01/2016
Foto: Ricardo Corrêa
O economista, presidente da Ricam Consultoria e apresentador do programa Manhattan Connection, Ricardo Amorim, proferiu a palestra “O cenário econômico e os reflexos no mercado imobiliário”, durante a Convensi – Convenção Anual do Sistema COFECI-CRECI. Antes de subir ao palco, ele conversou com a reportagem da Revista CRECI-RS sobre os desafios e projeções para o futuro.
Recentemente em uma palestra realizada em Porto Alegre, tu afirmaste que Porto Alegre seria uma das primeiras cidades a sair da crise. O que sustenta essa sua afirmação?
O cenário atual se divide em dois segmentos. O primeiro é a falta de crédito, em que a pessoa quer comprar e não pode. O outro é a falta de confiança, em que a pessoa pode comprar e está com medo. Isso criou um desequilíbrio em que a procura passou a ser menor do que a oferta. No caso do mercado de Porto Alegre, como o ritmo de expansão de oferta já é limitado naturalmente devido à dificuldade de aprovação, o desequilíbrio não é tão grande como em outras praças e é isso que faz com que haja uma recuperação um pouco mais rápida.
E nas demais cidades do Rio Grande do Sul?
Aí, é mais igual o tempo de recuperação. Falando em região metropolitana, pegando como exemplo Canoas, se sobra muito imóvel em Porto Alegre, mexe com o mercado em Canoas, porque o cara pode comprar e construir em um e/ou no outro. Já o impacto disso em Caxias do Sul é diferente, porque é um mercado diferente, com outras características e realidade.
E devido a toda esta situação de oferta e procura, este ano é um momento de mais dificuldade para o corretor de imóveis?
Sim
E tu acredita que 2016 será o ano da retomada?
Eu acho que é muito provável. A questão é: quando em 2016? Eu aposto no segundo semestre, porque é provável que haja uma retomada da economia. Essa retomada da economia pode acontecer em dois cenários diferentes. Para começar, temos que explicar por que a economia vai tão mal. A gente tem dois problemas: um político e um econômico, e um alimenta o outro. A crise política gera incerteza, insegurança que gera menos investimento, menos consumo e agrava a crise econômica. Já a crise econômica é formada por três grandes pilares: contas externas muito ruins, déficit na balança comercial, inflação muito alta e com as contas públicas em péssima forma, e isso precisa ser solucionado.
E isso vai se fazer da seguinte maneira: a alta do dólar gerará um aumento nas exportações e, por consequência, as contas externas melhorarão; por sua vez, a alta dos juros tira a capacidade de consumo das pessoas e faz com que as empresas não possam remarcar tanto os preços e aí a inflação vai cair; a única coisa que sobrou e ainda não está resolvida são as contas públicas, que dependem da vontade política. Ou o governo encontra formas de colocar as contas públicas em ordem para o dinheiro voltar, empresas investirem e com isso irá gerar emprego, retomar a confiança e investi-lo no mercado imobiliário. Em paralelo, a queda da inflação colabora com a queda dos juros, juros mais baixos, mais venda de imóveis. Se isso não acontecer a Dilma vai cair e se ela cair, assume alguém com mais força para fazer as mudanças que são necessárias. Num cenário ou no outro a situação do final do ano será melhor do que a atual.
Como economista, qual a medida que tu sugere que o corretor de imóveis adote para enfrentar este momento?
Bom, o mercado imobiliário tem um princípio de venda com o qual eu não concordo, que investir em um imóvel é sempre um bom negócio e é o investimento mais seguro. Mas quando o investimento é mais seguro? Quando ninguém quer comprar. O corretor tem que mostrar que a razão pela qual a pessoa tem que comprar um imóvel hoje é que ninguém está comprando. As pessoas ganham dinheiro quando a maioria não quer comprar, é uma oportunidade única.
Conselhos de Classe são autarquias federais e hoje está em discussão a implantação do Regime Jurídico Único. Tu considera esse novo modelo o mais adequado ou o que está vigente?
Eu acho que o problema não está no modelo, e sim na aplicação e na melhoria da gestão.
Uma das questões do Regime Jurídico Único é tornar os colaboradores de Conselhos em servidores públicos com todos direitos e deveres. Em contrapartida, um dos grandes problemas da economia é a previdência?
Você acabou de chegar no porquê tenho dúvidas. A única forma da gente fazer isso é mudar o regime jurídico dos servidores públicos. Em outras palavras, não acho que devam existir dois regimes. As regras de previdência deveriam ser as mesmas do FGTS. Só isso resolve o déficit do Brasil.
Se Ricardo Amorim assumisse a presidência ou o Ministério da Fazenda, além da reforma da previdência, quais medidas seriam adotadas para tirar o Brasil do buraco?
O ajuste que falta é o de contas públicas; mostrar que a mentalidade do Brasil em relação a contas públicas mudou. Eu criaria uma lei que força o governo a diminuir os gastos, estabelecendo que os gastos do governo não podem crescer mais do que 2% menos do que o crescimento do PIB nominal. Seria uma lei parecida com a lei de responsabilidade fiscal. Se fizer isso vai colocar as contas em dia e vai passar a tratar o dinheiro público como sendo de todos, hoje parece que é dinheiro de ninguém e todo mundo quer receber benefício do governo. Tem que mudar a mentalidade de que a solução dos problemas brasileiros passa pelo governo, para que o governo pare de atrapalhar a economia.
Tu considera que existe esperança para o Brasil?
Sem dúvida nenhuma, há um ano criei a página no Facebook #TemJeitoSim, um resposta à desesperança. Ali, junto casos de gente que está se dando muito bem apesar da crise. O que eu quero mostrar é que a crise do País não tem que ser a crise de cada um de nós; muita gente se dá bem apesar da crise; tem gente que se dá bem pela crise porque aproveita situações criadas pela crise. A crise é importante para o Brasil, pois o País vive uma crise moral, e se não fosse isso as pessoas não iriam para as ruas, não mudaria a legislação e criaria a nova lei de combate à corrupção, a Dilma continuaria tomando as decisões que nos levaram para a crise. Não fosse a crise econômica, não estaríamos ajustando as contas públicas, as contas externas.
Crise não é agradável, mas força a gente a fazer a lição de casa que não se faz quando as coisas estão tranquilas. Então a crise não é o problema, é o sintoma de todos os problemas e que nos faz resolver os problemas. O que espero é que aprendamos a lição, pois nunca devemos desperdiçar uma boa crise, senão viveremos outra.