Ricardo Amorim conta os principais segredos para melhorar suas finanças pessoais

 07/2014

Informativo Mirante

 

Formado pela Universidade de São Paulo, com pós-graduação em Finanças Internacionais pela ESSEC de Paris, Ricardo Amorim foi considerado o economista mais influente do Brasil pelo site norte-americano Klout.com. Desde 2009, dirige a Ricam Consultoria, onde presta assessoria econômico-financeira, de investimentos e estratégia para clientes em todo o mundo, compartilhando sua experiência de mais de vinte anos no mercado financeiro global, com passagens pela Europa e Estados Unidos.

Um dos apresentadores do programa Manhattan Connection, do canal Globonews, e colunista da revista IstoÉ, Ricardo Amorim concedeu uma entrevista exclusiva ao Mirante Visão Prev. Na pauta, não faltaram perguntas sobre educação financeira e previdenciária, com respostas recheadas de dicas sobre o que levar em conta na hora de fazer seu planejamento.

 

Quais os princípios básicos de um planejamento financeiro?
O mais básico de todos é alinhar suas decisões financeiras com o que você mais valoriza. Parece óbvio, mas não é porque várias escolhas são feitas no calor do momento e não estão necessariamente alinhadas com o que realmente se quer no futuro. Às vezes, passando em frente a uma loja, toma-se uma decisão de consumo por impulso que coloca em risco outro objetivo mais importante. Então, o primeiro ponto é planejar e planejar basicamente significa fazer escolhas. Ou seja, pensar: isso, para mim, é mais importante e, portanto, eu vou sacrificar algumas outras coisas que talvez eu gostasse, mas que são menos essenciais.
O segundo é ter alguma dose de controle da evolução de sua vida financeira. Ninguém precisa passar horas fazendo contas e planilhas. Dinheiro é um meio e não um fim. Por outro lado, o que acaba acontecendo na maior parte dos casos é o contrário: as pessoas não têm a menor ideia de qual é a sua situação financeira.
 
Como economizar parte do orçamento pessoal e fazer sobrar dinheiro no fim do mês?
Só tendo claras quais são as suas prioridades. A única forma de não sofrer na hora de fazer economias e sacrifícios é saber que estamos abrindo mão de algo em troca de outra coisa melhor, mais importante para nós. Caso contrário, fica muito difícil. Aí volto ao primeiro ponto que comentei: é preciso fazer escolhas. Quero fazer uma pós? Trocar o carro? Comprar a casa própria? Separar uma quantia maior para minha aposentadoria? Todas essas decisões fazem com que eu tenha que deixar de lado alguns prazeres hoje.
Mas atenção: disciplina é essencial. Resolver poupar é uma condição necessária, mas não suficiente. A segunda condição é efetivamente poupar e isso só acontece com disciplina.
 
Por que o brasileiro tem tanta dificuldade para lidar com planejamento financeiro?
Acho que há uma razão histórica, pois tivemos um período muito extenso de hiperinflação, entre os anos 80 até 94, que encurtou os horizontes de planejamento. Não se tinha a menor ideia do que iria acontecer no longo prazo e havia uma preocupação enorme com o hoje ou, na melhor das hipóteses, com o amanhã. Apesar de a situação já ter mudado há vinte anos, a normalização é muito lenta: a inflação cai, mas demora muito para haver uma queda mais significativa na taxa de juros e ocorrer uma efetiva disponibilidade de crédito.
O fato é que, em função das taxas de juros mais baixas, daqui em diante o brasileiro que desejar rentabilizar melhor os seus investimentos vai precisar sair da renda fixa de curto prazo. Ou seja, querendo ou não, o brasileiro terá de aprender a lidar com as questões financeiras e precisará aumentar seu conhecimento para não se perder e desperdiçar o seu dinheiro.
 
Quais são as melhores formas de investir para que o dinheiro renda mais?
Tudo depende do objetivo que se tem para o dinheiro. É a meta final que determina o tempo que o recurso vai ficar investido e, portanto, permite definir o melhor tipo de aplicação. Por exemplo, se falamos de aposentadoria, pensamos no longo prazo e é recomendável escolher investimentos que, no longo prazo, ofereçam melhor rentabilidade. Basicamente, são investimentos que no curto prazo oscilam mais, com muitas altas e baixas, como a Bolsa de Valores.
Existe aí outro ponto relevante dessa questão que diz respeito à tolerância ao risco. Todo mundo quer que o dinheiro renda o máximo, mas nem todo mundo aguenta a oscilação do valor do investimento ao longo do tempo para que isso aconteça. Quando ocorre queda, quem não suporta o risco ou não entende bem o funcionamento de um investimento com maior oscilação tende a querer se livrar dos papéis no pior momento. Aliás, essa é uma coisa interessante: em relação a qualquer outro produto, as pessoas compram quando os preços caem; nos investimentos, elas vendem por medo. Nossa psicologia em relação aos investimentos joga contra nós.
 
Você falou em aposentadoria, quando se deve começar a pensar nesse assunto?
Ontem. Quanto antes, melhor por conta do efeito dos juros compostos. A razão básica para se ter uma aposentadoria complementar é que o sistema público de aposentadoria não é sustentável nos moldes atuais. Alguns números demonstram essa realidade: no passado, havia dez pessoas na ativa para cada aposentado e hoje essa relação é de 2 para 1; a expectativa de vida condicional (quanto se vive depois de aposentado), que era de cinco anos, é atualmente de vinte anos. Dessa forma, temos menos gente sustentando os que já estão aposentados que, por sua vez, viverão por muito mais tempo. Com a queda no número de nascimentos e o aumento na expectativa de vida, a situação vai piorar cada vez mais.
É necessário começar a se preparar para isso e a previdência complementar é indispensável. Quem conta com esse benefício via seu empregador deve aproveitá-lo ao máximo.
 
O poder dos juros compostos
Uma pesquisa recente feita pela Ricam Consultoria constatou que 70% das pessoas que têm dívidas no cheque especial não sabem qual a taxa de juros utilizada. “Esse dado chama muito a atenção porque me parece que crédito é o único produto comprado sem que se queira saber seu preço!”, espanta-se Ricardo Amorim. “Isso é particularmente grave em função da elevadíssima taxa de juros do cheque especial que pode causar o crescimento exponencial de uma dívida. Por exemplo, uma dívida inicial de R$ 10 mil numa taxa de juros média de 200% anuais, passa para R$ 30 mil um ano depois. Em dois anos, ela é multiplicada por três novamente, chegando a R$ 90 mil; em três anos, estará em R$ 270 mil; em quatro, alcançará R$ 810 mil; e em cinco, já será de monumentais R$ 2,430 milhões. Assim, uma dívida que começou em R$ 10 mil vira algo praticamente impagável em cinco anos em função dos juros compostos.” Mas vale um alerta fundamental: a força dos juros compostos pode ser altamente positiva quando funciona do lado oposto. “Sobretudo nos investimentos feitos e mantidos por muito tempo como é o caso da previdência, pode-se aproveitar ao máximo a enorme capacidade de multiplicação dos juros compostos. Eles ajudam a rentabilizar os investimentos de forma ainda mais eficiente.”
 
 

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