Entrevista de Ricardo Amorim para revista do Sincor-RJ sobre setor de seguros.

Revista Sincor RJ
01/2012

 
 
Expectativa é que o mercado de seguros não será afetado.
 
Quer um conselho? Não confie 100% nas previsões dos economistas para 2012, mas também não chegue a ignorá- las. Afinal, os efeitos de um provável agravamento da crise da Zona do Euro ainda são uma incógnita, assim como os impactos para os países emergentes, como o Brasil. “É cedo para saber ao certo a profundidade que a crise atingirá e suas consequentes repercussões. Mas pode incluir uma sequência de calotes soberanos, causando perdas bancárias e financeiras brutais e até o esfacelamento da própria União Europeia”, afirma o economista Ricardo Amorim.
 
Os dados da economia brasileira mostram que o país exibe saúde financeira para enfrentar a nova turbulência, que aos poucos contagia não só as economias periféricas da Zona do Euro, mas também outras mais fortes, como a Itália e França – além da Alemanha, a locomotiva do bloco. De quebra, a crise europeia ameaça travar a reação da economia dos Estados Unidos.
 
Para dar uma dimensão do problema, basta lembrar que os países da Zona do Euro e os EUA respondem por 50% do PIB mundial. “Na verdade, o progressivo agravamento da crise já afeta a economia brasileira, obrigando o governo a ofertar mais crédito e a reduzir a taxa de juros para conter uma desaceleração ainda mais acentuada”, lembra o economista Lauro Faria, da Escola Nacional de Seguros.
 
Recessão global – Ricardo Amorim tem uma leitura semelhante. Para ele, a crise já atingiu proporções grandes o suficiente para levar a Europa e os EUA a uma recessão no início de 2012, o que deve causar uma nova recessão global e reduzir o crescimento brasileiro ainda mais em 2012. “Por consequência, o cenário de 2012 no Brasil será parecido com o de 2009, com temporária queda de exportações e oferta de crédito e crescimento econômico pífio”, afirma ele.
 
Já o economista Francisco Galiza está convencido de que o viés de alta do mercado de seguros vai permanecer em 2012, a despeito do aprofundamento da crise financeira dos países europeus.
Para ele, no máximo, poderá ocorrer uma suave desaceleração no mercado, mas com taxas anuais de crescimento ainda significativas.
Se prevalecer o cenário semelhante ao da crise de fins de 2008, o mercado de seguros poderá estar entre as atividades que menos vão sofrer os efeitos da crise global. “Há uma chance de que isso ocorra, embora naquele ano o mercado de seguros de propriedade tenha sentido de imediato os efeitos da crise mundial, mas apresentado reação nos primeiros suspiros de recuperação global”, lembra Lauro Farias.
 
Rota de recuperação – Ricardo Amorim concorda que o setor de seguros brasileiro provavelmente estará entre os menos atingidos pela nova crise. Até porque é provável que, já no segundo semestre de 2012, a economia brasileira esteja em rota de recuperação, podendo em 2013, a exemplo do ocorrido em 2010, obter taxas recordes de crescimento econômico. E melhor, haverá continuidade em 2014, ano de Copa do Mundo e eleições para presidente e governadores.
 
Francisco Galiza, tendo em vista as perspectivas de médio prazo, está certo de que o mercado de seguros tem um viés positivo, ainda que conviva com um freio de arrumação no curto prazo, sobretudo com a execução das obras de infraestrutura e os valores vultosos envolvidos.
 
Os economistas Claudio Contador e Victoria Werneck engrossam o coro dos otimistas. Ele projeta um crescimento do mercado de seguros na casa de dois dígitos, algo na faixa de 20% no primeiro semestre de 2012. Já Victoria crê no crescimento sustentado da economia por seu PIB ser fortemente atrelado ao mercado doméstico. “O consumo das famílias brasileiras responde por 60% do PIB do país, enquanto na China elas respondem por 35% do PIB. Portanto, num quadro de crise e desaceleração ou recessão, a China sofreria mais”, exemplifica.
 
Rentabilidade do negócio – Seja como for, os corretores de seguros devem ficar atentos ao comportamento dos juros e da inflação. Se o primeiro declinar, como é esperado em 2012, as seguradoras vão mexer nos valores dos prêmios para mais – isso já deve ocorrer a partir de dezembro no ramo de automóveis – para buscar resultado operacional e garantir a rentabilidade do negócio. E os reajustes podem ser ainda maiores se a inflação crescer. Então, é bom já preparar o espírito dos consumidores.
 
No caso de automóveis, apesar do ciclo de alta dos preços, os executivos das principais seguradoras afirmam que a tendência é de evolução continuada do mercado. A razão são os investimentos das montadoras em ampliação da produção.
Este ano, o Brasil fecha o ano com uma produção de 3,7 milhões de carros e a perspectiva é de que, até 2016, alcance a casa de 5 milhões. Como a demanda de seguro para carro novo é praticamente garantida, os corretores devem olhar para os carros usados.
 
Uma boa aposta é incluir o seguro saúde entre os produtos ofertados ao consumidor. Responsável por cerca de 40% da produção do mercado consolidado de seguros no primeiro semestre, que totalizou R$ 100 bilhões, a saúde suplementar prosseguirá com forte expansão também em 2012, segundo aposta o presidente da FenaSaúde, Marcio Coriolano.
 
Ressaltando o fato de os corretores ainda não explorarem intensamente o ramo, Coriolano destaca que a demanda aquecida mantém relação direta com o emprego e a renda, em avanço no país. Este ano, por exemplo, a previsão é de que o mercado apresente um crescimento médio de 8%, alcançando até R$ 90 bilhões.
 
“É uma venda mais técnica, mas o nicho é muito promissor para o corretor”, afirma ele, destacando que os planos odontológicos, ainda que tenham tíquetes menores, podem ser outra boa alternativa para estes profissionais.
 
No mais, os seguros de infraestrutura, tendo em vista as verbas reservadas para as grandes obras, as modalidades de benefícios, como previdência, e as apólices relacionadas a bens podem dar alegrias, se as medidas para preservar o mercado doméstico derem certo.

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