11/2014
Época Negócios
Por Barbara Bigarelli
RICARDO AMORIM: “NÃO VAI ESTOURAR BOLHA IMOBILIÁRIA NO BRASIL NOS PRÓXIMOS ANOS”
ECONOMISTA DEFENDE QUE PAÍS NÃO FIGURA ENTRE AQUELES COM IMÓVEIS MAIS CAROS E QUE UM ESTOURO DE BOLHA IMOBILIÁRIA, QUE PREJUDICARIA TODA A ECONOMIA, NÃO É UM RISCO NO MOMENTO
Com preços de imóveis às alturas, lançamentos parados e um certo freio no setor, há quem defenda que o Brasil está prestes a enfrentar o estouro de uma bolha imobiliária. Não é, no entanto, o que pensa o economista Ricardo Amorim. Durante palestra realizada no HSM Management, evento de gestão realizado hoje (03/11) em São Paulo, Amorim defendeu que, apesar do preço dos imóveis estar alto, o setor não vive uma crise, pelo menos não do ponto de vista de quem quer comprar um imóvel. “Eu estudei 509 cidades de 123 países, sendo 12 brasileiras. O Brasil é só o 48º país mais caro quando se considera o preço em relação `a capacidade de pagamento da população. Os imóveis aqui estão mais baratos que a média dos países emergentes. Na Nova Guiné, o preço é cinco vezes maior. Em Cuba ou El Salvador, duas a quatro vezes maior.”, afirmou.
O economista também argumenta que o setor imobiliário brasileiro ainda está muito longe de representar um risco para a economia do país por conta de um excesso de oferta generalizado de imóveis causando um estouro de bolha imobiliária. “No ano passado, vendemos 200 mil imóveis. Os Estados Unidos, nos tempos de auge do setor, vendiam mais de 2 milhões. Já a China vendeu, no ano passado, 22 milhões”. Em 2013, foram construídos no país cerca de 400 mil imóveis novos – para 750 mil casamentos e 250 mil divórcios realizados. “Nenhuma bolha imobiliária estourou no planeta de 19oo para cá com menos de 50% de PIB de crédito imobiliário. O Brasil tem 8% apenas”.
Para Amorim, o medo da bolha existe principalmente por um fator: na comparação histórica, o imóvel hoje custa até dez vezes ou mais do que o preço que tinha há dez anos. “Comprar em São Paulo está mais caro que um apartamento em Miami. Mas isso não quer dizer que o preço de imóveis no Brasil está caríssimo. Na realidade, significa que ele está baixíssimo nos EUA”. Ele cita estudos realizados por sua consultoria, a Ricam Consultoria, para mostrar que o preço lá atrás era decorrente da baixa demanda pela virtual inexistência de financiamento imobiliário, o que limitava as compras somente àqueles que podiam realizar o pagamento à vista. “Há dez anos, poucas pessoas compravam imóvel – e pagavam, na maioria, à vista. A procura era baixíssima e o preço estava completamente fora de qualquer comparação internacional”, diz.
Nas comparações com Miami e outros locais dos Estados Unidos, o economista afirma que é preciso considerar que o preço dos imóveis lá estão hoje nos menores patamares de toda a história do setor no país, fator decorrente da crise de 2008. Segundo ele, em alguns lugares da Flórida, por exemplo, chegam a sair por 60% a menos do que custavam no final de 2007. O crescimento do preço no Brasil seguiria o que ocorre nos países emergentes, que tiveram maior acesso ao crédito na última década e, assim, mais financiamento e mais vendas.
A ameaça difundida e preconizada da bolha, explica, só aumenta o receio de quem quer comprar ou vender. “Quem não ouviu que uma bolha iria estourar depois da Copa? As pessoas ficam com medo e seguram. Não compram”. Para Amorim, o setor padece, neste momento, do mesmo que falta a outros setores: confiança. “Ninguém troca de casa ou de carro quando está preocupado com o futuro. O que vai fazer a virada é passar o medo. Enquanto o medo reina, ninguém investe, ninguém consome”.