Consultor Ricardo Amorim alerta para risco de calote e contágio na Europa.

 Itamaraty – Ministério das Relações Exteriores

12/09/2011

 Flávia Furlan e Priscila Dadona

 

 

Semana começa com mercados à espera de possível calote da Grécia

 

O ministro alemão, Philipp Roesler, diz que moratória ordenada do país deixou de ser tabu; em resposta, governo grego anuncia novas medidas econômicas, incluindo novo imposto.

 

A saída inesperada do economista- chefe do Banco Central Europeu (BCE), Jürgen Stark, reforçou a visão de investidores de que o calote grego pode estar cada vez mais próximo. Até o ministro de Economia da Alemanha, Philipp Roesler, admitiu ontem que uma moratória ordenada da Grécia não é mais tabu. “Para estabilizar o euro, não pode mais haver nenhum tabu. Isso inclui, se necessário, uma moratória ordenada da Grécia”.

 

Na sexta-feira, o euro caiu 2,04% contra o dólar, os principais índices acionários do mundo tiveram retração maior que 3% e o Credit Default Swap (CDS) da Grécia, título que equivale a um seguro contra calote de dívida soberana, ultrapassou 4.850 pontos, indicando probabilidade de 94% para o não pagamento, segundo a consultoria britânica CMA.

 

Horst Seehofer, presidente da União Social Cristã da Baviera, partido que faz parte da coalizão de centro direita da chanceler alemã, Angela Merkel, não descarta a possibilidade da Grécia ter de sair da zona do euro.

 

Em reação, o governo grego anunciou ontem novas medidas econômicas para enfrentar a crise da dívida, incluindo novo imposto sobre imóveis para arrecadar cerca de ¤ 2 bilhões. O primeiro-ministro, George Papandreou, afirmou que está determinado a manter seu país na zona do euro e criticou cenários de que a saída da Grécia do bloco não são graves. “Estes cenários não são sérios. Uma saída do euro criaria efeito dominó que levaria à dissolução da zona euro”.

 

Mas mesmo com os esforços do primeiro ministro e o comunicado do ministro de Finanças grego, Evangelos Venizelos, negando o calote, economistas acreditam que a possibilidade é grande. “O calote é possível. A gente sabe que a situação da Grécia é bastante delicada, que a economia está em forte recessão e que o governo tem de efetuar corte de gastos agressivos, com custo político elevadíssimo”, afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe da CM Capital Markets.

 

A piora de expectativas começou na quinta-feira, quando o governo grego divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB) do país caiu 7,3% no segundo trimestre frente ao mesmo período do ano passado.

 

Para os especialistas, enquanto a situação na Grécia e na Europa em geral ficar sem definição, a volatilidade nas bolsas vai continuar. “Elas sobem num dia e devolvem em outro, mas se o calote grego se materializar, vai criar pânico e, aí sim, a bolsa terá espaço para cair mais”, diz Marcelo Varejão, analista da Socopa Corretora.

 

“As bolsas de valores estão agindo como o deprimido. Ora pessimistas ora otimistas”, reforça Miguel Daoud, sócio da Global Financial Advisor, para quem o dólar deve continuar a subir e o Ibovespa não deve ultrapassar os 56 mil pontos.

 

Segundo Rostagno, o que traz insegurança aos investidores é o fato de testes de estresse realizados em bancos na Europa não terem contemplado um possível calote grego, já que essas instituições carregam títulos da dívida do país. “O mercado se vê no escuro. A ausência da contemplação deste cenário de calote no teste mostra que o impacto de um não pagamento da dívida será forte”, considera.

Um calote, segundo ele, demandaria uma ação rápida por parte do BCE para blindar os bancos—seja comprando os títulos gregos ou capitalizando as instituições financeiras. A justificativa para a saída de Stark, principal representante da Alemanha no BCE, foi justamente a discordância dele e do país que representa por uma possível compra de títulos, o que expõe uma leitura por parte do órgão de que isso pode ser necessário.

 

O economista Ricardo Amorim, diretor da Ricam Consultoria, já trabalha coma efetivação de default grego, inclusive com contágio a outros países como Espanha, Itália e Portugal. “A quebra da Grécia já está no preço, mas não deve ser a única. Se o contágio ocorrer, será um show de horrores”, avalia. Para ele, embora o setor bancário esteja mais preparado que na crise de 2008, a quebra de bancos expostos à dívida grega não está descartada.

 

Para Daoud, da Global, as opções para socorrer o país estão diminuindo, uma vez que a dívida já gira em torno de 160% do PIB. “Saída tem, mas é de longo prazo e as necessidades são de curtíssimo prazo.”

 

Sobre o impacto do calote sobre o Brasil, Rostagno explica que as instituições financeiras brasileiras, embora não carreguem títulos da dívida soberana grega, poderiam ser contagiados pela contração do mercado de crédito internacional. “Isso acaba afetando a captação de bancos e empresas lá fora”, afirma. Desta forma, o crescimento das companhias seria afetado, com impacto negativo na bolsa.

 

Já Álvaro Bandeira, diretor da Ativa Corretora, acredita que o calote da Grécia deve impactar o Brasil apenas se afetar um banco europeu de grande porte. À espera de desdobramentos, ele pondera ao investidor que o momento pode gerar ganhos extraordinários. “Nesta hora de maior temor é que se consegue montar posições para mais a frente e obter ganhos”, diz Bandeira, que indica compras progressivas.

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