02/2018
Em entrevista exclusiva à Newsletter da Telebrasil, os economistas Ricardo Amorim, Allan Costa e Arthur Igreja, da multiplataforma AAA, afirmam que o Brasil entrou num ciclo positivo da economia, mas precisa reforçar a atenção à transformação digital. “Não dá para perder essa janela de oportunidade por visão distorcida”, advertem.
Eles destacam ainda que o governo precisa dar às TICs um tratamento isonômico, levando em conta sua importância direta e indireta. “Sem TICs não há aumento de produtividade, e o governo precisa agir mais, principalmente, na questão tributária”, diz Ricardo Amorim. Às empresas e às pessoas, os economistas alertam: o momento é de revolução tecnológica e a capacidade de compreender essa era determinará quem vai ganhar ou perder.
Quais são as perspectivas econômicas para 2018 e qual o impacto das TICs nessa projeção?
Ricardo Amorim – O consenso entre mais de 100 economistas é que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve crescer pouco mais de 2% este ano, mas é histórico também que, na maior parte das vezes, o consenso normalmente erra. Nós entendemos que o País deverá crescer mais que 2%. Na economia, há os ciclos positivos ou negativos, e na fase negativa as perspectivas acabam caindo mais do que o esperado. Já na fase positiva, as projeções superam o estabelecido. Esses ciclos duram, em média, de três a oito anos. O Brasil, no ano passado, entrou num ciclo positivo. Ainda não temos os números definitivos do PIB em 2017, mas ele será maior que 1% e em 2018 deverá crescer mais.
Especificamente com relação às TICs, o setor vai crescer muito mais do que a média da economia brasileira, como, aliás, acontece nos últimos anos. As TICs têm sido um dos motores – diretos e indiretos – da economia nacional ao aumentar a produtividade de outros setores. Não tenho dúvida que continuará sendo assim nos próximos anos. As TICs, mais que crescer por si só, são cruciais para outros setores crescerem.
Allan Costa – O ano de 2018 será o início de um dos períodos de maior prosperidade na economia brasileira. Não tem muito segredo, e venho afirmando isso há tempos: no auge da crise, possuíamos três certezas: a morte, o pagamento de impostos e o fim da crise. A economia é cíclica e inequivocamente, depois de uma tempestade, vem o período de bonança. E é exatamente esse o momento em que estamos entrando. No que tange às TICs, elas terão papel determinante nessa retomada. É imprescindível que as empresas do setor no Brasil compreendam o impacto que tecnologias como internet das coisas, inteligência artificial, impressão 3D, deep learning e robotização, para citar apenas algumas, trarão oportunidades ímpares para potencializar esse processo de retomada.
Arthur Igreja – Se 2017 foi um ano de transição, 2018 tem tudo para ser um ano de definições que impactarão profundamente o médio prazo no Brasil. As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) devem crescer em ritmo mais acelerado por duas razões: primeiro porque investimento em tecnologia tornou-se vital para aumento de competitividade e até sobrevivência nos mais diversos mercados. Vale também lembrar sua presença transversal e cada vez mais profunda nos negócios. A segunda razão é o crescente otimismo dos empresários. Espera-se que um crescimento mais robusto seja observado em 2019.
O que falta, na prática, para o Brasil valorizar as TICs como instrumentos de desenvolvimento social e econômico?
Ricardo Amorim – Não podemos ver essa questão de forma binária. Não se trata de valorizar ou não o setor de TICs, mas, sim, de quanto vamos valorizá-lo. Os países mais bem-sucedidos na economia são aqueles que valorizam TICs e, por consequência, têm crescimento maior e oferecem uma qualidade de vida melhor à população.
As TICs precisam ser tratadas como um setor estratégico, com a formulação de políticas públicas que o ajudem. E, hoje, isso não acontece. O governo concede tratamentos diferenciados, por exemplo, na parte tributária para setores que não têm o impacto indireto que TICs têm na produtividade. Essa visão precisa ser purgada no governo. As TICs devem ser tratadas de acordo com seu impacto na economia nacional.
Allan Costa – Em grande parte, parece-me que aumenta a compreensão não apenas dos atores ligados ao setor, mas também de toda a população, quanto às possibilidades de aplicação e de transformação socioeconômica cujo potencial está presente nas TICs. Máquina fotográfica, filmadora, scanner, fotocopiadora, CD player, DVD Player, GPS, rádio, relógio, despertador, bloco de notas, cronômetro e muitos outros aparelhos deixaram de existir como coisas e passaram a ser pequenos aplicativos instalados nos smartphones.
