Entrevista de Ricardo Amorim à CEFET-MG: Economia sem mistérios.

Revista CEFET – MG
05/2012

 
Economia de maneira fácil e descomplicada.
 
O economista Ricardo Amorim conversa sobre distribuição e consumo de bens, educação, gestão e as perspectivas do Brasil e do mundo em linguagem simples e acessível.
Os predicados são inúmeros: economista, apresentador do programa Manhattan Connection da Globo News, colunista da revista IstoÉ e presidente da Ricam Consultoria. Contudo, o que move Ricardo Amorim é brincar nessa roda-gigante frenética movimentada pela economia mundial, prever quem sobe e quem desce a analisar as perspectivas.
Na entrevista para o CEFET-MG é Notícia, o multi-fazedor fala sobre o panorama para a educação, Brasil e Minas Gerais de uma maneira descontraída e provocadora.

Qual a importância da formação informal e como essas experiências foram absorvidas e unidas à formação formal para o desempenho das duas atividades?

Absolutamente fundamental. Aprender é a essência da vida. Quem limitar esta atividade à escola está perdido. Se eu tivesse que dar um único conselho, ele seria: nunca pare de alimentar sua curiosidade. Com o avanço da internet, sites de busca e redes sociais, ficou mais fácil do que nunca matar a curiosidade e aprender coisas novas. Se você não fizer isso, seu concorrente fará, e você ficará para trás. Acredito que é possível informar e divertir ao mesmo tempo. Não acredita?
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O fato de trabalhar na televisão (Manhattan Connection), rádio e escrever para veículos impressos agrega valor ao seu trabalho como CEO e palestrante?
Muito. Dez anos de experiência na TV e outras formas de mídia me treinaram a falar de coisas técnicas e complicadas em linguagem simples, acessível a todos e divertida, o que acabou se tornando minha marca registrada.
Nada me deixa mais feliz do que os muitos feedbacks que recebo em minhas palestras de que consigo falar de economia com profundidade, mas sem economês.
Provavelmente, esse é meu principal diferencial. Vinte anos de experiência no mercado financeiro internacional, com passagens pela Europa e Wall Street me ensinaram como funcionam as engrenagens da economia e das finanças globais, permitindo-me antecipar uma série de transformações e mudanças que tem acontecido desde o início do milênio. Mas foram dez anos na TV que me ensinaram como comunicar isso para o grande público de forma que cada um compreenda como isso impactará a sua vida.
 
Você utiliza bastante a internet para interagir com seu público. Quais as vantagens e desvantagens dessa interação?
A grande vantagem é que é uma forma de interação bastante direta e democrática, permitindo atingir gente de todas formações em todo o planeta. A grande desvantagem é que com mais e 30 mil amigos, seguidores, fãs e contato apenas no Twitter, Facebook e LinkedIn, não consigo responder a todos sempre, como gostaria.
 
Em suas colunas, muitas vezes você fala sobre os rumos da educação no país. Qual sua perspectiva para os próximos anos?
De fato, educação é um dos meus temas preferidos. Há um ano, por exemplo, escrevi um artigo chamado Como investir em educação, mostrando que apesar de todo pessimismo quanto ao setor, é possível e até provável que nossa educação melhore muito nas próximas décadas, desde que façamos escolhas corretas.
É fácil ser pessimista com relação à educação no Brasil. Diariamente, ouvimos histórias da falta de recursos e do descaso.
 
Para piorar, os resultados dos estudantes brasileiros em exames internacionais são razão de vergonha nacional. No exame PISA (Program for International Student Assessment) de 2009, a educação brasileira ficou em 53º lugar entre 65 países, atrás de Trinidad e Tobago.
Entretanto, há cerca de 20 anos, iniciamos no Brasil uma despercebida correção de nossas maiores mazelas educacionais, que deve se acelerar ao longo das próximas décadas. Nos anos 90, começou um processo de inclusão educacional, com a universalização do acesso à educação básica, a elevação da escolaridade média e a expansão do acesso à universidade.
 
O número de universitários no país passou de 1,5 milhão em 1990 para 3,5 milhões em 2000 e para 6,5 milhões em 2010. O problema é que esse avanço no acesso à educação deteriora os indicadores de qualidade do ensino.
A população brasileira ficou mais educada, mas o nível médio do estudante universitário, refletido nos exames, piorou à medida que estudantes menos preparados passaram a ingressar nas faculdades.
Quando comparamos a nota média dos alunos de 2000 com a média dos estudantes em 2010, desconsideramos que, dez anos antes, três milhões deles nem sequer chegavam à faculdade.
 
