Let’s Go Aspas – Riscos e Cenários que podem mudar a economia brasileira e global
11/2025
Let’s Go Bahia / Por Vitor Evangelista
Nascido em São Paulo, o menino que sonhava em ser astronauta hoje é o mais influente e respeitado economista do país, reconhecido no Brasil e no exterior. Mas aquele garoto curioso, que queria explorar o espaço, também sonhou em ser muitas outras coisas antes de chegar aonde chegou. Quando o período do vestibular se aproximou, ele ainda não tinha clareza sobre o futuro. Apaixonado por esportes, cogitou cursar Educação Física. Fascinado pela inovação, pensou em seguir Física, estimulado pelos avanços da supercondutividade a frio, ou Medicina, atraído pelas descobertas da Engenharia Genética. Jornalismo, Publicidade e Administração de Empresas também entraram em seu radar. O Jornalismo, de certa forma, ele acabaria exercendo mais tarde; Administração, que não cursou, surgiria em uma pós-graduação e no comando de empresas. A Publicidade esteve presente desde cedo, inspirada em seu pai, que era publicitário. Foi justamente o pai quem lhe deu a direção decisiva ao sugerir Economia, uma formação ampla e útil para qualquer caminho. O conselho fez sentido. Ao optar por Economia, Amorim encontrou um campo fértil que lhe abriu horizontes e permitiu unir todos os seus interesses: fundou negócios, transitou pelo Jornalismo, seguiu próximo à inovação e nunca deixou de praticar esportes.
Da inquietação juvenil nasceu uma carreira multifacetada que cruzou Nova Iorque, Paris e São Paulo. Ricardo Amorim tornou-se especialista em traduzir o “economês” e alguns de seus conceitos mais áridos em exemplos práticos, compreensíveis para qualquer pessoa. Sua habilidade de comunicação o transformou em voz onipresente: participa de programas de rádio, escreve para publicações renomadas (como articulista da Let’s Go Bahia), palestra em congressos internacionais, eventos empresariais e universidades renomadas, comanda sua própria consultoria e foi o único brasileiro incluído entre os melhores palestrantes do mundo pelo Speakers Corner.
Por quase duas décadas, o economista, jornalista, escritor, palestrante e apresentador integrou o Manhattan Connection, na GloboNews, um dos mais notórios programas de mesa-redonda do país, e é também autor do best-seller “Depois da Tempestade”.
Considerado o economista mais influente do Brasil e listado entre as 100 personalidades mais relevantes do país, segundo a Forbes, Amorim é também o maior influenciador latino-americano no LinkedIn e #1 Top Voice Influencer da plataforma no Brasil. No digital, é uma potência: 1 milhão de seguidores no Facebook, 1,7 milhão no Instagram e cerca de 3 milhões no LinkedIn.
Em 2008, antecipando a crise global, Amorim retornou ao Brasil e fundou a Ricam Consultoria, hoje, referência em análise estratégica e tendências econômicas. Essa visão de antecipação e leitura de cenários é o que faz dele uma bússola em tempos de volatilidade. Foi eleito seis vezes o profissional mais admirado da imprensa brasileira de Economia, Negócios e Finanças, venceu 11 Prêmio iBest, é cofundador da Smartrips, Da Mentoria Ricardo Amorim, e comanda o podcast Economia Falada, eleito em 2019 como um dos melhores do país e nº 1 de Empreendedorismo no Apple Podcast. É ainda Comendador do Agronegócio Brasileiro.
Para a Let’s Go Bahia, tê-lo como articulista é uma das mais valorosas conquistas da revista e para mim, jornalista ávido pelas pautas econômicas e geopolíticas, é uma experiência incrível poder entrevistá-lo. O momento atual, marcado pelo chamado tarifaço de Trump, exige clareza, análise fria, visão global e eloquência. Este cenário inaugura um novo capítulo no tabuleiro geopolítico e econômico, com repercussões imediatas para o Brasil e para o mundo.
E, claro, nós aqui na Let’s Go não abriríamos mão de trazer o nosso articulista para uma entrevista completa e detalhada sobre os impactos que a imposição de tarifas pelo governo norte-americano tem gerado, não somente no Brasil, mas no mundo. Mais do que nunca, precisamos de interpretações que nos ajudem a compreender riscos, estratégias e oportunidades deste cenário.
Entre um voo, um embarque e um aeroporto diferente, Ricardo Amorim encontrou tempo em sua agenda lotada para conversar conosco e falar sobre as perspectivas, os riscos e os cenários de curto e longo prazos em torno do tarifaço e os seus impactos.
