12/2015
Ao menos a economia, 2016 pode ser um ano não tão ruim quanto a maioria teme e, quase com certeza, os anos seguintes serão melhores, talvez muito melhores. Essa afirmação de Ricardo Amorim – presidente da RICAM Consultoria e eleito pela revista Forbes como o economista mais influente do Brasil – pode causar surpresa, mas reflete os resultados que serão percebidos graças às mudanças radicais das políticas econômicas, que, mesmo “aos trancos e barrancos, estão curando a doença. O problema é que, inicialmente, o paciente – a economia brasileira – sofre com a doença que ainda não foi curada e com os efeitos colaterais da própria quimioterapia econômica”.
Analisando dados históricos e a realidade, Amorim confia na virada do jogo ainda ao longo de 2016 e faz uma provocação: Você e sua empresa estão prontos para as surpresas que vêm por aí?
Listando os problemas atuais, com ênfase na guerra política, no enorme déficit fiscal, nos investimentos produtivos que secam e no desemprego, que não para de subir e, em breve, deve atingir os dois dígitos, o dobro do que era há um ano, o economista — que também é tido como o brasileiro mais influente no Linkedin — frisa que, “em tese, esta tendência de deterioração econômica poderia permanecer inalterada por mais três anos, até as eleições de 2018, mas minha impressão é que muito antes disso — provavelmente ainda em 2016 — o tecido socioeconômico brasileiro se esgarçaria a tal ponto que conflitos cada vez mais graves emergiriam, tornando insustentável o já instável equilíbrio político”.
Nesse cenário, duas outras possibilidades lhe parecem mais prováveis. “A primeira é a pizza. O Executivo e o Legislativo chegariam a algum acordo que garantisse o ajuste fiscal em troca de algum tipo de ‘imunidade’ aos investigados nos escândalos de corrupção tanto do Executivo quanto do Legislativo, incluindo membros do governo e da oposição. O custo para o país de não apenas perder a oportunidade de acabar com a cultura de aceitação de corrupção, mas ainda reforçá-la, seria altíssimo a médio e longo prazos”, afirma, sinalizando com a possibilidade de, mesmo assim, a curto prazo, essa possibilidade destrava a economia, “permitindo que, pela primeira vez desde 2011, as perspectivas de crescimento para os anos seguintes fossem melhores do que nos anos anteriores”.
Amorim, contudo, entendendo ser esta a opção menos provável — “ela só seria possível se o Judiciário, que tem-se mantido razoavelmente insulado das pressões políticas, fosse controlado ou cooptado” — apresenta a segunda alternativa: “a crise atual continua e se agrava ao longo do inicio do ano que vem, com alta na taxa de desemprego e uma queda ainda maior na popularidade e na redução da base de apoio político da Presidente, tornando sua sustentação no cargo impossível. Neste passado, quando houve contração significativa do PIB, a economia foi seguida de um crescimento muito acelerado nos anos seguintes. Neste caso, um novo presidente – tanto no caso do vice-presidente Michel Temer assumir, quanto no caso de novas eleições acontecerem – provavelmente teria uma base política mais sólida, o que criaria condições para finalizar o ajuste fiscal, retomar a confiança e o crescimento”.
Portanto, ainda que com timig, ritmo de recuperação e consequências de médio e longo prazos bastante distintos nos dois casos, para Amorim é provável que “em algum momento de 2016 ou, na pior das hipóteses, ao longo de 2017, a economia brasileira inicie um processo de recuperação. É ainda mais provável que, uma vez iniciada, a recuperação seja muito mais vigorosa do que atualmente projetada pela maioria dos economistas e empresas”.
O desempenho econõmio brasileiro no triênio 2014-1016 – com uma média esperada de contração do PIB de 1,6% ao ano – será o segundo pior dos últimos 115 anos. Acompanhando as tendências históricas, o economista do programa Manhattan Connection confia que da mesma forma que ocorreu no passado, quando houve contração significativa do PIB, a economia foi seguida de um crescimento muito acelerado nos anos seguintes.
“Quase ninguém espera isso desta vez”, constata, citando as projeções trimestrais para o PIB da maioria dos analistas, que indicam “PIB em queda ate o primeiro trimestre do ano de 2016, seguido de estagnação por quase dois anos depois disso. A história económica brasileira e internacional sugere que a queda do PIB nos próximos trimestres pode ser ate ser mais intensa e durar mais do que hoje projetam os analistas’. No entanto, confia que, “uma vez resolvidos o buraco fiscal e a crise política e retomada a confiança na economia brasileira, a recuperação, quando acontecer, deve ser muito mais forte do que a projetada hoje”.
E suas previsões são positivas também quando afirma que, “como no período anterior ao início do governo Dilma, ao menos por alguns anos, as surpresas econômicas devem voltar a ser positivas e o crescimento deve acelerar-se, ao invés de desacelerar-se”.
“Eu não sou o único vendo que as expectativas econômicas de longo prazo e, por consequência os preços dos ativos no Brasil, tornaram-se excessivamente pessimistas”, frisa Amorim, lembrando a necessidade de manter-se atento para aproveitar as oportunidades de negócios que estas surpresas positivas trarão. Como exemplo, cita três concretizações significativas realizadas no final de novembro de 2015, que envolvem incorporações bilionárias de empresas brasileiras por empresas estrangeiras: no setor de cosméticos, a francesa Coty comprou parte das operações da Hypermarcas; no setor de comunicação, a americana Omnicom comprou o Grupo ABC; e na aviação, os chineses da HNA compraram a Azul.
Mudando as lentes e olhando com o necessário distanciamento, as expectativas sinalizadas por Amorim podem concretizar-se, e aí o desafio feito por ele ganha outra dimensão, exigindo que todos se organizem para reverter os prognósticos e responder ao questionamento com um sonoro “sim, eu e minha empresa estamos prontos para as surpresas que vêm por aí”.