Uma fotografia mais fidedigna da evolução da qualidade apareceria se comparássemos apenas as notas dos 3,5 milhões dos melhores alunos de hoje com as dos 3,5 milhões de dez anos antes.
A verdade é que a expansão do acesso à universidade ainda tem de progredir muito nas próximas décadas. Apesar de todo o avanço em inclusão nos últimos 20 anos, ainda hoje apenas um de cada cinco jovens brasileiros chega à universidade.
Também a qualidade de nossa educação vai melhorar gradualmente nas próximas décadas, por duas razões. A primeira é um sustentado aumento dos investimentos públicos e educação, possibilitado pelo forte crescimento econômico e consequente elevação da arrecadação de impostos.
De 2005 a 2010, os gastos do governo com educação passaram de 3,9% para 5,4% do PIB e devem atingir 7,0% do PIB em 2014.
A segunda razão é demográfica. Com a forte queda da taxa de natalidade nas últimas décadas, o número de crianças e jovens em idade escolar e universitária cairá nas próximas décadas. Com mais recursos e menos alunos, o investimento por aluno aumentará consideravelmente, o que – salvo total desperdício do dinheiro gasto – deve resultar em melhor qualidade de ensino.
 
Os engenheiros e administradores brasileiros conseguem competir nos mercados internacionais em igualdade com os profissionais de outros países?
Há bons e maus engenheiros e administradores em qualquer país e, no Brasil, não é diferente. Inegavelmente, hoje, a média de nossas universidades não formam tão bons engenheiros ou administradores quanto a média de universidades de países ricos, mas temos cada vez mais centros de excelência respeitados em todo mundo.
O que há no Brasil, também, é uma distorção nas carreiras para as quais formamos profissionais.
Por exemplo, o Brasil forma, por ano, dez vezes mais advogados do que engenheiros. A explicação é histórica. Em um país com leis complicadas e mudanças de regras a toda hora, a necessidade de advogados era brutal. Por outro lado, como o país não crescia, não havia necessidade de investimentos em infraestrutura, nem de engenheiros.
Atualmente, o país cresce, necessita de muitos investimentos em infraestrutura e faltam engenheiros. O país mudou, mas a formação e profissionais ainda não.
 
No Brasil, reclama-se muito da funcionalidade dos órgãos públicos. Nos países desenvolvidos a estrutura é diferente?
Qual o principal problema na organização das empresas públicas brasileiras?

O maior problema não está nas empresas públicas, as estatais, ainda que, em alguns casos, haja problemas de ineficiência em algumas delas. O grande problema está na ineficiência e no custo da administração pública direta.
Como nosso governo é muito inchado e gasta demais, os impostos para pagar as contas têm de ser altos. Além disso, falta dinheiro para investir em infraestrutura e educação. Por fim, como o governo precisa tomar muito dinheiro emprestado para se financiar, a taxa de juros é muito elevada no país, atraindo investimentos que causam uma apreciação do Real, tornando nossas exportações menos competitivas.
Tudo isso faz com que o Brasil cresça menos do que poderia.
 
Minas Gerais tem a economia fortemente ligada à exportação de commodities, agrícolas (café) e minerais, e por isso forte presença no desempenho da economia nacional. Qual é o real fôlego da exportação de commodities no mundo hoje? O mercado continuará aquecido ou haverá retração?
Ao longo desta década e provavelmente da próxima, é muito provável que o mercado de commodities se expanda cada vez mais, à medida que China e Índia se urbanizam e se industrializam.
Isso significa que esses setores continuarão a estar entre os principais motores de crescimento do país, mas isso não significa que não haverá alguns momentos difíceis, como no final de 2008.
Se a crise europeia voltar a piorar, o que está longe de ser improvável, temporariamente, a demanda por commodities cairá e seus preços também, mas, assim, como em 2009, passado o momento de crise global mais aguda, é muito provável que os preços e a demanda retomem a trajetória ascendente anterior.
 
Aqui em Minas, fala-se na “corrida pelo minério de ferro”, com a implantação de projetos bilionários na extração e exportação do minério. Qual a solidez desses projetos?
A solidez de cada projeto depende de fatores de rentabilidade associados a cada um deles, mas, de uma forma geral, como o mercado internacional de minério de ferro em forte expansão e, por consequência, o preço do minério em alta, as perspectivas são bastante boas. A ascensão da China causou uma mudança no preço relativo dos produtos ao longo da última década, com queda do preço de vários produtos eletroeletrônicos e forte alta do preço das commodities. Por exemplo, com a alta do preço do minério e forte queda do preço de alguns eletroeletrônicos, hoje, compra-se uma TV com 200 menos minério de ferro do que há 10 anos, ou um celular com 150 vezes menos, ou um computador com 120 menos.
Isto viabilizou uma série de projetos de investimento no setor que há 10 anos seriam inviáveis.

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