Entrevista de Ricardo Amorim ao Brasil Econômico: Preço do petróleo ainda deve cair mais.

Jornal Brasil Econômico
06/2012
Por Flávia Furlan

 
Petróleo recua ao preço de 2011 e recorde de queda é esperado Analista da Moody´s vê petróleo WTI, negociado em Nova York, encerrar o ano entre US$ 85 e US$ 90 Movimento alivia a pressão inflacionária global, o que colabora com juros menores e a volta do crescimento.
 
O preço do petróleo travou um movimento de queda que levou o barril brent — negociado na bolsa de Londres e extraído no Mar do Norte e no Oriente Médio — a fechar nos últimos três dias em torno de US$ 98, patamar identificado pela última vez em janeiro de 2011. O movimento alivia as pressões inflacionárias globais, o que ajuda na manutenção dos juros baixos na esperança de estimular a recuperação econômica.
 
Apesar do ganho de 1,16% ontem, o petróleo brent teve desvalorização de 7,6% de janeiro até ontem, quando fechou a US$ 98,97. O West Texas Intermediate (WTI)comercializado na Bolsa de Nova York e produzido na região do Golfo do México — subiu 1,06% ontem, mas caiu 14,9% no ano, para US$84,17. Só nos Estados Unidos, o estoque do produto está no maior nível em 22 anos (384,74 milhões de barris).
 
“A queda no preço do petróleo ajuda a reduzir e inflação onde não tem preços regulados, ao contrário do Brasil”, pondera o economista Ricardo Amorim.
No ano passado, os conflitos políticos conhecidos como a Primavera Árabe, ocorridos no Oriente Médio e no Norte da África, fizeram com que o preço do petróleo se elevasse para algo acima de US$ 100 para os dois tipos de óleo.
 
O receio era com uma queda da produção na região, que reduziria a oferta. Passado este período, começou uma pressão para baixo da cotação do óleo pela expectativa de uma demanda menor causada pela desaceleração da economia mundial.
 
De acordo com o economista da Moody’s Analytics, Alfredo Coutiño, a deterioração do ambiente econômico internacional tem causado a queda dos preços, mais especificamente os problemas fiscais na Zonado Euro, os sinais de fraqueza da economia americana e a desaceleração chinesa.
“Dada uma recuperação fraca da economia global, o preço da commodity vai continuar a se ajustar para baixo durante este ano, fechando entre US$ 85 e US$ 90 no caso da WTI”, estima o analista.
 
Amorim vai além e diz que também a cotação do dólar tem influência no preço do petróleo.“Quando o dólar se valoriza no mundo, o preço das commodities tende a cair”, pondera. Neste ano, frente ao real, a moeda americana apresentou valorização de 9,83%, e fechou ontem cotada a R$ 2,05.
 
Outro motivo apontado por ele é a desalavancagem de posições que apostam em alta do preço do barril do petróleo no mercado futuro.
Ele explica que o cenário estrutural aponta para uma alta do preço do óleo, devido à explosão de demanda trazida pelos países emergentes, em especial a China, mas a piora da crise europeia levou os investidores a zerarem essas posições, o que tende a pressionar para baixo as cotações.
 
Para ilustrar, o barril do petróleo WTI estava cotado a US$104,71 nos contratos futuros com vencimento em dezembro de 2012 que eram comercializados em fevereiro deste ano em Nova York.
Os mesmos contratos negociados ontem traziam um valor para o óleo de US$ 85,51.“Os preços ainda vão cair e não vou ficar surpreso se for mais de 40% neste ano, pela piora na crise da Europa”, diz o economista.
 
Amorim acredita que a recuperação do preço do petróleo deve vir ainda neste ano, uma vez que o cenário estrutural continua intacto e ele aponta para alta do óleo. O que vemos agora, segundo o economista, é uma repetição do período de 2008 e 2009. “No auge da crise, o dólar despencou e, quando tranquilizou, o preço voltou a subir.”
 
O analista econômico da Austin Rating, Rafael Leão, acredita que os preços do petróleo devem ficar em baixa até o final do ano pelas incertezas em relação à atividade econômica mundial.
“Conforme isso vai saindo do radar dos agentes, o preço tende a voltar a subir”, diz ele, que não faz projeções de preços.
 
Já o analista-chefe da Coinvalores, Marco Aurélio Barbosa, acredita que a cotação do petróleo deve fechar 2012 em um patamar menor do que o previsto no início do ano.
Isso tendo em vista os fatores que são passíveis de análise, já que o preço do petróleo sofre influência de conflitos geopolíticos em uma das zonas de produção, o Oriente Médio, difíceis de prever.“Esses conflitos são uma caixa de surpresas”, destaca.
 
Empresas do setor em queda na bolsa de valores
Cenário de aversão a risco mais petróleo desvalorizado prejudicam companhias.
 
O ano de 2012 tem sido de desvalorização para as ações das empresas relacionadas ao setor de petróleo presentes na bolsa de valores brasileira.
A HRT, empresa de exploração e produção de óleo e gás natural, foi a companhia que apresentou maior queda entre as cinco ligadas à commodity na BM&FBovespa: de 52,02% desde janeiro até ontem.
 
Logo em seguida está a concorrente Queiroz Galvão, com desvalorização de 48,42% no período avaliado.
A OGX, do grupo EBX, do empresário Eike Batista, caiu no período 28,05%, mas segundo analistas há um certo exagero na desvalorização dos papéis, embora ainda haja queda do preço do petróleo que prejudica a rentabilidade da companhia.
 
A Petrobras, gigante do setor e que é tida como a que mais atrai investidores estrangeiros, sofreu queda de 11,13% entre janeiro e ontem, nos papéis ordinários, enquanto as ações preferenciais apresentaram desvalorização de 8,87%.
 
A Lupatech, por sua vez, foi a companhia a apresentar desvalorização menor, de apenas 0,82% no período, no entanto os papéis já estão pressionados, uma vez que apresentaram queda de 76,92% apresentado no ano passado.
 
Explicações
 
Os motivos para o movimento de queda generalizada vão do cenário de aversão ao risco — o que afugenta os investidores da BM&FBovespa e prejudica o mercado acionário como um todo — à desvalorização da commodity e também à execução de projetos por parte das companhias.
“Os investidores estão olhando para ativos mais seguros e mais líquidos, como títulos dos governos americano e alemães, em vez de investimentos ligados a commodities”, afirma o economista da Moody´s Analytics, Alfredo Coutiño.
 
Dados divulgados pela BM&FBovespa ontem revelam que, em maio, os investidores estrangeiros tiraram R$ 2,3 bilhões da bolsa de valores brasileira.
O economista Ricardo Amorim, por sua vez, afirma que não é somente a queda do petróleo que causa a desvalorização das ações das companhias do setor na bolsa, mas o cenário de aversão a riscos.
“Acredito ainda que a bolsa vá cair muito forte neste ano, para recuperar somente no próximo”, afirma.
Ele compara com o que ocorreu na crise financeira de 2008, quando a bolsa brasileira desvalorizou 50% entre o pico e a mínima (a maior e a menor pontuação do Ibovespa), mas recuperou 100% no ano seguinte.
 

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