUA. Com a desorganização do dólar há a valorização de outras moedas e alguns veem isso como protecionismo”, exemplifica.
Mas, para Castro, parte da culpa pelo fato do Brasil não ter avançado em outros aspectos cabe ao governo brasileiro.
“Foram oito anos de brigas, sem missões comerciais do governo ao país. Lula e seus ministros foram para África, Europa e América Latina. Foi uma
opção ideológica”, diz.
Para ele, não houve substituição do mercado americano, mas perda: “A participação dos EUA em nossas exportações era de 25% e caiu para 10% (em 2009).
Perdemos, e a China agradece, ocupando o espaço do Brasil”.
Reportagem da CNN Money publicada no início da semana mostrou que amaior prova recente do estreitamento entre republicanos e democratas sobre comércio exterior foi o apoio de 99 republicanos auma decisão sustentada por 249 democratas, de endurecimento nas pressões sobre a China.
Há dúvidas sobre como membros do Tea Party, ala mais radical da direita, lidarão com a questão. Alguns criadores do movimento “Americanos para a prosperidade” apoiamo comércio
livre. Mas levantamento do Wall Street Journal e da NBC mostrou que 61% dos que se diziam simpáticos ao grupo acreditam que o acordo prejudica os EUA e 53% de todos os entrevistados
têmamesma visão.
“O Obama tem clareza que comprar uma guerra comercial aberta não é interesse de ninguém”, observa o economista Ricardo Amorim, da Ricam Consultoria.
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