ASPAS:
“Foi meu pai quem me sugeriu cursar Economia, acreditando que seria uma formação ampla e útil para qualquer caminho. Ele estava certo. Sou muito feliz com o que faço e agradeço a ele por ter apontado a direção que me permitiu reunir tudo aquilo que amo em uma só escolha.”
Perguntas:
O “novo normal”
O tarifaço de Trump parece ter implodido a ordem mundial construída pelos próprios EUA e levado o livre comércio de volta ao século 19. As tarifas são sempre um mecanismo negativo ou podem ser consideradas ferramentas legítimas no quite de políticas industriais?
R: Em situações muito específicas e por prazos curtos, tarifas, sim, podem ser um instrumento que permita com que subsetores da indústria, em determinadas condições – por exemplo, em que outros países estão despejando um determinado produto a preços, às vezes, até abaixo de custo de produção – não enfrentem uma quebradeira generalizada. Só que isso é parecido com morfina: por um período bastante limitado, ela consegue segurar a dor. Se você a mantiver por tempo demais, mata o paciente. Em efeitos práticos, aplicar tarifas por muito tempo leva setores a se acomodarem, a ficarem pouco competitivos, pouco eficientes, com custos muito altos. Eu acho que o melhor exemplo disso foi a reserva de mercado de informática no Brasil.
O risco da dívida pública
Trump parece achar que a tarifa ajudará a sanar, inclusive, a dívida pública. Falando em dívida pública, o megapacote fiscal de Trump, apelidado de “Big Beautiful Law”, deve aumentar a dívida pública dos EUA em US$ 3 trilhões. Por onde caminha a solução da dívida pública da maior economia do mundo?
R: O governo Trump não tem estratégia para reverter o processo de crescimento da dívida pública. Ele parece acreditar que isso não será um problema, pois historicamente a credibilidade que os EUA sempre tiveram levaria a uma disponibilidade crescente de recursos para financiá-la. Isso talvez fosse uma boa hipótese até algum tempo atrás, mas cada vez mais isso parece menos verdadeiro. O próprio governo tem gerado antagonismo no mundo inteiro. Logo, uma disponibilidade de capital cada vez menor. Para piorar, as duas medidas que deveriam levar a uma pequena melhora das contas não são suficientes para cobrir o gasto adicional do novo pacote. A primeira, o Dodd, a iniciativa do Elon Musk de corte de gastos, teve um efeito ínfimo. A segunda são as tarifas. O que está claro é: a dívida pública continuará a aumentar. O que está menos claro é: até quando investidores vão se dispor a financiar ou, se em algum momento, alguém gritará “O rei está nu”.
BRICS
A guerra tarifária de Trump tem atingido todo o alfabeto, mas algumas letras parecem que têm recebido uma atenção maiordo presidente norte-americano. O B de Brasil, o R de Rússia, o I de Índia, C, de China e o S de South Africa (ou África do Sul). Você percebe alguma inclinação de Trump contra o BRICS? Lula chegou a sugerir uma resposta coordenada do BRICS. Isso é factível?
R: Trump tem brigado com o mundo inteiro, não somente com o BRICS, mais particularmente com a União Europeia. Já a briga frequente com o BRICS tem a ver com a desconfiança, as potências que possam crescer e eventualmente rivalizar em algum momento com os Estados Unidos. Uma resposta coordenada do BRICS, excluindo os Estados Unidos, como sugerida por Lula, faz sentido, mas não deveria ser limitada ao BRICS, deveria ser uma política coordenada globalmente, excluir os Estados Unidos. E esse movimento, seja via BRICS ou mais amplo como proponho, não deveria ser feito de forma aberta, mas, sim, velada. Em outras palavras, o Lula deveria, sim, mobilizar o BRICS, mas não deveria falar sobre isso. O fato de o Lula anunciar uma proposta dessas é muito mais para o consumo interno do que realmente para buscar uma solução.
Uso político das tarifas
Por aqui, as sobretaxas contra os produtos “Made in Brazil” passaram para 50%, em meio a um temperinho político e à participação especialíssima de Eduardo Bolsonaro. Na Rússia, apesar do bromance diplomático com Putin, tarifas passaram a ser usadas para pressionar por um cessar-fogo.E até a Índia, antiga aliada, ganhou mais 25% de tarifas, ou seja, um total também de 50%, pois comprou petróleo de Moscou. Como você vê esse uso político das tarifas?
