Entrevista do economista Ricardo Amorim ao Jornal Expresso de Portugal sobre perspectivas para os BRICs.

Jornal Expresso de Portugal

01/2012

 
 
1. O conceito de BRIC fez sentido? Foi útil?
Ele foi muito útil para chamar a atenção para um processo de transformação brutal que está acontecendo na economia mundial, onde países emergentes e, em particular, os maiores deles, os BRICs estão ganhando cada vez mais importância. Por outro lado, há diferenças gritantes entre os BRICs. De uma lado, temos a China, o país mais populoso do planeta, mas ainda pobre, que, com seu crescimento acelerado causou uma alto do preço das matérias primas, favorecendo países emergentes em todo o planeta, e uma queda do preço dos produtos industrializados, com impactos negativos nas economias desenvolvidos.
 
A seguir, vem a Índia, a China do futuro – mesmas características, mas atrasada uns 10 anos no mesmo processo. A seguir vem o Brasil, uma economia já mais desenvolvida, com padrão médio de vida mais elevado e, que não tem tamanho suficiente para definir tendências globais, mas apenas para influenciá-las marginalmente. Por fim, a Rússia, um país com população envelhecida e em queda, ao contrário dos demais, mas com um nível educacional e cultural médio muito superior aos outros.
 
2-Jim O Neill diz que o Brasil foi uma das duas melhores histórias dos últimos 20 anos, para além da China. O Brasil tornou-se de facto uma potência, deixou de ser a eterna promessa sempre adiada?
O Brasil, eterno país do futuro, tornou-se, finalmente um dos países do presente. Mais importante, desde que não haja uma convulsão global nos países desenvolvidos que cause uma crise de proporções similares às da década de 30 ou uma ruptura do modelo político-econômico chinês, o crescimento acelerado brasileiro deve continuar por pelo menos mais uma década, provavelmente, mais.
 
3-Desde Yaketerinburgo em 2009, os BRIC se tornaram um clube geopolítico. Vai aguentar-se ou as divergências internas o vão desagregar?
Os BRICs tem interesses comuns, mas tem também grandes divergências de interesses, resultantes de suas dissimilaridades econômicas e políticas. No campo comercial, por exemplo, é difícil vê-los atuando em conjunto, enquanto China e Índia forem grandes importadores de matérias primas e Brasil e Rússia forem grandes exportadores.
 
4-Como vê o Brasil daqui a 20 anos no ranking das 10 maiores economias do mundo?
O Brasil continuará a ganhar espaço tanto por seu crescimento, como pelas dificuldades que as economias dos países desenvolvidos terão de enfrentar ao longo desta década. Segundo as estatísticas oficias, o Brasil se tornou a 6ª economia mundial no ano passado, ultrapassando o Reino Unido, mas as estatísticas oficiais não incluem a economia informal, como se os camelôs, pipoqueiros, professoras de violão e catadores de latinhas não existissem. Há muito mais informais no Brasil do que na França ou na Alemanha, que segundo as estatísticas são a 5ª e 4ª economias do mundo, o Brasil já é, de fato, pelo menos a 5ª ou talvez a 4ª economia global, apesar do FMI ainda não indicar isto.
 
Mais importante, de 2002 para cá – após a China entrar na Organização Mundial do comércio em dezembro de 2011 e alterar toda ordem econômica global em favor dos emergentes – a economia brasileira pulou de 13ª a 6ª maior do planeta segundo o FMI. Se as tendências de crescimento econômico e cambiais dos últimos 9 anos em todo mundo continuarem exatamente iguais, no final desta década, em 2020, O Brasil já será a 3ª economia mundial. Isto não é uma previsão, apenas uma extrapolação de tendências, mas mostra o enorme potencial do país.
 

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