Essa é a apenas a ponta de um gigantesco iceberg, em que as TICs podem contribuir para tornar mais acessível, dos pontos de vista do acesso e do custo, uma série de serviços e facilidades, que sem elas estariam distantes de uma grande parcela da população.
Arthur Igreja – O Brasil ainda tem um gap de entendimento da importância da tecnologia na geração de riqueza. Estamos na era da transformação digital, em que as cinco maiores empresas do mundo são de TIC, e o Brasil continua a contentar-se em ser um grande exportador de commodities. Continuamos presos em discussões de partilha de um bolo menor enquanto o mundo já compreendeu que o caminho do desenvolvimento passa inevitavelmente por maior grau tecnológico e criação de produtos/serviços de maior valor agregado por profissionais cada vez mais capacitados.
As empresas brasileiras estão preparadas para investir em inovação e mudar o olhar dos negócios em 2018?
Ricardo Amorim – Não só em 2018, mas também nos próximos anos, ter capacidade para se adaptar às mudanças tecnológicas será crucial para sobreviver. Aliás, não apenas capacidade de se adaptar, mas ter condições de fazer essas transformações acontecerem. Somente as organizações que tratarem a tecnologia e a inovação como prioritárias vão ser capazes de alcançar vantagens competitivas. Empresas e pessoas, independentemente do porte ou das funções exercidas, terão de compreender a revolução tecnológica para tomarem as melhores decisões e alcançarem os melhores resultados. Quem conseguir dirigir esse processo pode vir a obter os melhores resultados dos últimos tempos. A capacidade de compreensão do momento atual é que vai decidir quem vai ganhar ou perder.
Allan Costa – Um dos maiores desafios nas empresas, independentemente de porte ou segmento, é a criação de processos efetivos de inovação de uma maneira sustentável e com geração de diferenciais competitivos para as organizações. Em 2018, será importante dar uma atenção maior ao tipo de cultura empresarial que está sendo desenvolvida dentro de uma companhia para dinamizar os negócios.
O potencial de gerar impacto inovador está nas pessoas, e isso não pode ser copiado por nenhum concorrente. Empresas que demorarem a perceber essa tendência, de unificação absoluta das estratégias de relacionamento decorrente da possibilidade de conhecer cada cliente, individualmente, a partir dos dispositivos inteligentes que estarão fazendo parte da sua rotina diária, terão enorme dificuldade de manter ou conquistar consumidores. Do outro lado, quem perceber a forma como isso causará impacto para o seu modelo de negócios poderá criar experiências verdadeiramente únicas utilizando realidade aumentada, capazes de converter até o mais cético dos clientes.
Arthur Igreja – Parte delas, sim. O tema inovação ganhou muita notoriedade nos últimos dois anos e agora, passada a fase mais crítica de instabilidade política e econômica do Brasil, as empresas mudarão seu direcionamento de foco pela sobrevivência para a diferenciação através da inovação. A proporção ainda é minoritária, mas pesquisa da consultoria Deloitte aponta que o traço comum entre as PMEs que mais crescem no Brasil é a maior capacidade de inovação frente aos concorrentes. Estas terão resultados antes e provocarão uma segunda onda de investimentos, pois elevarão o nível de exigência em seus mercados.
Quais são as novas tecnologias que vão impactar o Brasil em 2018?
Ricardo Amorim – De acordo com o Gartner, o uso da inteligência artificial (IA) para aprimorar a tomada de decisões, reinventar modelos de negócios e ecossistemas e melhorar a experiência do cliente será um dos principais propulsores dos lucros das iniciativas digitais até 2025. Sistemas dotados de IA movimentarão US$ 70 bilhões já nos próximos quatro anos, reforça estudo do Bank Of America Merril Lynch. Para isso, as organizações terão de investir em processos e ferramentas para construir sistemas melhores.
Allan Costa – A IA chegará com mais força para se destacar em diversos tipos de negócios, principalmente no uso aliado à criatividade. A tecnologia vai chegar às escolas para conectar o ensino com o que está acontecendo no mundo. No varejo, haverá maior interação das lojas com a realidade aumentada. Veremos uma grande mudança de percepção. As formas de pagamento estarão ainda mais centralizadas no celular. O autoatendimento será mais utilizado.
Arthur Igreja – O ano de 2018 deve ser marcado pela chegada do 5G, o que significa uma velocidade de transmissão de dados 100 vezes maior do que a que temos atualmente. Isso favorecerá que muitas tecnologias já existentes funcionem melhor e se expandam, por exemplo, internet das coisas, vídeos em alta definição e realidade virtual. Esse movimento já teve início nos Estados Unidos e Europa. No Brasil, deve começar a se tornar mais presente em 2019.