Em entrevista para a Revista Liderança, economista Ricardo Amorim antecipa pancadas de chuvas e trovoadas seguidas de sol no final do ano em 2012.

Revista Liderança – Marketing e Comunicação
12/2011
Por Julio Clebsch

 
Pancadas de chuva e trovoadas com sol no fim do período.
 
Economista Ricardo Amorim prevê um início de ano turbulento, mas 2012 termina bem.
 
“Parabéns! Há dois anos você previu o que está acontecendo hoje na Europa e nos Estados Unidos. Esta crise será pior que a de 1937?”Foi assim que o apresentador Lucas Mendes, em Nova York, chamou Ricardo Amorim, em São Paulo, no programa Manhattan Connection, exibido pela Globo News no dia 14 de agosto de 2011.
 
A credibilidade de Amorim foi adquirida ao longo da carreira em que vem acertando boas e más previsões no mercado econômico.
O palestrante e consultor é formado em economia pela USP e tem pós-graduação em Administração e Finanças pela ESSEC, em Paris. Ele atua no mercado financeiro desde 1992, já trabalhou em cidades como Nova York, Paris e São Paulo, sempre como economista e estrategista de investimentos. Atualmente, Ricardo Amorim comanda sua própria empresa, a Ricam Consultoria, e é um dos apresentadores do Manhattan Connection desde 2003, ao lado de Diogo Mainardi, Lucas Mendes, Caio Blinder e Pedro Andrade.
 
Além disso, Ricardo Amorim é o único brasileiro incluído na lista dos mais importantes palestrantes do mundo, segundo o Speakers Corner. Suas palestras abordam a economia mundial e tendências para o Brasil (no exterior e por aqui). Foi em uma de suas apresentações, no Centro Universitário FAE, em Curitiba, que escutamos e o entrevistamos. Separamos para você as principais tendências, segundo Amorim, para 2012.
 
Ele aponta grandes oscilações nas Bolsas mundiais – Brasil inclusive –, a economia mundial vai desacelerar e esse choque externo tende a reduzir o crescimento do PIB brasileiro, principalmente neste primeiro semestre. A partir daí, as coisas melhoram e os próximos anos serão de melhoria e desenvolvimento para Brasil, China e Índia. Confira! 
 
RETROSPECTIVA
Até a crise de 2008, vivíamos em um mundo com excesso de liquidez, dinheiro barato e um processo de escalada das cotações das commodities. Presenciamos o surgimento dos BRIC (sigla para Brasil, Rússia, China e Índia), principalmente a ascensão da China, que, ao candidatar-se à Organização Mundial do Comércio (OMC), em muito favoreceu a economia brasileira por ser uma voraz consumidora de commodities.

Entre as 30 maiores economias do mundo, o Brasil foi o terceiro país que mais cresceu em 2010, só perdendo para China e Índia.

 
TRANSFERÊNCIA DE RENDA E RIQUEZA
Para se ter uma rápida ideia do que aconteceu durante os últimos 15 ou 20 anos, o barril de petróleo valorizou-se em cerca de 10 vezes e o preço de uma televisão barateou-se em cerca de 15 vezes! Isso é uma brutal transferência de capital e de renda para os países exportadores de commodities, Brasil principalmente.
 
Atualmente, Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul (BRICS) já respondem por quase 27% de toda produção mundial. Hoje, a Fiat vende mais carro por aqui do que na Itália.
 
E não é só a produção mundial que está se deslocando para os países emergentes, a indústria financeira também. Bancos como Santander e HSBC já ganham/lucram mais no Brasil do que em seus países de origem, Espanha e Inglaterra, respectivamente.
Com a crise na Europa e a economia global em observação, é nos emergentes que ambas as instituições financeiras buscam alento.
 
De forma resumida, são três transformações principais, todas elas favoráveis ao Brasil e negativas para os países ricos. A primeira: com a emergência da China e da Índia, e mais especificamente, com a entrada da China na OMC em 2001, as populações desses países passaram a comer mais e melhor. Como grande exportador de alimentos em geral, o Brasil ganhou. Além disso, esses países estão num processo de urbanização e industrialização, ou seja, as pessoas estão saindo do campo e indo para as cidades; faz-se necessário construir as cidades, e é preciso comprar metais, minerais.
 
