Revista IstoÉ
09/03/2012
Por Ricardo Amorim
Nos últimos meses, é raro passar uma semana sem que eu receba um convite para palestrar em conferências no exterior sobre investimentos no Brasil. Tenho feito também muitas reuniões de consultoria com estrangeiros, presidentes e diretores de multinacionais, visitando nosso país para conhecer melhor sua economia. Em pauta decisões sobre uma eventual entrada ou ampliação das operações de suas empresas por aqui. Quase sempre, algum tempo depois, os investimentos se materializam.
Após duas décadas apresentando a economia brasileira a investidores locais e estrangeiros, pensei que nada mais me surpreenderia. Engano meu.
Nos anos 90 e início da década passada, perguntas em relação ao Brasil eram sobre problemas e riscos. Ao longo deste período, a análise aprofundada de casos de crises financeiras em muitos países treinou-me a identificar sintomas e causas que levam a crises econômicas, mais ou menos como um médico faz um diagnóstico.
Eu nem imaginava que um dia iria antecipar crises nos EUA, Europa e Japão – as ex economias modelos – e suas consequências. Imaginava, ainda menos, que altos executivos de empresas de lá me procurariam para entender crises econômicas e impactos nos seus negócios. Ao contrário de nós brasileiros, forjados em crises nos anos 80 e 90, os ricos não as enfrentavam há décadas, o que despreparou seus executivos.
Outra surpresa, a imensa maioria das perguntas dos estrangeiros, agora foca em participar da emergência brasileira e não mais em quais problemas o Brasil ainda tem.
O ganho de importância do Brasil e a consequente mudança de postura da comunidade empresarial global em relação a nós já aconteciam há anos, mas se aceleraram após a crise financeira global de 2008.
Nos últimos três anos, investimentos produtivos de empresas estrangeiras no país – IED no jargão dos economistas – triplicaram, levando o país de 14º a 3º receptor global, atrás apenas da China e EUA.
A imagem do país entre os estrangeiros mudou. Entre nós mesmos, ainda não.
As recentes reclamações da presidente Dilma em relação ao “tsunami financeiro” vindo dos países ricos, e do ministro Guido Mantega quanto à Guerra Cambial desconsideram a nova ordem econômica global. Em 2010, neste mesmo espaço, em meu artigo Guerra!, já alertava que forte emissão monetária e enfraquecimento das moedas dos países ricos, e ainda um redirecionamento do crescimento chinês para mais consumo local – também anunciado esta semana – eram inevitáveis.
Não significa que o Brasil não possa e não deva enfrentar o novo quadro. Porém, para ter sucesso, é preciso compreender este quadro, abandonar sucessivas medidas de controles de capitais, que só enxugam gelo, e lidar com o cerne do problema brasileiro de competitividade: o excesso de gasto público.
Se o governo gastar menos, tomar menos dinheiro emprestado, as taxas de juros baixarão mais, atraindo menos dólares e reduzindo a apreciação do Real. Os impostos podem cair e investimentos em infraestrutura crescer, melhorando a competitividade.
Enfim, os estrangeiros enxergam o Brasil como potência econômica, já nosso próprio governo, ao invés de tomar as rédeas da situação, culpa outros países pelos males que nos afligem e por defender seus próprios interesses e necessidades.
Ricardo Amorim
Economista, apresentador do programa Manhattan Connection da Globonews e presidente da Ricam Consultoria.