Matéria sobre palestra sobre perspectivas para o setor de materiais de construção.

 

Revista Revenda

01/2013

Por Ricardo Amorim

 
Noite dos produtos
 
Orgulhosos, os fabricantes dos produtos eleitos melhores do ano desfilavam no showroom montado no Secovi, em São Paulo, na noite de premiação das 89 categorias mais votadas pelos lojistas de todo o Brasil, enquanto destacavam seus atributos para os convidados. Foi uma noite especial, que começou com a palestra do economista Ricardo Amorim – que passou grande dose de otimismo para todos – e terminou com muitos brindes e um jantar de confraternização.
 
O 16º Melhor Produto do Ano foi um sucesso. Foram validados 1.332 votos dos lojistas. Visando melhorar ainda mais o mix de produtos ideal para os lojistas trabalharem no mercado, foram acrescentadas mais cinco categorias: Armário para Banheiro em MDF, BP, FF e OSB, Betoneira, Estrutura em Aço para telhado, Ferramenta Manual para Agricultura e Óleo Desingripante e Anticorrosivo.
 
“Hoje temos aqui uma linha de campeões que qualquer lojista desejaria ter na sua prateleira. Os produtos que são vencedores em suas categorias são comercializados por empresas que investem na publicidade da marca, na qualidade do atendimento, buscam preços competitivos, resultado em giro no ponto de venda e não oferecem riscos ao investidor” destacou Jussara Rocha, diretora Comercial do Grupo Revenda, na abertura da premiação.
 
Uma aula de otimismo
 
O economista Ricardo Amorim voltou ao palco do Secovi-SP, para uma palestra sobre economia global. Com grande poder de comunicação, é consultor, apresentador do programa Manhattan Connection da Globonews, colunista da Revista IstoÉ e presidente da Ricam Consultoria. Realiza palestras em todo mundo sobre perspectivas econômicas e oportunidades em diversos setores. Único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do site inglês Speakers Corner, economista mais influente do Brasil e um dos dez mais influentes do mundo segundo o site americano Klout.com.
 
“Em menos de 5 anos, o Brasil vai ser a terceira potência mundial, atrás apenas de China e Estados Unidos”, prognosticou. Veja os principais pontos abordados por Amorim na palestra.
 
Na última década, o mundo mudou muito mais do que a maioria de nós percebeu. Para aproveitar esta nova realidade precisamos, antes de mais nada, compreendê-la. Desde o início do milênio, o centro de gravidade da economia mundial vem se deslocando dos Estados Unidos e Europa para os mercados emergentes. Crises nos países ricos e nós, emergentes, indo bem, obrigado!?, Não foi neste mundo que fomos criados. A melhora da economia brasileira somada à piora da situação dos países desenvolvidos torna as oportunidades aqui irresistíveis para empresas multinacionais de todo o mundo, que, cada vez mais, ampliam seus negócios no país, impulsionando nosso crescimento econômico e os negócios no setor imobiliário. Como tudo isto aconteceu? O Brasil se beneficiou de um forte crescimento na procura por matérias primas, um aumento significativo da oferta de capitais para financiar investimentos e consumo por aqui,uma marcante atração de talentos do exterior – até nossos clubes de futebol já estão trazendo mais jogadores de fora do que exportando-os – e uma mãozinha de mudanças demográficas. Por isso, a média de crescimento do PIB brasileiro dobrou nos últimos 8 anos (4,3% a.a.) em relação os 25 anos anteriores (2,0% a.a.) mesmo com um crescimento baixo nos últimos dois anos e sem o Brasil resolver a maioria de seus problemas, como má qualidade de saúde e educação, impostos excessivos, infraestrutura precária, burocracia exagerada e corrupção. Em outras palavras, o Brasil foi condenado a crescer. Se as condições externas ou o modelo de política econômica do governo não mudarem radicalmente, talvez o Brasil possa sustentar este ritmo de crescimento médio mais acelerado por até três décadas mais, criando oportunidades excepcionais de negócios em vários setores e também novos desafios, como o apagão de mão de obra, que incentivará a mecanização no país e atrairá estrangeiros e aposentados para nosso mercado de trabalho.Por outro lado, um crescimento médio mais acelerado não significa que não teremos anos ruins, como 2009, por exemplo, e outros muito bons, como 2010. Em 2013, o crescimento deve surpreender novamente. Se a crise europeia for controlada, Obama conseguir desmontar o abismo fiscal americano e a China sustentar sua incipiente recuperação, o PIB brasileiro pode crescer cerca de 6%, impulsionado pela forte redução recente de juros, corte de impostos e aumento de gastos públicos. Neste caso, a preocupação será inflação, não crescimento. Por outro lado, se um dos três fatores externos mencionados piorar, nosso crescimento pode decepcionar mais uma vez, como nos dois últimos anos. Em ambos os casos, o desempenho do setor de venda de materiais de construção deve superar ao da economia como um todo.
 