Brasil ganha de novo. O segundo ponto é que, quando a gente começa a exportar a produção de quase tudo para lugares que tem muita mão de obra, o custo da produção cai. Com isso,a inflação no mundo também começou a cair nos últimos anos, o que permite que a taxa de juros, no Brasil e no mundo inteiro, esteja nos níveis mais baixos da história. A última coisa que nos beneficia é que o fluxo de cérebros no mundo passou a jogar a nosso favor e não contra. Antes, o Brasil perdia boa parte dos seus profissionais mais bem formados porque eles iam estudar ou trabalhar fora e acabavam ficando. Hoje, o fluxo inverteu. Só de brasileiros, há 400 mil que voltaram nos últimos seis anos.
Todas essas transformações deverão perdurar, pelo menos, pelos próximos 10 a 15 anos.
 
CONSUMO E SUSTENTABILIDADE
O cenário é otimista para o Brasil de 2012, junto com China e Índia. Estes países têm características comuns: são populosos e têm oferta de mão de obra. Mais gente ganhando salário, logo, tem-se um grande mercado consumidor.
 
Ao mesmo tempo em que a renda está sendo mais distribuída, cresce a preocupação com a sustentabilidade. Nos anos seguintes, as decisões sustentáveis desses três países emergentes vão se tornar hábitos mundiais.
 
BRASIL
A perspectiva para os próximos anos são muito favoráveis. Não tem como o nosso país dar errado. Mesmo que “importássemos” um Hugo Chávez para ser nosso dirigente maior, seria muito difícil não crescermos economicamente e socialmente.
 
O Brasil é a nova América, uma terra plena de oportunidades. Já podemos perceber isso através dos fluxos migratórios, que mudaram: de maneira geral, das capitais para o interior; do sul e sudeste para o nordeste e norte. Nos últimos oito anos, o Brasil cresceu mais que o dobro do que cresceu nos 25 anos anteriores. O que não significa que teremos um céu de brigadeiro. Os próximos meses serão bem turbulentos, mas, de maneira geral, serão pelo menos 15 ou 20 anos de crescimento econômico. Acredite: em 10 anos nossa infraestrutura será muito melhor. Os investimentos por aqui triplicarão nesse período.
 
Não é à toa, como citei anteriormente, que a indústria bancária está se movendo em direção aos BRICS. É neles que se concentrarão as maiores demandas por crédito.
 
A China continuará precisando alimentar-se, precisará de petróleo e minérios. Para ela desacelerar, só duas ameaças: recessão ou inflação. Isso ainda não aparece no curto prazo. Se, por acaso, seu ciclo de crescimento terminar, ou deteriorar-se, haverá a ascensão da Índia.
 
MÃO DE OBRA
Haverá muitas oportunidades de emprego, porém uma elevada escassez de mão de obra qualificada. Por isso vemos muitos estrangeiros desembarcando por aqui. O setor da educação é um dos que nosso governo tem de investir mais – e capacitar melhor seus educadores. Mas é uma solução de médio para longo prazo.
 
VELHO MUNDO
A situação por lá vai piorar. E muito! Esta é a segunda fase da crise iniciada em 2007 e 2008 e, agora, depois da desalavancagem dos bancos, se vê a tentativa de desalavancagem dos governos. O problema é que a munição que os governos dispunham no início da crise exauriu-se. Na Europa, ela será muito pior que nos Estados Unidos e no Japão. Não será difícil que um ou mais bancos do continente vá à bancarrota. Em muitos países, a dívida privada é maior que a pública. Isso causará muito estresse, nervosismo, variações cambiais e volatilidade na Bolsa de Valores.
A tendência mundial é de queda da inflação. Com crescimento baixo ou igual a zero.
 
O QUE VEM POR AÍ
A crise global continuará a sacudir os mercados. Os emergentes não escaparão dela, apenas estão mais capacitados a enfrentá-la.
 
Sobre o Brasil, não quero limitar-me a um período de 12 meses. De maneira geral, a inflação irá reduzir-se, tendendo para o centro da meta estabelecida pelo Banco Central (4,5%) ainda em 2012. Palpite: pode ficar, inclusive, abaixo dela.
 
Aliás, seu movimento em agosto de 2011 foi ousado e arriscado, provavelmente acertado, mas foi uma aposta e apostar ou antecipar-se não deve ser a função dessa instituição. E se as coisas, em 2012, não acontecerem como previstas pela instituição, como fica sua credibilidade? Como recuperá-la?
E a política monetária deste ano?
 
Junto com a queda da inflação vem a redução da taxa Selic. Não será difícil que seja mais baixa do que foi em 2009.
O primeiro semestre de 2012 será muito ruim, com baixos índices de crescimento, começando a melhorar a partir do segundo. De 2013 para frente, teremos um longo ciclo de crescimento e de mais tranquilidade.
 
O melhor, neste momento, é ficar com o dinheiro em caixa, não endividar-se. Recomendo a adoção de uma postura defensiva.

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