11/2012
“Basta o Brasil não atrapalhar o Brasil”, diz Ricardo Amorim
Belo Horizonte – Na busca por um lugar no Mundo Desenvolvido, gerações de brasileiros se acostumaram a ver o país navegar contra a correnteza. Em contraste, na conjuntura internacional de 2012, os ventos são tão favoráveis, que o Brasil teria de despender mais esforço para encolher do que para crescer.
Essa ironia ilustrou a palestra “Um Olhar Global para Decisões Locais”, do economista Ricardo Amorim. Comentarista do programa Manhattan Connection, transmitido pela Globo News, ele abriu a segunda tarde do Encontro Regional de Agentes de Desenvolvimento do Centro-Oeste e do Sudeste, na terça-feira, 20, em Belo Horizonte (MG).
Sem ter resolvido questões fundamentais, como educação, infraestrutura, saúde, previdência, carga de impostos e combate à corrupção, o Brasil foi beneficiado pela valorização das matérias-primas e pelo barateamento dos produtos industrializados. Ambos os fenômenos foram provocados pelo apetite da China e da Índia, mercados gigantescos incorporados à economia globalizada.
Um exemplo: 10 anos atrás, um aparelho de TV custava 20 vezes mais do que hoje. Em contrapartida, no mesmo período, o preço do petróleo aumentou 10 vezes. No movimento dessa gangorra, as nações ditas de Primeiro Mundo apresentaram crescimento médio de 1,1% ao ano na década, enquanto o Brasil, nos últimos oito anos, avançou a 4,3%.
O país desperdiça essa oportunidade de corrigir seus graves problemas. “O Brasil paga imposto de país desenvolvido e recebe serviço de país pobre”, resumiu Amorim.
Um dos passos necessários é o de vencer a corrupção. Em uma média internacional, ela desvia 1,6% do PIB. No caso brasileiro, porém, corrói mais: 2,3%. Em números absolutos, são R$ 100 bilhões. Se essa quantia tivesse o uso correto, seria possível até extinguir imposto e, assim, reduzir os preços dos produtos e dos serviços. Na visão de Amorim, o envolvimento maior de micro e pequenas empresas nas compras governamentais ajuda a enfrentar a corrupção.
A questão é simples: “Se a gente não resolver os problemas, a gente cresce o dobro. Mas, se resolver, crescerá muito mais”.
Terra de oportunidades
A mudança econômica reverteu o fluxo: nos últimos cinco anos, 500 mil brasileiros voltaram para casa, ao deixar os EUA, a Europa e o Japão. Porque aqui é que estão as oportunidades. Neste ano, de cada 28 empregos gerados no Brasil, um é para estrangeiro. Em contraponto, nos EUA, há 1 milhões de postos de emprego a menos do que 10 anos atrás.
Um exemplo citado por Amorim: no ranking dos 10 jogadores mais bem pagos, seis jogam na China, na Rússia e no Brasil (neste caso, Neymar, do Santos). “Oportunidade atrai talento, que ajuda a gerar desenvolvimento”, observou.
A tendência para os próximos anos, na análise de Amorim, é a Europa continuar em crise, com um risco grande de agravar a recessão, e os EUA também. Enquanto isso, os empreendedores brasileiros têm um ambiente atrativo. Em síntese, ”para o Brasil dar errado, a gente terá de se esforçar muito mais”.