Matéria sobre palestra de Ricardo Amorim para o FICON, Fórum da Indústria da Construção de Santos e Região

05/2015

Jornal A Tribuna

RICARDOAMORIM47

Foto: Ricardo Correa

 
Quanto tempo a economia do País deve levar para se recuperar?
 
Isto dependerá primordialmente da evolução do quadro político e do ritmo e profundidade da implementação das medidas de ajuste fiscal e de combate à inflação e seus impactos sobre a confiança de empresários e consumidores.
 
Ainda neste trimestre e no próximo, é provável que haja comportamentos bastante distintos entre setores de bens não duráveis, como supermercados e farmácias, e os de bens duráveis, como o automotivo e o imobiliário. Com a confiança de consumidores nos níveis mais baixos da história, consumidores optam por adiar a troca do carro e da casa, impactando muito negativamente a venda destes produtos. Por outro lado, isto aumenta a renda disponível para gastos com produtos como alimentos e cosméticos, favorecendo o desempenho destes setores, o que aliás já aconteceu no primeiro trimestre.
 
Por outro lado, pela primeira vez em cinco anos, é provável que terminemos o ano melhor do que começamos e com perspectivas melhores para os próximos anos. Se conseguirmos arrumar a casa ainda em 2015, retomando a confiança de empresários e consumidores, podemos retomar um ciclo de crescimento mais acelerado no final do ano e nos anos seguintes.
 
2016 será um ano melhor do que 2015, mas o quanto melhor dependerá da profundidade dos ajustes que forem feitos em 2016. Quanto mais profundos os ajustes em 2015, mais a economia sentirá neste ano, mas mais fortemente ela se recuperará em 2016 e nos anos seguintes. A questão é em que ritmo e em que profundidade faremos os ajustes necessários para que os anos seguintes sejam melhores, eventualmente muito melhores. Ainda não temos uma resposta a esta questão. Por um lado, a nova equipe econômica tem o diagnóstico correto. Por outro, o apoio político, tanto por parte da Presidente quanto do Congresso à adoção das duras medidas necessárias, parece longe de garantido.
 
O que deve piorar na economia com o ajuste fiscal?
 
A economia brasileira está doente. O ajuste fiscal é parte do tratamento. Como uma quimioterapia, ela garante a sobrevivência do paciente, mas seus efeitos colaterais são significativos e inicialmente eles fazem com que o paciente se sinta pior. Mais grave, o ajuste fiscal que está sendo feito no Brasil é de péssima qualidade e, por consequência, os efeitos colaterais são mais nocivos. Qualquer ajuste fiscal pode ser feito tanto reduzindo-se gastos públicos, como aumentando-se as receitas do governo, elevando impostos. O atual ajuste já anunciado chega a R$110 bilhões, dos quais R$92 bilhões viriam de aumento de impostos e R$ 18 bilhões de cortes de gastos com auxílio desemprego e pensões. Esta parte do ajuste já foi reduzida pelo Congresso a
R$7 bilhões, o que exigirá novos ajustes, que provavelmente também virão de aumento de impostos. Ainda mais grave, como o ajuste fiscal retira dinheiro da economia, ele aprofunda a recessão, reduzindo a arrecadação de impostos, exigindo um novo aprofundamento do ajuste. O aumento de impostos sobre produção e consumo, por sua vez, encarece produtos, o que eleva a inflação e exige juros mais altos, o que também aprofunda a recessão. Dado que a carga tributária brasileira já é a 3ª mais elevada entre todos os países emergentes e a qualidade de serviços públicos que recebemos não é condizente com os impostos que pagamos, o ideal seria que todo o ajuste fiscal se concentrasse em corte de gastos públicos.
 
O governo conseguirá fazer o ajuste fiscal?
 
Acredito que sim, mas como dizia antes, temo que a qualidade do ajuste será péssima e com impactos muito dolorosos sobre a economia brasileira.
 
A alta recente da bolsa e o recuo do dólar são sinais de melhora?
 
São sinais de melhora de expectativas, mas ainda muito iniciais para garantirem tranquilidade. Em outras palavras, alguns dos maiores medos – como os associados com a incapacidade da Petrobrás sequer de publicar seu balanço – parecem ter diminuído, mas é prematuro afirmar que eles tenham sido eliminados, principalmente considerando-se que o cenário político continua muito conturbado com a Presidente com um nível de popularidade baixíssimo, o governo sendo constantemente derrotado em votações no Congresso e a evolução das investigações da Operação Lava Jato podendo trazer novidades que compliquem ainda mais o cenário político.
 
Quanto ao mercado imobiliário, qual a sua previsão? Acredita em um encalhe?
 
Acredito que 2015, assim como 2014, ainda será um ano muito difícil para quem constrói e vende imóveis, mas que as dificuldades que construtoras e corretores têm encontrado em vender são apenas um ajuste temporário em um processo de expansão acelerada iniciado há mais ou menos uma década e que ainda tem um período longo pela frente e que estas dificuldades para quem quer vender no momento representam uma ótima oportunidade para quem quer comprar imóveis.
 
 Como é abrir um evento como o Fórum da Indústria da Construção de Santos e Região (Ficon)? A Baixada Santista teve seu boom imobiliário impulsionado pela Petrobras e, agora, com todos os problemas vividos pela estatal e a situação da economia, esse movimento caiu. Qual a sua expectativa para esse setor na região?
 
