05/2016
Por Carlos Eduardo Valim
O economista Ricardo Amorim sentiu a necessidade de explicar o momento econômico e que a crise não significa o fim do mundo. O resultado foi o livro Depois da Tempestade (Editora Prata), que será lançado na terça-feira 17, tratando dos cenários pós-governo Dilma Rousseff. Para ele, um novo ciclo de crescimento está próximo e duas das causas da crise estão quase solucionadas: as contas externas e a inflação. Cabe ao novo governo sinalizar que as contas públicas ficarão sob controle.
Por que o sr. decidiu escrever o livro?
A motivação inicial é que, mais do que um momento de pessimismo, vivemos um clima de derrotismo. É da natureza humana achar que quando algo está mal, ficará assim ad eternum. Mas tanto a vida como a economia são cíclicas. A recuperação é mais fácil do que pensamos. Não temos problemas intratáveis.
O que falta para sairmos da crise?
O necessário para sair da crise conjuntural é diferente do que precisamos fazer para aumentar o potencial de crescimento de longo prazo. Temos um País com uma legislação trabalhista falha, muita corrupção e falta de infraestrutura. Isso não permite que o Brasil cresça rapidamente, mas não explica a crise atual.
O que explica?
Foram gerados grandes grupos de desequilíbrios macroeconômicos nas contas externas, na inflação e nas contas públicas. As contas externas se deterioraram porque, desde o governo Lula, o consumo foi incentivado, mas não a produção. Assim, houve um aumento de custos para produzir e cresceu a importação e a inflação. Esses dois grandes desequilíbrios já estão sendo resolvidos, com a megadesvalorização do real melhorando a balança comercial e a recessão tornando impossível o aumento dos preços.
Falta, então, só solucionar as contas públicas?
Se, com a mudança política, houver cortes de gastos, vai gerar confiança no empresário. E ele vai voltar a investir. A Dilma não conseguiu fazer essa virada porque concentrou o ajuste em impostos, e cortou menos gastos do que deveria.
O fim da crise está próximo?
A virada da economia está muito mais próxima do que as pessoas imaginam. Já vamos sentir os sinais no segundo semestre deste ano. E, quando a recuperação vier, vai ser muito mais forte do que o esperado.
Mas sair da crise resolve as questões essenciais para o futuro?
Temos de mudar a legislação, melhorar a infraestrutura, fazer a reforma tributária e trabalhista. Teremos um futuro melhor do que imaginamos, mas parte dele vai depender do que cada um de nós fizermos. Caso contrário, os políticos serão os únicos a se beneficiar disso tudo.
Qual deve ser a prioridade número 1 para o governo Michel Temer?
Na largada, ele precisa tirar as dúvidas sobre a capacidade do governo em pagar a dívida pública. Todas as medidas do governo Dilma foram voltadas ao curto prazo. Temos de sair da discussão do déficit deste ano e mostrar um horizonte crível de pagamentos. Seria importante uma reforma da Previdência. O Brasil tem de ter uma única regra previdenciária, para o funcionalismo público e para o INSS. Nada justifica que alguns brasileiros sejam cidadãos de primeira classe.
Qual deve ser a participação do empresariado nesse momento?
Ele precisa mudar de mentalidade e aceitar a competição. O discurso do empresário é “quero que o governo encolha, mas não na parte que me toca”. Uma série de medidas protecionistas do governo para limitar a competição tornou as empresas mais fortes no curto prazo, mas levou a menos competitividade.
Isso está ficando claro para eles?
Muitas das medidas que deram errado no governo Dilma foram aplaudidas pelos empresários, na época. Mas ficou claro o custo desse tipo de coisa. Os empresários que mais se beneficiaram estão agora passando por mais problemas, dos financeiros aos criminais.
Como as empresas estrangeiras enxergam o Brasil?
Há um interesse muito grande de investir. As empresas estão com o dedo no gatilho, mas não o puxaram ainda, porque não podem justificar, aos seus conselhos de administração, o investirmento no meio de tanta bagunça.
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