Brasil Econômico
08/2012
Por Niviane Magalhães
Situação na Europa vai piorar muito, diz Ricardo Amorim.
Economista aponta que a única forma da situação melhorar na Zona do Euro é fazendo reajustes fiscais, mas que, para isso, a região ficará mais penalizada economicamente.
A crise na Zona do Euro pode ficar pior do que o previsto. O banco francês Natixis estima que a crise na região possa durar até 20 anos, pois as empresas precisam se reequilibrar financeiramente, o emprego, perdido desde 2009, precisa ser restabelecido e os países endividados necessitam fazer reajustes.
Especialistas no assunto também acreditam numa deterioração da situação, mas não por duas décadas. Além dos fatores econômicos a serem resolvidos, os países endividados enfrentam problemas com a política.
A recuperação da Europa também está ligada aos Estados Unidos e à China. Uma melhora significativa nesses dois países encurtaria o tempo de progresso na Zona do Euro.
Atualmente, 17 países fazem parte da Zona do Euro, dividindo a mesma moeda e a mesma taxa de juros. “Isso não tem como funcionar direito, pois cada país possui uma competitividade completamente diferente. O que funciona para um, não funciona para o outro”, destaca Ricardo Amorim, economista e presidente da Ricam Consultoria.
Ele explica que quando estourou a crise nos Estados Unidos, em 2008, as famílias foram forçadas a diminuir o consumo e aumentar a poupança, porque o desemprego aumentou e o crédito nos bancos foi reduzido.
Agora, as empresas e os bancos estão tendo que fazer isso, para ficarem com mais capital do que realmente vão emprestar. “As dívidas dos países estão em níveis altíssimos e só existem duas soluções para melhorar: cortar gastos dos governos ou aumentar impostos”, aponta Amorim.
“Desde 2007 eu falava em década perdida e faltam só mais cinco anos para isso se concretizar. A situação na Zona do Euro ainda vai piorar muito. Qualquer medida que seja tomada irá afetar o mundo, então é melhor que isso aconteça logo”, destaca o economista.
Para Evaldo Alves, coordenador do curso de negócios internacionais e comércio exterior da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é fundamental fazer os ajustes fiscais. “A Europa não está tendo ganho de produtividade e está perdendo mercado, o que pode piorar ainda mais, caso o cenário não mude. O Brasil já passou por reajuste fiscal e nos reerguemos”.
Grécia deixa o euro?
Dentre os piores problemas que a Europa irá enfrentar está com a Grécia. Segundo Amorim, é questão de tempo para a Grécia sair do euro. “A população não está gastando, não existe crédito e o medo de não ter emprego e a falta de confiança são generalizados. A única forma de voltar a crescer é saindo do euro, para ela se tornar competitiva, uma vez que a nova moeda estará desvalorizada”, complementa.
Caso isso ocorra, os bancos da Grécia devem perder até € 70 bilhões e gerar uma crise de confiança com Portugal, Irlanda e Itália, que podem enfrentar a mesma condição. A Espanha também está em uma situação delicada. “Os bancos do país já tomaram € 410 bilhões dos bancos centrais europeus e caso o cenário não melhore, vão precisar de mais € 450 bilhões nos próximos cinco anos”, diz o economista.
De acordo com Carlos Thadeu Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o comércio entre os países que utilizam o euro ainda vai ficar penalizado por um tempo. Muitas das grifes que atuam nesses países já fecharam as portas. No entanto, ele destaca que “aqueles que focarem na exportação, como as montadoras, vão se dar bem, principalmente se forem para o mercado emergente”.
Brasil x Europa
Ricardo Amorim enfatiza que para o Brasil o melhor seria que a Europa fizesse os reajustes fiscais rapidamente.
“Isso traria uma recessão ao nosso país, como foi em 2009, mas depois alavancaria a produção, como em 2010, e o Brasil voltaria a crescer consistentemente. Enquanto a Europa empurrar a crise com a barriga, vamos ter crescimento medíocre”, afirma.
Evaldo Alves destaca outro ponto que o Brasil já está enfrentando. Com a crise na Europa, muitos europeus estão imigrando para países emergentes, principalmente para o Brasil.
“Isso já aconteceu uma vez, mas agora a situação é diferente. Os espanhóis e italianos que estão chegando são altamente capacitados e isso vai gerar uma disputa muito grande por emprego”, completa o coordenador.