20.09.11
Por Ricardo Pereira
Compreender bem as transformações econômicas vividas por nosso país é um desafio tanto para nossas autoridades, quanto para nossos cidadãos. Interpretar os acontecimentos e, com base neles, tomar a melhor decisão não é tarefa simples. Por isso, insistimos sempre na questão do aprendizado e busca de conhecimento, fator essencial para elevar o nível do debate e criar, como consequência, um ambiente mais agradável para as importantes discussões que os temas “dinheiro”, “finanças pessoais” e “economia” merecem.
Sempre acreditamos que a opinião de qualidade é a diferença que realmente enriquece e faz refletir. Nesta semana, tivemos a honra de entrevistar e conversar com Ricardo Amorim, Economista formado pela Universidade de São Paulo e pós-graduado pela ESSEC (Paris). Ele foi um dos poucos que anteciparam a crise elétrica brasileira de 2001, a crise imobiliária americana de 2008, a crise européia de 2010 e suas consequências.
Em 2009, após quase vinte anos de carreira no mercado financeiro internacional – atuando nos EUA, Europa e Brasil – Ricardo montou sua empresa, a Ricam Consultoria, que presta assessoria econômico-financeira, de investimentos e de estratégia para clientes no Brasil e no exterior. Além disso, é colunista da Revista IstoÉ e, desde 2003, um dos apresentadores do programa “Manhattan Connection” do canal Globonews.
Veja o que ele tem a dizer:
1. Nos últimos 20 anos o mundo mudou muito. Estados Unidos e Europa que até então ditavam as regras agora atravessam um período de muita dificuldade. Em sua opinião, olhando para o futuro e analisando o atual cenário, podemos afirmar que países como Brasil e principalmente China estarão no comando das ações econômicas mundiais?
R.A – China, Índia, Brasil e Rússia já estão no comando das ações mundiais, sabendo disso ou não. Isto não significa que substituiram ou substituirão EUA, Europa e Japão, mas que se juntaram a eles neste comando, o que não acontecia antes.
2. Acompanhando seu trabalho, percebemos que você é mais pessimista quanto aos problemas europeus. Indo direto ao ponto, em sua opinião a União Européia corre risco real de se esfacelar?
R.A – É muito improvável que a União Europeia deixe de existir nos próximos anos, mas chegou o momento dela decidir se está disposta a se integrar ainda mais. Se não estiver, o risco de esfacelamento no longo prazo é bastante real. Recentemente, escrevi um artigo exatamente sobre este tema. Clique e leia.
3. Na última reunião do COPOM se optou por um caminho de queda de juros, boa parte dos diretores entendeu que a inflação não é mais o grande perigo para nossa economia, pelo menos nesse momento. Em sua opinião a medida foi correta, ou realmente existiu uma decisão política com interferência da Presidente Dilma na decisão?
R.A – Se houve interferência política ou não só o tempo dirá, mas foi uma decisão bastante corajosa. Em quase 20 anos analisando decisões de bancos centrais em todo o mundo é a primeira vez que vejo um Banco Central antecipar-se a um evento econômico ao invés de reagir ao fato consumado. A decisão do BC foi uma aposta de que a crise europeia e seu contágio sobre o Brasil vão piorar muito e logo. Se acontecer, o que eu acho bastante provável, terá sido uma tacada de mestre. Caso contrário, a inflação continuará subindo e o BC terá de reverter sua decisão.
4. Um dos desafios de noticiar e discutir economia é abordá-la “sem economês”, algo que você faz com muita autoridade. Infelizmente, ainda parece que os mais jovens não se interessam tanto pelo tema. Então, como tornar o assunto mais interessante?
R.A – Tornando-o palpável e próximo da realidade de cada um, ao invés de algo distante e emaranhado em termos técnicos. Uma coisa é dizer: “há um grande risco de default soberano na Grécia”, outra é dizer “se a Grécia der calote, você não vai poder trocar de carro porque faltará financiamento.”
5. Outro aspecto importante do debate econômico é a interpretação dos fatos e sua relação com a vida da população e seu dia a dia. Se há o que melhorar na forma como a informação é apresentada, talvez haja espaço para também ensinar alguma coisa através da educação financeira. Vamos mal neste sentido? Por onde começar e o que melhorar?
R.A – Entendendo que educação financeira pode melhorar muito a vida das pessoas. Não adianta nada trabalhar feito um escravo e não saber investir. A vida só faz sentido se for aproveitada e um bom planejamento financeiro ajuda a tornar isto possível. Tenho tentado ajudar, realizando palestras sobre educação financeira. Pelo feedback que tenho tido,parece estar funcionando.
6. Com uma economia mais previsível, estável e uma moeda forte, é claro que melhoramos em relação ao passado. Males como a corrupção, a gestão ineficiente de recursos e a política do benefício próprio, no entanto, deixam alguns jovens desanimados. Qual sua visão sobre o futuro econômico e político do Brasil?
R.A – O copo sempre estará meio cheio e meio vazio. A boa notícia é que estamos enchendo o copo. Nos últimos 8 anos, apesar dos muitos problemas que ainda existem, o crescimento do PIB brasileiro foi, em média, o dobro dos 25 anos anteriores. A má notícia é que a melhora do desempenho econômico reduziu a pressão política por reformas que permitiriam que o Brasil crescesse ainda mais, como a reforma da previdência do setor público e a reforma tributária.
7. Ricardo, muito obrigado pela disponibilidade. Torcemos que continue essa trajetória de sucesso. Pedimos que deixe uma mensagem final para nossos leitores.
R.A – O mundo e o Brasil estão passando pelas transformações mais profundas de muitas décadas. Compreendê-las permite que tomemos decisões corretas para aproveitar oportunidades e reduzir riscos. Boa informação e análise são hoje mais importantes do que nunca. Tento contribuir um pouquinho. Confira clicando aqui , julgue você mesmo e deixe seu feedback.