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POR NATHALIA HEIN, FOTOS: MIRO, STYLING: MILTON CASTANHEIRA, BELEZA: ANA ANA
Quando começou a cursar a faculdade de economia, Ricardo Amorim ainda tinha dúvidas sobre a carreira que gostaria de seguir. Curioso e incansável, pensou em ser professor, atleta, médico geneticista, físico, jornalista e administrador. Mal podia imaginar que, pouco mais de duas décadas depois, se tornaria um dos nomes mais conceituados e uma das principais referências em assuntos econômicos no Brasil. Palestrante, autor, apresentador, mentor, gestor de investimentos, empreendedor e influencer de economia mais destacado do setor – ele foi considerado a pessoa mais influente do mundo no Linkedin e soma quase um milhão de seguidores no Instagram –, Amorim é também um otimista inveterado, embora não deixe que isso interfira em seu radar e em suas previsões precisas do cenário econômico do Brasil e do mundo. Ao se aproximar do grande público através de sua atuação nas redes, percebeu uma nova vocação. “O que eu busco é tentar empoderar as pessoas para construírem os futuros e as vidas que elas gostariam de ter”, diz ele que, para concretizar esse sonho, planeja lançar um grandioso e ousado projeto de educação, onde um dos pilares principais será a oferta de educação financeira para os brasileiros. “Isso é uma das coisas que vai ter que acontecer se a gente quiser mudar o país”, afirma.
De acordo com levantamento recente da Universidade Johns Hopkins, você é o segundo brasileiro no ranking mundial de comentaristas de economia mais influentes. Como encara esta responsabilidade? Como você se tornou uma das pessoas mais influentes do mundo econômico?
Stan Lee, criador do Homem-Aranha, eternizou a seguinte frase: “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Eu acho que ser um influenciador em qualquer área traz grandes responsabilidades, porque acabamos ajudando pessoas a construírem sua própria forma de ver o mundo – e tem que ser uma ajuda, não uma imposição. Uma das coisas que tento fazer é educar as pessoas sobre como a economia, o mundo da inovação e dos negócios funciona, porque isso transfere o poder para cada uma, dá a capacidade de tomar melhores decisões, poderem ser mais felizes, construírem vidas mais legais. Isso para mim é ao mesmo tempo sensacional e uma grande responsabilidade. Eu nunca busquei por isso, foi acontecendo naturalmente: acredito que as grandes coisas da vida acontecem como consequência, não como uma busca.
Você é um liberal tradicional que acredita no mercado e na individualidade das pessoas. De que forma você acha que a educação financeira poderia ser levada à população mais jovem, de maneira que o brasileiro se torne mais interessado e lúcido com relação ao universo da economia, seus reflexos na vida cotidiana e mitos?
Uma coisa que precisa ficar clara é que eu acredito que liberalismo econômico é importante, em primeiro lugar, para ajudar a gerar mais riqueza e para que ela seja mais bem utilizada para gerar mais oportunidades para todos. Eu não acho que liberalismo absoluto seja a solução em lugar nenhum do mundo, mas acho que, sem dúvida nenhuma, no caso do Brasil, há excesso de presença do Estado, o que gera uma deturpação onde muita gente tem como objetivo ser próximo de quem controla o controla e passa a “mamar nele”. Isso distorce todo funcionamento da economia brasileira e empobrece a sociedade. Mas isso não significa que eu não ache que a gente deva ter o Estado atuando para garantir oportunidades e educação básica para todos. Aliás, se ele está em tudo, por que não faz o pouco que e deveria fazer bem feito? Esse é o grande defeito. A educação financeira é fundamental, não apenas para melhorar diretamente a vida de cada um dos brasileiros, mas para melhorar o país. Tanto que pretendo lançar, em breve, um projeto grandioso de educação em que um dos pilares fundamentais será oferta de educação financeira de qualidade para os brasileiros, porque se a gente quer mudar o país, isso é uma das coisas que vai ter que acontecer. O objetivo é mudar essa realidade e devolver aos brasileiros a posição de motoristas de suas próprias vidas e do destino do país como um todo.
A retomada econômica do Brasil está mais positiva do que se esperava. Se você fosse Ministro da Economia por um dia, qual seria sua principal ação?
Em geral, a equipe econômica do atual governo tem feito um bom trabalho, em particular em resposta à pandemia, os resultados econômicos vêm sendo bons e só não foram melhores em função da péssima condução do Brasil no combate à própria pandemia, o que acabou encarecendo demais os custos para reativar a economia. Onde eu acho que a equipe econômica vem errando, basicamente, é na reforma tributária. A proposta enviada ao governo pelo congresso veio com um monte de problemas graves. O primeiro deles é que a ideia da reforma tributária é exatamente pelo tamanho dos gastos públicos pós-pandemia. O que aconteceu é que o governo gastou um dinheiro que não tinha. E parte desses gastos vem sendo incorporada de forma permanente, em particular com uma parte maior de gastos sociais, e esse dinheiro precisa ser pago de alguma forma. A forma correta de fazer isso seria cortando gastos públicos de forma agressiva do outro lado – e uma coisa importante para isso é a reforma administrativa. O Brasil já é um dos países emergentes que mais cobra impostos e está aumentando mais ainda essas taxas. Por conta disso, há algumas coisas no projeto que criam problemas graves, como a tributação sobre dividendos, um crime, porque basicamente o que ela vai fazer é reduzir a rentabilidade do investimento. Quando você reduz a rentabilidade do investimento, o investimento vai para outro lugar (onde a rentabilidade é maior) e isso pode matar o nosso ecossistema de inovação que vinha crescendo muito bem nos últimos anos, com perspectivas fantásticas. Tem gente do próprio setor dizendo que as empresas vão passar a investir em outros países e vão levar com elas empregos. O resultado vai ser um país com menos empregos, menos renda. Em resumo, é uma medida que empobrece os brasileiros. Não é o caminho. Se eu fosse Ministro da Economia por um dia, mudaria radicalmente. Eu expandiria a proposta de reforma administrativa e exigiria apoio do presidente junto ao congresso para que seja a primeira coisa aprovada e, segundo, eu expandiria o programa de privatizações e dava mais competitividade e eficiência para a economia brasileira. Ainda, com os recursos arrecadados, sobraria espaço para fazer uma reforma administrativa que reduzisse o total de impostos pagos no Brasil e não aumentasse, como é a proposta atual.
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