Entrevista do consultor financeiro Ricardo Amorim sobre as consequências do 11 de setembro.

Jornal O Povo – Fortaleza

11/11/2011

Por Bruno Cabral

 

Às portas de uma recessão

Atentados de 2001 também contribuíram para a crise econômica que os eua lutam para superar desde 2008

 

Metidos em duas guerras e em meio a uma crise fiscal sem precedentes, os americanos podem estar num beco sem saída. Com o aumento dos gastos em segurança aliado ao corte de impostos para estimular a economia, os Estados Unidos podem estar na iminência de entrar em recessão novamente. Estima-se que as guerras no Afeganistão e no Iraque tenham custado aos cofres americanos, até agora, algo em torno de 1,3 trilhão de dólares, o que representa quase 10% da dívida pública americana, que hoje ultrapassa 14 bilhões de dólares.

 

O economista Ricardo Amorim, presidente da Ricam Consultoria e comentarista do programa Manhattan Connection da Globo News, diz que os atentados de 11 de setembro não causaram a crise de 2008 (que culminou no estouro da bolha imobiliária e na quebra do banco Lehman Brothers), mas ajudaram a agravá-la. “Os atentados contribuíram para algo que já estava acontecendo. Em 2001, a economia dos Estados Unidos já estava entrando em recessão, com o estouro da Nasdaq (bolsa de valores de empresas de alta tecnologia, em 2000). E a preocupação causada pelo 11 de setembro fez com que as pessoas gastassem ainda menos (do que vinham gastando por conta do estouro da bolha)”.

 

Após o 11 de setembro, houve um deslocamento das prioridades americanas, e uma maior introspecção do país, disse Roberto Abdenur, embaixador brasileiro nos Estados Unidos de 2004 a 2006. Para Abdenur, os ataques de 11 de setembro e a crise financeira de 2008 são os fatos marcantes deste início de século, mas “a crise econômica é muito séria e ainda vai durar algum tempo”.

 

Segundo Ricardo Amorim, foi justamente essa introspecção do governo americano em resposta aos ataques, buscando estimular a economia, que contribuiu para o agravamento da crise financeira de 2008. “Os Estados Unidos adotaram medidas para facilitar os financiamentos imobiliários, o que acabou gerando a bolha que estourou em 2008. Era financiamento com juro zero. E os juros baixos mais financiamentos facilitados geraram o endividamento”.

 

Nota baixa

Quanto aos gastos militares nas guerras do Afeganistão e Iraque, e em segurança interna, eles não têm relação com a crise de 2008, diz Ricardo. Mas contribuíram para o aumento da dívida pública americana gerando dúvida nos mercados sobre a capacidade dos Estados Unidos de pagar suas dívidas. Essa dúvida fez com que no início de agosto a agência Standard & Poor’s rebaixasse a nota da dívida soberana americana pela primeira vez na história. Embora o rebaixamento tenha sido conseqüência de disputas políticas entre republicanos e democratas, os mercados acusaram o golpe e bolsas do mundo inteiro despencaram.

 

Segundo Ricardo Amorim, a economia americana vai entrar de novo em recessão por conta dessa fragilidade fiscal, em parte causada pelos gastos militares. Para o ex-embaixador brasileiro na França, Marcos de Azambuja, foi por causa dessa fragilidade fiscal que “os Estados Unidos quiseram ficar fora da guerra da Líbia”.

 

“A fragilização fiscal dos Estados Unidos acabou deixando a economia americana mais vulnerável. E com a intensificação da crise européia”, inevitável na visão de Ricardo Amorim, especialmente na Espanha e na Itália, “vai pegar os Estados Unidos desprevenidos. Situação que não aconteceria se não tivesse acontecido o 11 de setembro”.

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