R: As tarifas aumentam o custo dos produtos que chegam aos EUA, e em um momento em que a política anti-imigração aumenta, também aumenta o custo dos produtos produzidos nos EUA. Mantidas essas duas políticas, o consumidor americano vai pagar mais caro, vai ter mais inflação, juros mais altos, e com a dívida pública grande, os juros mais altos pesam. O ganho é muito maior do ponto de vista do Trump, do que do ponto de vista americano, ou, às vezes, nem há ganho americano algum. No caso do processo jurídico e político brasileiro, tem muito mais a ver com uma preocupação do Trump de que seja criado um precedente de um ex-presidente derrotado nas eleições, que teve apoiadores invadindo o Congresso, eventualmente condenado na Justiça. Se isso acontecer no Brasil, nada impede que alguém levante a questão: “Será que os Estados Unidos também não deveriam fazer alguma coisa?”. Trump está preocupado com a situação específica dele.
Cão que ladra não morde? (TACO)
Você afirmou recentemente que a decisão de Trump de impor um tarifaço de 50% assustou, mas o impacto terminou sendo menor do que parecia. De fato, cerca de 700 produtos brasileiros terminaram poupados no decreto final, entre eles: suco de laranja, madeira, petróleo e avião. Há espaço para alguma comemoração?
R: Comemoração seria demais, mas é um impacto negativo menor do que se estimava inicialmente. A economia brasileira é fechada, a gente só exporta o equivalente a 15% do PIB brasileiro, o que é muito menos do que outros países, e a participação americana nessas exportações é relativamente limitada, são somente 12% do total que o Brasil exporta. Portanto, 12% de 15% equivalem a 1,8% do PIB, isso é o que o Brasil exporta para os Estados Unidos. A maior parte dos produtos que o Brasil exporta nem está sujeita ao tarifaço. Aliás, em 55% deles, a nossa tarifa é de 10%, é menor do que a tarifa média hoje cobrada pelos EUA, que é de pouco mais de 15%. Então, nesses produtos, os exportadores brasileiros estão até em condição melhor de competição. Em 19%, elas são sujeitas à tarifa externa comum. Sobram 36% dos produtos, esses, sim, sujeitos à tarifa de 50%. Então, para facilitar a conta: 36% representam um pouco mais de 1/3. Se eu pegar 1/3 de 1,8% do PIB (que é o total do que a gente exporta para os EUA), o máximo de impacto negativo é de 0,6% do PIB do Brasil.
Impacto tarifário na inflação
O IPCA 15, que registra a prévia da inflação, registrou uma queda de 0,14% nos preços em agosto. Ou seja, a primeira deflação nos últimos dois anos. Ao que você atribui essa queda? Poderíamos considerar que o tarifaço de Trump é um dos elementos que ajudaram a impulsionar a deflação no Brasil?
R: A maior deflação foi nos alimentos, que é exatamente a parte mais impactada pelas tarifas do Trump. Então, sim, já há um impacto inicial das tarifas ajudando a derrubar os preços no Brasil, mas aquilo foi só o começo, pois o tarifaço entrou em vigor no dia 7 de agosto e a inflação foi medida no período de 15 de julho a 15 de agosto. Ou seja, só pegou uma semana desse impacto. A tendência é que a gente tenha mais deflação nos próximos índices.
Impacto tarifário na meta fiscal
Até pouco tempo, o mercado apostava que a taxa Selic só cairia a partir do ano que vem. No entanto, depois do tarifaço, alguns setores do mercado já começam a apostar em queda de juros neste ano. Como você vê essa questão, levando em conta também as medidas de socorro para áreas afetadas pelo tarifaço, que, claro, impactarão o equilíbrio fiscal?
RESP: A situação fiscal brasileira não é boa e o pacote de ajuda às empresas impactadas pelo tarifaço piora um pouquinho, mas o impacto é muito pequeno. O gasto total fiscal, cerca de R$ 10 bilhões, é muito pequeno em relação ao tamanho da economia brasileira e ao próprio déficit. Então, não é isso que vai fazer grande diferença. E com relação à queda da taxa de juros, ainda é muito cedo para sabermos se já começa no final deste ano ou no primeiro trimestre do ano que vem, mas ela vai acontecer e deve continuar ao longo do ano que vem.
