Entrevista de Ricardo Amorim à Revista RI sobre perspectivas econômicas para 2014

Revista RI – Relações com Investidores

12/2013

Por Isabella Abreu

 
“É a economia, estúpido!”
 
Esta frase, emblemática nas eleições norte-americanas de 1992, que resultou na vitória do democrata Bill Clinton, serve agora para o Brasil. Em 2014, a presidente Dilma Rousseff terá que superar a turbulência econômica para conseguir se manter no Palácio do Planalto por mais quatro anos.
 
“Não temos uma política econômica e a equipe econômica do governo atual é a pior de todos os tempos da história do Brasil. Nunca vi nada igual, tanta ineficiência e má-gestão como agora, com decisões imediatistas e sem nenhum planejamento ou cuidado com o longo prazo”, critica Ricardo Torres, professor de finanças do Business School São Paulo (BSP).
 
Diante do fraco desempenho da indústria, a economia brasileira pisou no freio no terceiro trimestre e o PIB encolheu 0,5%, pior resultado desde 2009. Já a inflação oficial vem se mantendo, em 12 meses, sistematicamente no teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%. Alguns analistas acreditam que a inflação será superior a 6% em 2014. O recrudescimento da alta dos preços se daria, sobretudo, a partir do segundo semestre do ano que vem, justamente quando a campanha eleitoral estará na reta final.
 
Segundo o economista Ricardo Amorim, presidente da Ricam Consultoria, em 2014, o PIB deve crescer cerca de 2%, os juros subirão para impedir que a inflação aumente e o dólar cairá ao longo do ano. “Por outro lado, se uma desaceleração dos estímulos monetários nos EUA deflagrar o estouro de bolhas de ativos pelo mundo, a recuperação da economia chinesa for abortada, ou novas crises financeiras pipocarem na Europa ou nos países emergentes, nosso crescimento será próximo de nulo e, temporariamente, o dólar subirá ainda mais, pressionando a inflação”, afirma. “Em síntese, o Brasil terá, na melhor das hipóteses, um 2014 medíocre. Na pior, estagnação”, completa.
 
INDEFINIÇÃO
 
O panorama eleitoral ainda é uma incógnita. Segundo pesquisa Datafolha divulgada em 30 de novembro, a presidente Dilma Rousseff lidera a intenção de voto para o pleito do próximo ano. Dos nove cenários testados na pesquisa, a presidente pontua de 41% a 47%, dependendo de quem são seus adversários. No cenário em que Dilma tem 47%, o senador mineiro e presidente do PSDB, Aécio Neves, tem 19% e o governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) aparece com 11%. Dilma só não venceria no primeiro turno em cenário em que Marina Silva, agora no partido de Campos, aparece como candidata.
 
A ex-ministra entrou definitivamente no radar do mercado financeiro em julho, após o resultado da pesquisa de opinião realizada pelo Ibope, quando ficou com 22% das intenções de votos, na frente de Aécio com 13%. Depois de Marina ter conquistado território e se aliado a Eduardo Campos, em outubro, a dúvida dos analistas era se a presidente adotaria uma postura mais populista em termos de política econômica e fiscal para reconquistar o eleitorado. Para Gustav Gorski, economista-chefe da gestora Quantitas, não há mais espaços para aventuras populistas em razão da deterioração das contas públicas. “Uma postura neste sentido seria uma decisão irracional”, avalia.
 
O economista acredita que a probabilidade de manutenção do governo atual é bastante superior a uma troca de poder, seja por qualquer partido. Neste contexto, do ponto de vista econômico, as questões que podem fazer com que a probabilidade de manutenção do governo atual diminua são, em ordem de preferência, emprego, inflação e crescimento econômico. “Ou seja, quanto maior for o desemprego, maior for a inflação ou menor for o crescimento econômico, diminui a probabilidade de o governo atual vencer as eleições”, explica.
 
IMPACTO NO MERCADO DE CAPITAIS
 
De acordo com Gorski, caso o governo atual ganhe e mantenha a política econômica atual, o impacto na bolsa de valores brasileira é levemente negativo a neutro, uma vez que já está precificado este cenário. Se houver manutenção do governo e anúncio de medidas de contenção fiscal, eficiência administrativa e retomada das reformas estruturais, o mercado deverá perceber um segundo governo Dilma como um período de ajustes e reagirá positivamente. “Já se o governo atual perder as eleições, a tendência, independente do ganhador, é de reação positiva para o mercado de capitais”, diz.
 
Ricardo Torres acredita que a bolsa só tem a ganhar com uma vitória da oposição. “Se o ganhador for o Aécio Neves, os mercados irão se fortalecer e subir com as perspectivas desta nova gestão, mais próxima historicamente dos mercados. Caso Eduardo Campos ganhe, os mercados irão disparar, e, teremos um ciclo de alta e de otimismo nos mercados de capitais, principalmente causado pelo ingresso de capital de investidores estrangeiros, que estão reticentes no presente”, ressalta.
 
Segundo o professor da BSP, todas as empresas se beneficiariam com a troca de poder, com destaque para a Petrobras. Atualmente o papel da petrolífera tem oscilado entre R$ 18 e R$ 19. A estatal se beneficiaria porque perde muito dinheiro com a política de Dilma de usá-la para controlar a inflação, mantendo os preços dos combustíveis defasados em relação à cotação do petróleo no mercado internacional.
 
APOSTAS
 
Dentre os setores mais promissores para aumentar sua participação na bolsa em 2014, segundo Gustav Gorski, da Quantitas, estão os com pouca intervenção governamental, baixo endividamento em moeda estrangeira e receitas ligadas aos países que estão em recuperação no ciclo econômico mundial. Já Paulo Bittencourt, da Apogeo Investimentos, avalia que os setores de energia elétrica, alimentos e serviços tem certa vantagem no cenário atual. Por outro lado, setores com baixa capacidade de repasse da inflação ou baseados no crescimento do setor industrial estarão mais prejudicados. “O agronegócio tem as melhores condições de rentabilizar em 2014 e por sua vez as empresas que fazem parte desta cadeia”, afirma.
 
GRAU DE INVESTIMENTO
 
De acordo com analistas do banco Barclays, o Brasil pode ser o primeiro entre os quatro emergentes do BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) a perder o grau de investimento. Os economistas avaliam que se a economia nacional não crescer rapidamente e a situação fiscal continuar em deterioração, o downgrade pode vir ainda no início de 2014. “Os resultados fiscais de setembro vieram muito mais fracos que o esperado. O surpreendente resultado foi impulsionado principalmente por um forte aumento das despesas extraordinárias durante o mês, mas as receitas menores que o aguardado também ajudaram a intensificar o déficit”, afirmam os analistas Bruno Rovai e Marcelo Salomon.
 
Há quem acredite que, pelo fato do próximo ano ser eleitoral, as agências de classificação de risco sejam mais tolerantes. De qualquer maneira, analistas acreditam que não deve passar de 2015. Tony Volpon, economista-chefe da Nomura Securities para América Latina, avalia que a nota do Brasil deve ser rebaixada em um grau em 2014, com grande possibilidade de perda do ‘grau de investimento’ em 2015, caso o futuro presidente brasileiro não promova um ajuste fiscal. De qualquer forma, quem quer que seja o escolhido para governar o país nos próximos anos enfrentará grandes desafios para colocar o Brasil no caminho do crescimento.
 
 

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