Portal Itamaraty
22/11/11
Por Roberto Rockmann
Próximo ano pede cautela com o crédito.
Diante de um cenário externo complexo em que as economias dos Estados Unidos e da Europa caminham para uma recessão, o Brasil deverá registrar baixo crescimento em 2012 e, em alguns momentos do próximo ano, as empresas poderão assistir à baixa liquidez no mercado de crédito. Nesse contexto, micro, pequenas e médias empresas devem ser bastante cautelosas e não devem se endividar.
“O ano de 2012 deve ser reprise do que se viu em 2009, quando tivemos baixa expansão e podemos ver secura no mercado de crédito em alguns momentos”, afirmou o economista Ricardo Amorim, sócio da Ricam Consultoria, que destacou que o Congresso americano discute agora aumento de impostos e corte de gastos, uma receita recessiva.
“Os Estados Unidos e a Europa caminham pra recessão, o que deve fazer o dólar sofrer”, disse. A cautela, no entanto, poderá ser abandonada gradualmente, porque, em 2013 e 2014, a economia brasileira deve acelerar o ritmo, impulsionada pela realização da Copa do Mundo de Futebol e pelas eleições. “Se o pequeno empresário for cauteloso em 2012, poderá se aproveitar da bonança que virá nos próximos anos”, analisou Amorim.
Se o cenário de curto prazo traz receios, no médio e longo prazo as pequenas e médias empresas devem viver tempos auspiciosos. “Mesmo se o Brasil não resolver seus problemas, pode repetir o crescimento anual de 4,9% dos últimos oito anos ao longo dessa década. Nesse contexto, as pequenas e médias empresas deverão passar por um forte crescimento, podendo ter expansão superior às grandes companhias”, disse.
Para Amorim, o cenário de crédito no médio e longo prazo será mais abundante nessa década, com oferta de mais recursos e queda dos juros, o que destravará o principal problema das empresas: o financiamento. Isso ocorrerá porque o retorno financeiro do mercado brasileiro será bem superior ao de outros países, o que deverá trazer mais dinheiro para cá.
Em paralelo, a ascensão social continuará ampliando o mercado consumidor, que ganhou mais de 50 milhões de pessoas nos últimos dez anos. E esse poder será ampliado por outro segmento: o agronegócio. Segundo maior exportador de bens agrícolas do mundo, o Brasil deverá continuar reforçando seu papel de liderança nesse segmento durante essa década, o que favorecerá a renda agrícola, tendo efeitos no consumo das cidades no interior do país.
Isso ocorrerá simultaneamente ao movimento de desconcentração do crescimento regional: Nordeste e Norte devem liderar a expansão do consumo, enquanto o Sudeste e o Sul devem crescer em ritmo menos veloz. “Haverá muitas oportunidades para as pequenas e médias empresas no interior do país e nas cidades médias, portanto esse é um público consumidor que não poderá ser menosprezado.”
Diante desse cenário, a taxa de sobrevivência das empresas deverá continuar melhorando. Segundo o mais recente estudo do Sebrae sobre o tema, lançado esse mês, a taxa evoluiu de 71,9%, com base nas empresas que abriram suas portas em 2005, para 73,1%, referente aos empreendimentos abertos em 2006, período de início do Supersimples, que trouxe vantagens tributárias para as micro e pequenas empresas. “Com certeza, esses dados deverão melhorar com as perspectivas positivas e o crescimento futuro.”
Para ele, o mundo hoje passa pela maior transformação social, econômica e política dos últimos 100 anos: a ascensão de Brasil, Rússia, Índia e China – turbinados pelo crescimento de suas classes médias emergentes – e a queda das nações mais ricas. Para evitar uma grande depressão econômica, como a vista na década de 1930, os países desenvolvidos, liderados por Estados Unidos e União Europeia, socorreram empresas privadas e o setor financeiro. Resultado: a dívida líquida desses países explodiu, o que faz com que a saída da crise seja dolorosa nessas economias. “O ajuste nessas economias desenvolvidas será feito com menos crescimento, venda de ativos pela privatização, desvalorização da moeda e queda do custo de produção nesses países via recessão”, afirmou Amorim.
Enquanto as economias desenvolvidas passarão por graves turbulências, os países emergentes vão ganhar espaço. “Nos últimos cinco anos, 80% do lucro das empresas no mundo veio dos emergentes”, destacou. A taxa de desemprego nos emergentes está em 4,6%, segundo suas estimativas. Já nos desenvolvidos ela chega a 8,7%. “Isso cria uma fuga de cérebros para o mundo emergente”, afirmou. Em dez anos, a economia americana perdeu um milhão de empregos, enquanto o Brasil criou 17 milhões. Um quarto dos americanos abaixo de 25 anos não têm lugar para trabalhar, enquanto os aposentados lá ganham 30% menos do que ganhavam há três anos. “O crescimento estará nos emergentes”, afirmou ele.
O país se tornou um mercado muito relevante para montadoras, fabricantes de eletroeletrônicos, bens de consumo, bancos – um cenário que irá persistir e trará dinheiro. “O Brasil tem uma infraestrutura ruim, mas até o fim da década será muito boa, porque choverá dinheiro para resolver esses problemas”, analisou. O cenário externo sopra bons ventos para a economia nacional. Cerca de 50% dos chineses e 60% dos indianos ainda moram no campo. A migração deles da zona rural para as cidades aumentará a demanda por matérias-primas, como minério de ferro, petróleo e alimentos, o que deverá impulsionar a economia brasileira, que tem a maior área disponível agriculturável, liderança em bioenergia e as reservas de pré-sal. “O Brasil tem uma janela de oportunidades que poderá durar décadas e, com a ascensão dos emergentes, abrem-se muitas perspectivas para as pequenas empresas”, afirmou.