Entrevista do consultor financeiro Ricardo Amorim à revista Combustíveis e Conveniência sobre perspectivas para o setor.

Revista Combustíveis e Conveniência

Ed. Setembro/2011

 

 

Como a crise externa vai afetar o Brasil?

De duas formas. Inicialmente, via contração na oferta de crédito, pois os bancos dos países ricos vão perder muito dinheiro lá e terão menos capital para emprestar para todo o mundo, inclusive para empresas e bancos brasileiros. O segundo aspecto vai ser uma queda nas nossas exportações: tanto na quantidade de produtos que vendemos , como no preço das commodities (artigo negociado em bolsa internacional, como açúcar, soja e petróleo). Esses dois fatores vão fazer com que parte do que era produzido no Brasil, e exportado, seja vendido dentro do próprio país. Como consequência, a inflação que vinha, e vem, em alta, vai cair. E a inflação em baixa, junto com a queda de crédito, abre espaço para o Banco Central retomar o processo de redução de juros no Brasil. Imagino algo muito parecido com 2008. Vamos ter mais ou menos uns dois trimestres difíceis, quando efetivamente ocorrer o ápice da crise lá fora e um calote na Europa. Mas o Brasil, assim como em 2008, vai sentir muito menos do que os países ricos. A crise aqui vai ser menos profunda e menos duradoura.

 

Como isso irá impactar os postos?

O estouro dessa crise vai afetar, inicialmente de forma significativa, a venda de automóveis no Brasil. Porque o crédito, que vai diminuir, é muito importante para as vendas de veículos. O crédito seca e as pessoas ficam com mais medo, sem saber se a crise vai ser duradoura, se talvez devam postergar uma compra. E isso reduz o crescimento do setor de postos e lojas de conveniência. Um segundo aspecto, que pode ter um impacto também importante, é que o preço dos combustíveis provavelmente vai cair junto com esse movimento de redução do preço internacional das commodities, mais particularmente do petróleo.

 

Como os donos de postos podem se preparar para esse cenário?

No curto prazo, o mais importante é não se endividar. Porque é provável que o ritmo de crescimento de vendas e de resultados que a gente viu em 2010, e mesmo em 2011, não vai se sustentar ao longo do ano que vem. E, no auge da crise, devem aparecer ótimos negócios de expansão. Muita gente vai estar bastante endividada e com dificuldade, então provavelmente haverá chance de compra de postos e de lojas de conveniência a preços muito baratos. Só que as perspectivas de longo prazo para o setor são muito favoráveis. Então, é aproveitar os problemas de curto prazo e transformá-los em oportunidades.

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