É sempre um prazer uma honra abrir um evento importante como o FICON.
 
De fato, a Baixada Santista como um todo e mais especificamente seu mercado imobiliário têm sido negativamente impactos pelos problemas da Petrobrás, assim como várias outras áreas de exploração e petróleo por todo o país e mais especificamente no estado do Rio de Janeiro.
 
É inegável que em um momento que o mercado imobiliário em todo o Brasil tem passado por dificuldades, os impactos específicos dos problemas de caixa e consequente redução de investimentos da Petrobrás prejudica ainda mais regiões como a Baixada Santista, o que na minha opinião só aumenta as oportunidades do ponto de vista de quem quer comprar um imóvel na região. Dificuldades para quem quer vender são sempre oportunidades para quem quer comprar, desde que não estejamos à beira de um colapso do mercado imobiliário por aqui, coisa que eu realmente acredito que não seja o caso.
 
Desde 2008, fala-se que o Brasil teria uma bolha imobiliária para estourar. Com as vendas de imóveis caindo 50% em algumas cidades, o ano passado foi a prova do pudim. Houvesse bolha, os preços teriam despencado. Em Nevada, nos EUA em 2008, os preços chegaram a cair 80% em média. Não foi o que aconteceu por aqui.
 
No ano passado, a uma economia estagnada somou-se uma crise política muito grave que contribuiu para aumentar as incertezas e fortalecer o pessimismo. Neste cenário, a baixa procura por imóveis não é de surpreender.
 
Por outro lado, ao contrário do que alguns que diziam que o Brasil teria uma bolha imobiliária para estourar e que os preços dos imóveis cairiam 50% após a Copa do Mundo, mesmo com quedas de vendas de imóveis de mais de 50% em algumas cidades importantes, a Copa passou e os preços dos imóveis, na maioria dos casos continuaram subindo.
 
É provável que a alta de preços se desacelere ainda mais e que pequenas quedas de preços de imóveis sejam bem mais frequentes neste ano – gerando boas oportunidades para novos compradores – mas se os preços não despencaram nem em um cenário tão negativo, está comprovado que a teoria que teríamos uma bolha imobiliária em vias de estourar está furada, como venho defendendo desde 2007.
 
 Recebemos diversas ligações de pessoas com medo de um “novo Plano Collor” e que retiraram as economias da Poupança, entretanto, a atual inflação não chega nem perto da praticada naquela época. Esse medo é normal?
 
O medo hoje tem muito mais a ver com a necessidade de recursos do governo e uma linha de decisão de políticas econômicas populistas adotadas no primeiro mandato da Presidente Dilma do que com a elevação da inflação que, apesar de séria, não é nada que seja comparável aos períodos hiperinflacionários anteriores ao Plano Real. Pessoalmente, acho este risco muito baixo por uma merca questão de estratégia política do governo. Um grau de popularidade já tão baixo quanto o atual, com uma base de apoio no Congresso tão frágil e com investigações na Petrobrás que atingem o período em que a Presidente Dilma era Presidente do Conselho de administração da Petrobrás, assim como Collor, acredito que Dilma não conseguiria terminar seu mandato como Presidente se adotasse uma medida tão impopular.
 
A Poupança é considerada um investimento seguro, mas ao longo de um ano ela não deve superar a inflação do período. Esse dinheiro pode ser aplicado de outra forma, também considerada segura, e que equilibre a balança, inflação x rendimentos?
 
Em primeiro lugar, é importante entender que o conceito de segurança em investimentos é sempre depende do momento, das condições econômicas e do preço inicial a que o investimento é feito. Nenhum investimento é sempre seguro ou sempre arriscado.
 
Por exemplo, às vésperas do Plano Collor, quase todos achavam que a Poupança era um investimento seguro e ela se provou o contrário.
 
Por outro lado, no final de 2002 às vésperas da primeira eleição de Lula, com o dólar subindo muito e chegando a R$4,00, a Bolsa despencando e o Ibovespa chegando a 8.000 pontos e os imóveis vindo de um período de preços em dólares semiestagnados há quase duas décadas, a maioria acreditava que o investimento seguro era o dólar e que a Bolsa e os imóveis eram arriscados e deveriam ser evitados. O que aconteceu na sequência? Dali até 2008, o dólar caiu a R$1,55, a Bolsa subiu para 72.000, multiplicando por 9 o capital de quem investiu, e quem investiu em imóveis teve uma alta de preço em muitos casos até maior do que a da Bolsa.
 
Meu ponto é muito simples. O melhor investimento quase nunca é o que parece mais seguro, mas quase sempre o que parece mais inseguro. Aliás, ele é melhor exatamente porque a grande maioria acha que ele é inseguro e não o compra. Com isso, a procura por este investimento é muito baixa e, por consequência seu preço também. É exatamente a compra por um preço baixo que permite o bom desempenho do investimento no futuro.
 
O que torna investimentos em imóveis e Bolsa no Brasil ao longo deste ano atraentes é exatamente o fato que quase todos hoje acham que estes investimentos são muito inseguros e devem ser evitados.
 
Ricardo Amorim é apresentador do Manhattan Connection da Globonews, colunista da revista IstoÉ, presidente da Ricam Consultoria, único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do Speakers Corner e economista mais influente do Brasil segundo a revista Forbes internacional e uma das 100 pessoas mais influentes do Brasil segundo a Forbes Brasil.
 
Siga-o no Twitter: @ricamconsult.

 
 

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