A economia brasileira vai crescer muito mais do que as pessoas acreditam, afirma o economista Ricardo Amorim

11/01/2018

 Sistema OCB

 

 
Os brasileiros devem começar a sentir, nos próximos anos, os efeitos pós-crise econômica. E, se as previsões do economista Ricardo Amorim se confirmarem, eles serão positivos! O especialista em administração e finanças internacionais foi o convidado especial do último evento com foco econômico e destinado a cooperativas de crédito, realizado, em 2017, pelo Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop). O evento ocorreu na Casa do Cooperativismo Brasileiro, em Brasília, na quinta-feira, dia 14/12.
 
Ricardo Amorim, que atua no mercado financeiro desde 1992, dentro e fora do país, sempre como economista e estrategista de investimentos, apresentou um estudo no qual é possível visualizar que, desde 1900, todas as vezes que o Brasil viveu uma grande recessão, os anos seguintes registraram um crescimento econômico favorável.
 
Segundo ele, esse fenômeno vai voltar a ocorrer nos próximos três anos. Ele considerou a atual crise econômica, pela qual passam os brasileiros, como algo de proporções que o Brasil nunca viu antes. Amorim também fez questão de frisar que o momento de as cooperativas crescerem é agora, já que o cenário é favorável para ramos como crédito, agropecuário, saúde e educacional.
 
Ele que é um dos debatedores do programa Manhattan Connection da Globo News desde 2003 e colunista na revista IstoÉ, é o entrevistado desta semana no portal do Sistema OCB. Confira abaixo o que ele pensa sobre crise, oportunidade e cooperativismo. ​​
 

Em momentos de crise econômica, qual o grande problema das expectativas, independentemente de serem positivas ou negativas?

 
A questão das expectativas é que elas refletem o passado e não o futuro, normalmente. Quando o passado é bom, as expectativas tendem a ser muito altas. Quando o passado é ruim elas tendem, pelo contrário, a ser muito baixas.
 
Ou seja, como o passado recente da economia brasileira foi péssimo, as expectativas são as piores possíveis. A gente viveu a mais longa, profunda e grave crise econômica da história brasileira e ela veio junto com uma crise política e moral, também, em proporções que o Brasil nunca tinha visto. E a conclusão é: o brasileiro tem expectativas muito ruins para os próximos anos, considerando o aspecto econômico.
 
Eu, ao contrário, tenho exatamente as expectativas opostas. Porque, se analisarmos a história brasileira desde 1900, todas as vezes que vivemos crises econômicas graves, na sequência o que nós tivemos foi um crescimento econômico muito forte.
 
Veja só, todas as vezes que saímos de uma crise econômica muito aguda – e nenhuma delas foi tão aguda quanto essa, o Brasil cresceu, pelo menos 5% ao ano, por pelo menos três anos seguidos, na sequência.
 
Hoje, os economistas estimam um crescimento econômico de 2% para o Brasil, nos próximos três anos, na média. Contudo, para mim, a economia brasileira vai crescer muito mais do que as pessoas acreditam, atualmente. 
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Então, uma crise é importante para o processo econômico?

 
Ouvimos falar muito que as crises trazem oportunidades, mas eu prefiro pensar diferente. As crises, na verdade, trazem problemas! O que pode trazer oportunidade é como nós reagimos a elas. No cooperativismo, por exemplo: o que faz com que se converta crise em oportunidade é exatamente o fato de que as pessoas se aproximarem mais.
 
Então, o que a crise cria é a oportunidade de nos reinventarmos de uma forma melhor e mais forte. Se as cooperativas conseguirem ter a capacidade de melhorar seus processos, suas equipes, seu atendimento, seu serviço e seus produtos, aí, sim, elas terão criado as oportunidades.
 

Mas é possível registrar crescimento, sem passar por uma crise?

 
Em tese, sim, mas infelizmente, a natureza humana mostra que só nos mexemos quando a coisa fica difícil, não quando a coisa está fácil. Eu costumo dizer, em tom de brincadeira, que sou uma pessoa ‘do contra’. Quando as coisas vão bem, costumo ser aquele que faz o papel de chato, que alerta para não afrouxar, que é o costumamos fazer, já que tudo está favorável.
 
Quando as coisas estão indo bem, achamos que continuarão caminhando bem sozinhas, mas isso não acontece. Elas só foram bem, graças ao que fizemos bem anteriormente. É por isso que precisamos continuar assumindo o nosso papel de protagonista para que as coisas continuem indo bem. Afinal, tudo é reflexo do que fazemos.
 
A crise faz o contrário. Quando as coisas vão mão, elas nos apertam, nos chacoalham e aí, sim, percebemos que precisamos fazer o que precisa ser feito para tudo melhor. 
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Então, considerando esse cenário em que as coisas começam a melhorar, quais as oportunidades que as cooperativas têm diante de si?

 
Falando especificamente sobre as cooperativas de crédito, a grande oportunidade vem do fato de que, hoje, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, não estão em uma situação financeira tão tranquila quanto estavam há alguns anos.
 
Na minha opinião, isso se deve a algumas diretrizes erradas de pisar no acelerador num momento em que a economia brasileira estava piorando (estamos falando de três, quatro anos atrás). Essas diretrizes erradas causaram alguns problemas de crédito na carteira dessas duas instituições, deixando-as mais limitadas para expandir seu crédito.
 
Os bancos estrangeiros têm reduzido sua presença no Brasil e os bancos privados também têm sido reticentes. Isso é que cria as oportunidades para as cooperativas de crédito.
 
Outro ponto, é que as cooperativas, de maneira geral, atuam nos setores que estão entre os que mais crescem no Brasil. Dentre eles, posso citar três:
 
– Educação: temos a participação de cooperativas muito importantes nesse setor. O Brasil viveu um momento de expansão da classe média – fenômeno que deve volta a ocorrer nos próximos anos – e isso fez com que muitas pessoas buscassem mais educação.
 
– Saúde: o mesmo fenômeno fez com que muitas pessoas buscassem mais saúde. E essa é uma outra área em que as cooperativas são muito fortes. Aliás, saúde é um setor que as pessoas tendem a buscar cada vez mais, porque o setor público está em uma situação financeira difícil, limitando sua capacidade financeira de prover esse serviço básico ao cidadão. Consequentemente, isso gera oportunidade para quem trabalha com saúde no setor privado.
 
– Agronegócio: esse setor vem sendo e continuará a ser um dos motores da economia brasileira, porque a demanda por comida no mundo, principalmente vinda da China e da Índia, deve crescer muito mais nas próximas décadas. E isso gera, mais uma vez oportunidades para as cooperativas agrícolas porque elas são muito fortes.
 
Aliás, por falar em cooperativas agropecuárias, temos um outro fator de oportunidade para todas as outras cooperativas: graças ao agronegócio forte, o interior do país também tem se fortalecido muito.
 
Nos últimos 15 anos, para se ter uma ideia, as cidades do interior cresceram muito mais que as capitais brasileiras. E em 2018 isso não será diferente. A grande questão é que, as cooperativas, em geral, têm uma grande presença nas cidades do interior do país, especialmente as agropecuárias e de crédito.
 
 

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