Matéria sobre palestra de Ricardo Amorim: piora da crise na Europa e impactos no Brasil.

Portal SINDIFERN
06/2012

 
CRISE DÁ SINAIS DE PIORA E TRAZ RISCOS AO RN E AO BRASIL
 
A crise econômica na Europa tende a se agravar este ano e o Brasil deverá sentir o impacto da turbulência em forma de redução de linhas de crédito internacionais e de queda nas exportações, com a redução do “apetite” europeu. Em meio ao cenário de adversidades, o crescimento do país não chegará aos 4,5% esperados pelo governo. “Na melhor das hipóteses, se a crise na Europa não piorar, o que é improvável, deve ficar na faixa de 2%”, diz o economista e consultor Ricardo Amorim.
 
Em passagem por Natal ontem, como um dos palestrantes da 16ª Conferência Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais, da Unale – evento que será realizado até hoje no Centro de Convenções – ele fez essa e outras projeções e observou que uma série de fatores pode estimular o agravamento da crise e gerar impactos negativos na economia. O risco de a Grécia sair da Zona do Euro é um desses fatores.
 
A preocupação que existe é que outros países europeus sigam o caminho dos gregos e que, com a mudança de moeda em seus territórios, a conversão dos valores das dívidas desses países gere um calote para os credores. “Essa preocupação vai fazer com que os mercados se fechem para esses países. E quando isso acontecer vai estar institucionalizada uma nova crise financeira, como a de 2008”, projeta Amorim. O Brasil, segundo ele, não vai escapar ileso. “O bancos no mundo inteiro vão se retrair. E na hora que há menos crédito, há menos consumo, vendas e investimentos”, acrescenta.
 
Setores que exportam parte significativa da produção também deverão sentir. Queda da demanda e dos preços dos produtos comercializados estão entre os prováveis efeitos. No Rio Grande do Norte, a exportação de alimentos e minérios será negativamente impactada, na visão do economista.
 
Um dos desafios, nesse contexto, seria redirecionar as exportações dos mercados tradicionais para os mercados emergentes. “Esses países estão sendo menos impactados. Para se ter ideia, a Índia registrou o menor crescimento dos últimos nove anos, só que isso significa mais do que 5% de crescimento do PIB, enquanto na Europa o PIB está caindo”, diz Amorim.
 
Para se diferenciar na disputa por esses novos consumidores, entretanto, seria necessária a adoção de políticas de governo, como a redução de tributos sobre a produção e as exportações para tornar o produto brasileiro e potiguar mais competitivo. O economista também cita a necessidade de investimentos em infraestrutura para reduzir o custo de envio dos produtos para outros países.
 
A recente unificação da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em 4%, cobrada sobre produtos importados em operações interestaduais, foi criticada por Amorim. O objetivo da unificação é acabar com a chamada “guerra dos portos”, em que alguns estados reduziam o imposto para atrair um maior volume de produtos importados para seus portos. Mas os incentivos, diz o economista, geravam distorções: “Como essa redução impactava o produto importado e não o daqui se criava uma situação de competição desigual para o produto nacional”, explica.
 
Para Amorim, unificando a alíquota – e acabando com o incentivo – o governo tenta aumentar a competitividade do produto nacional. Mas há um erro na estratégia. “O erro é fazer isso sem fazer a outra parte da história, que é a redução do custo do produto nacional. O governo responde encarecendo a chegada do produto importado e não barateando o nacional. Isso faz com que tenhamos um país mais caro e não mais rico”, diz. “O grande gargalo é que o gasto do governo é excessivo e por conta disso tem que ter impostos que paguem a conta. E isso gera um monte de distorções”, acrescenta.
 
Selic menor impacta pouco o crédito
 
Brasília (ABr) – Na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou o corte na Selic, que serve de referência para as demais taxas do mercado. É o nível mais baixo da Selic, desde que a atual política monetária foi adotada, no início de 1999. O menor patamar anterior (8,75%) vigorou de 23 julho de 2009 a 28 de abril de 2010.
 
O efeito da redução da taxa básica será, porém, pequeno nas operações de crédito ao consumidor, diz o diretor executivo de Estudos Financeiros da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac) Miguel José Ribeiro de Oliveira.
 
De acordo com a Anefac, enquanto a Selic está em 8,5% ao ano, as taxas de juros cobradas dos consumidores devem ficar em 106,09% ao ano na média.
Oliveira explica que isso ocorre porque na taxa de juros cobrada dos consumidores existem alguns custos embutidos. A influencia da Selic está na queda do custo de captação de recursos pelos bancos. Quanto a taxa básica é reduzida, o custo de captação pelos bancos diminui.
 
Apesar de o efeito ser “pequeno”, ele existe. Só ontem, no embalo da redução da Selic, a Caixa Econômica Federal e o Bradesco anunciaram redução de juros em linhas de crédito para pessoas físicas e empresas. O Banco do Brasil promete, hoje, seguir o mesmo caminho.
 
Margem para reduzir juros favorece o país
 
O Brasil deverá ser atingido pela crise internacional, mas vai sofrer menos que outros países, na avaliação de Ricardo Amorim. Entre outros fatores, favorece o país o espaço que ainda existe para redução dos juros.
 
Ao reduzir a taxa de juros o país estimula o crédito e a atividade econômica. Foi o que o Banco Central fez na última quarta-feira, ao reduzir a taxa básica de juros, a Selic, ao nível mais baixo da história do Brasil (a taxa caiu de 9% ao ano para 8,5% ao ano). “Esse nível, entretanto, ainda é altíssimo para qualquer lugar do mundo. Isso significa que se precisar a taxa ainda pode ser bastante reduzida, o que não ocorre na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, que já tem a taxa próxima a zero”, diz o economista.
 
Amorim observa que tradicionalmente quando um país tem um impacto recessivo o governo aumenta gastos e corta impostos. É o que o governo brasileiro vem fazendo nos últimos meses, injetando mais dinheiro na economia, e o que os países desenvolvidos, em meio a uma crise fiscal, não podem fazer. “Se gastarem mais, esses países geram uma crise de confiança de que o governo vai quebrar, de que não vai conseguir pagar a dívida e agravam a crise em vez de melhorar. O Brasil tem um instrumento que os países ricos não tem”, afirma o economista
 
Ele ressaltou ainda que cabe aos legisladores contribuir para que sejam reduzidas a carga de impostos e a burocracia brasileiras. “É preciso facilitar a realização de negócios para que o país gere mais empregos e cresça. É preciso maximizar as oportunidades de crescimento”, disse.

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