Autonomia do Federal Reserve
Falando em juros, Trump demitiu a diretora Lisa Cook, aumentando a pressão sobre o Fed, o Banco Central dos EUA. A medida é inédita em 111 anos de existência da instituição e alarmou o mercado. Essa não foi a primeira investida do presidente norte-americano contra a independência do Federal Reserve, mas seria a mais grave? É motivo para preocupação?
R: O Brasil é que deveria copiar o que deu certo por mais de um século nos EUA, e o que a gente vê é o contrário, são os EUA adotando políticas que deram errado no Brasil, como tarifas altas, reserva de mercado e ataque ao Banco Central. Isso sempre foi e foram políticas adotadas por “Repúblicas das Bananas”. E agora a gente vê os EUA fazendo isso. O pior: isso vira exemplo. No Brasil, já há uma discussão no Congresso de um projeto que permitiria ao Congresso demitir diretores do Banco Central, e, portanto, retiraria a autonomia do Banco Central e desses diretores de tomar decisões sem interferência política. O resultado prático é de juros mais altos, pois o risco para quem tem dinheiro neste país aumenta quando um presidente pode tirar um diretor do Banco Central, por exemplo, que está tentando segurar a inflação.
Transição hegemônica e o Brasil
Analisando a transição da hegemonia britânica para a norte-americana e tendo em vista como será diferente a transição hegemônica dos EUA para a China, são percebidas características coercitivas (como força militar, econômica) e não coercitivas (como ideário, valores, cultura). Onde se encaixa o Brasil nessa nova ordem mundial? Será possível equilibrar-se entre esses dois polos de poder? Até quando?
R:Sempre que surgem novas potências hegemônicas, há conflitos. Muitas vezes são conflitos bélicos, mas nem todos se transformam em mudanças de hegemonia. Nos anos 1980, o Japão vinha emergindo como um potencial desafiante ao poder americano. E isso se reverteu. Pode ser que a mesma coisa aconteça com a China, até por uma questão demográfica. Então, é muito cedo para ter certeza. Do ponto de vista brasileiro, não há interesse em tomar lado, a menos que se chegue a um ponto de guerra aberta entre os países. O Brasil tem que se manter neutro, continuar fazendo negócios com ambos e buscar os interesses brasileiros. O que chama a atenção é que as políticas de Trump têm gerado um antiamericanismo muito forte. Saiu recentemente uma pesquisa no Brasil mostrando que hoje há mais brasileiros com opinião favorável à China do que aos EUA. O que surpreende, levando em consideração questões culturais, o próprio regime político. Então, um dos fatores que vai pesar vai ser a própria opinião pública e quem vier a ser o presidente brasileiro. Mas, de novo, não há razão alguma para fazer isso [escolher lados] hoje
Mensagem final
Qual é o recado que você deixa para empresários, investidores e cidadãos neste momento em que incertezas e oportunidades caminham lado a lado?
R:Toda vez que as incertezas e as transformações são grandes, é necessário, primeiro, acompanhar tudo que acontece; e ter agilidade de resposta é fundamental. Em segundo lugar, está a necessidade de criar e adotar coisas que tenham flexibilidade. Em outras palavras, que você possa mudar de rumo relativamente fácil. Em termos práticos, isso significa não colocar todos os ovos na mesma cesta.
Economista destaca efeitos da disputa comercial entre potências, consumo interno aquecido e ganhos de produtividade como motores do setor de proteína animal 10/2025 Feed &
09/2025 Estação FM 89.5 / Fotos: Greice Scotton Locatelli / Divulgação A palestra do maior economista do Brasil, Ricardo Amorim, atraiu um público superior a
Transformações tecnológicas, econômicas e demográficas pautam imersão promovida pela ALFA Educação Executiva, que estão redesenhando o mercado e colocam Goiás em posição estratégica 09/2025 O
LGPD & Cookies
Nós usamos cookies no nosso website para que possamos entregar uma experiência mais relevante no seu primeiro acesso ou retorno ao site da Ricam Consultoria. Clicando em "Aceitar", você concorda que nós usemos TODOS os cookies. Confira nossa Política de Privacidade
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. This category only includes cookies that ensures basic functionalities and security features of the website. These cookies do not store any personal information.
Any cookies that may not be particularly necessary for the website to function and is used specifically to collect user personal data via analytics, ads, other embedded contents are termed as non-necessary cookies. It is mandatory to procure user consent prior to running these cookies on your website.
Midia Kit
Solicite aqui o Media kit Ricam!
Para Baixar nosso conteúdo, você precisa aceitar os termos da nossa Politica de Privacidade.