10/2015
Por Carol Marques
Foto: Ricardo Correa
Tem Jeito, Sim
Quem desembarcou em João Pessoa foi Ricardo Amorim, conhecido por seus comentários no programa Manhattan Connection, da Globo News. Ele veio dar uma palestra no evento “Caminhos do Novo Cenário Econômico”, realizado no TCE-PB. Aproveitando a ocasião, a editora da VALOR teve uma conversa com o economista que foi eleito pela Forbes Brasil uma das 100 pessoas mais influentes do país.
Você acha que sair da crise é uma questão de escolha para o Brasil?
Acho que a atitude que a gente tem faz muita diferença. Isso vale para as empresas, isso vale para os políticos, para as pessoas. O Brasil tem, sim, todas as condições de sair da crise. A gente tem um monte de problemas que se acumularam nos últimos anos. Esses problemas, eu diria que têm três ou quatro grupos. Dois deles, pra mim, já estão resolvidos. Um deles era que as nossas contas externas estavam muito mal. Ficou muito caro produzir no Brasil. Por consequência, as empresas passaram a levar a produção pra fora. Como é que a gente resolveu isso? O dólar vai lá pra cima. As importações ficam muito caras. E as exportações, mais competitivas.
O segundo é a inflação. Por que a inflação ficou pressionada? Por um lado, porque o Governo, por um bom tempo, ficou represando vários preços que ele controlava. É o caso de gasolina, energia elétrica, ônibus. Quando soltou, pressão de inflação. A própria alta do dólar encarece os produtos estrangeiros, mas isso pressiona a inflação. Então essas duas coisas fizeram com que a inflação subisse bastante. Essa pra mim também está resolvida. Com a recessão, com a taxa de juros onde está, as pessoas pararam de comprar. As empresas não vão poder subir preços. Então a inflação vai cair. É questão de tempo.
Aí sobra para as duas que estão faltando. A primeira é fiscal. O Governo gastou demais e as contas pararam de fechar. Essa ainda falta fazer. E que me traz à última, que impede essa de ser colocada em ordem até agora. É a crise política. No fundo, no fundo, e aí é uma das coisas que me fazem ser mais otimista hoje, a gente já está num grau tão pesado de caos econômico, político, até social, com a alta do desemprego, que não tem como continuar piorando muito sem que haja uma mudança. Das duas, uma: ou o Governo tira um coelho da cartola, apesar da pressão do Congresso, e consegue arrumar as contas públicas, ou a Dilma não chega ao final do mandato. Se isso acontecer, a confiança vai voltar, a inflação cai, a taxa de juros cai, o crédito volta e a gente entra num ciclo virtuoso outra vez. Isso pra mim, se der certo, no ano que vem a situação já vai começar a melhorar. Se der errado, o que acontece é que o desemprego vai subir bastante nos próximos meses porque as empresas estão preocupadas, elas não investem. Se não investem, não geram emprego. O desemprego sobe, a popularidade da Dilma cai. E junto da popularidade, cai a Dilma.
De uma forma ou de outra, eu acredito que a economia melhora no ano que vem. Eu acho, sim, que o Brasil tem todas as condições de sair da crise e acho que vai sair mais rápido do que a maioria acredita.
Entre as medidas adotadas pelo Governo Federal, quais você acredita que vão de fato surtir efeito no controle da crise?
Na verdade, cada uma delas cuidou de um problema. Por exemplo, a alta do dólar foi eficaz pra estimular as nossas exportações, pra fortalecer a indústria. A alta dos juros foi eficaz pra segurar a inflação. Os cortes de gastos que o Governo está prometendo, se conseguir fazer, vão ser eficazes. Primeiro pra melhorar os resultados das contas públicas e segundo pra criar condições de que a gente não precise ter impostos tão altos. Por que neste momento a gente teve as duas coisas, corte de gastos e aumento de impostos? Primeiro porque as contas públicas estavam péssimas e segundo porque a recessão faz com que elas piorem mais. Quando a gente tem recessão, a arrecadação de impostos cai. Se a conta já não fechava e a arrecadação fica menor do que era antes, tem que cortar mais ainda ou aumentar impostos pra compensar. Então, no fundo, foi um conjunto de medidas. Nenhuma delas agradável, todas com efeitos colaterais importantes. Mas elas são eficazes se mantidas tempo suficiente.
Em um artigo deste ano, você ressalta que alguns brasileiros são errados ou corruptos aqui e se comportam de forma correta no exterior.
O meu título foi provocativo de propósito. Chamei o artigo de “Somos todos corruptos”. E não que eu ache. Os brasileiros não são essencialmente corruptos. O que eu quis reforçar foi o seguinte: a gente criou e aceitou no Brasil uma cultura em que a corrupção está presente. Em todo os níveis. Desde o Governo Federal, outros níveis de governo, e tem a pequena corrupção. O mesmo sujeito que critica e acha um absurdo o que está acontecendo é o primeiro a subornar o guarda de trânsito. E essa crise brasileira cria as condições para a gente dar um jeito nisso. Porque a gente está tendo algumas das pessoas mais poderosas do país indo parar em cana. Empresário punido a gente já teve antes. Agora político peso pesado como os que a gente tem sendo investigados é inédito. Você tem, por exemplo, o ex-presidente, que talvez tenha sido um dos caras mais blindados da história do país, sendo investigado. O que acontece se o Lula vai parar em cana? Eu imagino que qualquer um que estiver pensando em fazer alguma coisa ilícita vai pensar duas vezes.
Os excessivos impostos no Brasil são entendidos pelos empresários como muletas para manter de pé um Estado gastão e mau gestor. Você acha que há caminhos fiscais mais producentes?
A grande solução não passa pelo imposto, passa pelo gasto. Enquanto o Governo gastar demais, a gente pode discutir qual vai ser o imposto que vai cobrir o buraco, mas a gente vai ter que ter algum imposto cobrindo o buraco. O Brasil já tem uma carga tributária muito alta. Entre 156 países emergentes, ele é o terceiro com carga tributária mais alta. E não é o terceiro em qualidade do serviço público. Portanto, o nosso problema é que, pra qualidade do que o Estado oferece, nós já arrecadamos impostos demais. Então o que a gente precisa é cortar o Estado. Em outras palavras, o Governo tem que enxugar. Como é que o Governo enxuga? Tem que cortar gastos. Não tem outra forma.
O que você acha que falta ao empresariado do Nordeste para conquistar mais competitividade no cenário nacional?
Acho que eles já têm conquistado na última década. Esse processo vem ganhando força e ainda vai ganhar por vários fatores. Alguns deles que são até globais. Se a gente pegar no mundo os países que mais cresceram nos últimos 20 anos, foram lugares menos desenvolvidos. Dentro do Brasil, está acontecendo a mesma coisa. As três regiões que crescem mais são: Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Uma mudança que veio pra ficar. O que alguns grupos nordestinos já perceberam é que isso cria condição de que eles sejam grandes grupos nacionais. Vou dar um exemplo: vindo pra cá, eu passei em frente a uma farmácia Pague Menos, que é de um grupo daqui, salvo engano meu, e hoje é a terceira rede de farmácias do Brasil. Bastante recente e gigantesca. E tem vários outros grupos. Esse é um exemplo do que dá pra fazer, do que está sendo feito, e acho que cada vez a gente vai ver mais grupos nordestinos crescendo e ocupando um espaço maior no Brasil.