Abre alas, que a classe média quer passar.

Publicado em: www.clubelunico.com.br

março de 2010

 

Era uma vez um país tropical conhecido pelo samba, futebol e uma das piores distribuições de renda do mundo. De repente, as coisas começaram a mudar.

Pode ficar tranquilo, o futebol e o samba continuam coisa nossa. Onde parece que vamos perder o titulo é no último atributo.

Ainda que talvez seja difícil percebermos a olhos nus, a distribuição de renda brasileira vem melhorando estupidamente de 1994 para cá. O problema é que ela era tão ruim que, com tudo que melhorou, ainda está longe de ser a oitava maravilha do mundo.
No entanto, se continuar a melhorar no mesmo ritmo dos últimos 15 anos, antes de 2020 veremos algo inimaginável. A distribuição de renda no Brasil será melhor que nos Estados Unidos. Não, você não leu nada errado, nem eu estou ficando louco. Ok, talvez eu até esteja ficando louco, mas não pelo que acabei de afirmar.
Na última década, um milhão de empregos deixaram de existir nos EUA, enquanto a população aumentou em 30 milhões de pessoas e a distribuição de renda piorou bastante.
Enquanto isso, na terra da caipirinha, onde mais de 10 milhões de novos empregos foram gerados no mesmo período, os mais pobres foram os que mais ganharam e, muitas vezes, tiveram a chance de emergir da pobreza para a classe média, expandindo o mercado consumidor no país e melhorando sua distribuição de renda.
Apenas entre junho de 2003 e junho de 2009, em meros 6 anos, mais de 12% da população brasileira deixou as classes D e E – as duas mais baixas – e ingresou nas classes B e C. Estamos falando de mais de 20 milhões de pessoas.
Isto foi possível porque os mais pobres foram os maiores ganhadores da emergência brasileira dos últimos anos. A renda de toda a população brasileira cresceu, e não foi pouco, à medida que o país se beneficiou da fome chinesa pelas nossas matérias-primas e de baixas taxas de juros globais.
Para ser preciso, entre 2003 e 2008, a renda per capita do brasileiro aumentou, em média, em 18%. No entanto, a renda cresceu muito mais entre os menos favorecidos. Nesse mesmo período, os 20% mais pobres do país viram sua renda per capita aumentar 40%.
Além disso, a própria distribuição geográfica da renda vem melhorando. Nas regiões Norte e Nordeste, o poder aquisitivo tem crescido mais que no resto do país, o que, por sua vez, reverteu o fluxo migratório que, nos últimos anos, foi em direção a essas regiões. Some um menor inchaço dos centros urbanos no Sul e Sudeste a um processo de envelhecimento da população brasileira e você não deveria ficar surpreso de saber que o número de homicídios por habitante na cidade de São Paulo no ano passado foi um quarto do que era 10 anos antes. Para ser mais preciso, ele foi mais baixo do que há 100 anos.
Por que essa revolução está acontecendo? Ela começou com a vitória contra a inflação na segunda metade dos anos 90. Como mais da metade da população não tinha conta bancária, não tinha também como se proteger da inflação que corroía ferozmente seus já baixos salários. Com a queda da inflação, isto deixou de acontecer e a renda dos mais pobres começou a crescer.
Dois outros fatores também tiveram papel destacado. Todo santo ano, há 12 anos, o salário mínimo passa por reajustes superiores à inflação, mais uma vez favorecendo os mais pobres. O segundo foram os programas de redistribuição direta de renda, como Bolsa-Escola e Bolsa-Família e programas de governo focados nos mais pobres, como o Minha Casa, Minha Vida, que complementaram o quadro.
A inflação deve continuar sob controle, o salário mínimo continuará crescendo acima dela, e os programas sociais provavelmente serão expandidos, independentemente de quem ganhar as próximas eleições presidenciais. Afinal, todo político gosta de ser popular.
Em resumo, é bastante provável que a melhora de distribuição de renda continue ao longo da próxima década. Bom demais para ser verdade? Pois acredite, ninguém segura a classe média!

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