Chegou a nossa vez
Nas últimas décadas, os emergentes cresceram muito mais do que os países ricos. Desde a entrada da China para a Organização Mundial do Comércio em dezembro de 2001, mais de 3/4 do crescimento do mundo vem dos países emergentes e menos de 1/4 dos EUA, Europa e Japão. Isto deslocou as maiores oportunidades de negócios para cá. Enquanto China e Índia sustentarem um crescimento acelerado, o Brasil deve continuar a se dar bem, desde que a política econômica do governo não mude substancialmente.
 

Tsunami e marolinha

Todo o mundo tem sofrido os impactos econômicos negativos da crise europeia, inclusive o Brasil, com menor crescimento das exportações e menos oferta de crédito. Um eventual aprofundamento da crise na Europa e de suas consequências globais pode ainda limitar o crescimento brasileiro em 2013. Por outro lado, uma vez passado o auge da crise europeia, o Brasil deve voltar a crescer de forma mais acelerada.
 

• Brasil na rota da abundância

Em 2010, antes da crise europeia, o crescimento do PIB brasileiro foi o mais elevado em 25 anos. Em 2011 e 2012, houve uma desaceleração significativa. Ainda assim, desde a virada do milênio, o Brasil foi o terceiro país do planeta onde a economia, medida em dólares, mais se expandiu.
 

Consumo de massa,

Aumentos reais dos salários mínimo e programas do governo continuarão a expandir o poder de compra dos consumidores e regiões mais pobres do país, impulsionando nosso mercado. Só nos últimos seis anos, 57 milhões de brasileiros (o equivalente a toda população da Itália) ingressaram nas classes A, B e C, ampliando exponencialmente o mercado consumidor brasileiro. No restante desta década, dezenas de milhões de novos consumidores devem emergir, sendo, de fato incorporados ao mercado. O processo de melhora de distribuição de renda no Brasil nas duas últimas décadas foi tão marcante que em dois anos, a distribuição de renda no Brasil deve se tornar melhor do que nos EUA. A expansão da classe média deve sustentar um crescimento acelerado dos setores de educação e saúde. Além disso, como muitas vezes são as micro e pequenas empresas que atendem estes novos consumidores, foram elas que mais cresceram no país. Nos últimos 5 anos, a taxa de sobrevivência de micro e pequenas empresas no país foi mais elevada do que em quase todos países desenvolvidos.
 

Renda e crédito

Desde 2004, a consolidação da estabilidade econômica e a marcante queda das taxas de juros permitiu uma forte e sustentada expansão do crédito, que continuará nos próximos anos. Por isso, os setores mais dependentes de crédito – imobiliário, automotivo, de eletroeletrônicos e de turismo – foram e devem continuar a ser as locomotivas do crescimento do país ao lado do setor de infraestrutura, impulsionado pelos investimentos associados à Copa do Mundo e Olimpíadas, e do setor de petróleo e gás, por conta dos investimentos do pré-sal.
 

Desafios ambientais

57 milhões de novos consumidores são também 57 milhões de novos poluidores. Forte crescimento do consumo de massa aumentará os desafios ambientais e a relevância de processos e produtos ecologicamente sustentáveis, beneficiando energias renováveis e tecnologias mais avançadas.
 

Viva o agronegócio

A fome chinesa e indiana por alimentos e matérias primas brasileiras deve continuar por mais duas ou três décadas. Por isso, as cidades do interior devem continuar a crescer mais do que as capitais do estados e a região centro-oeste também deve continuar a crescer mais do que o resto do Brasil.
 
Bolha imobiliária, onde?
Nos últimos anos, os preços dos imóveis dobraram, triplicaram ou subiram ainda mais e o ritmo da atividade imobiliária foi bastante forte. Será que o Brasil teria uma bolha imobiliária próxima de estourar. Não é o que a História parece sugerir.
Bolhas imobiliárias costumam envolver forte atividade de construção. Analisando-se o consumo anual de cimento, per capita, em cada país no ano em que bolhas imobiliárias nacionais estouraram desde 1900, verifica-se que não houve estouro de bolha com consumo anual de cimento inferior a 400 Kg per capita. Em 2007, nos EUA, o dado era de 450 Kg, na Espanha, passou de 1.200 Kg e há casos, como na China atual, de consumo ainda superior, 1.600 Kg, sem estouro de bolha. No Brasil, minha estimativa é de que hoje estamos em 349 Kg.
Segundo, uma bolha imobiliária sempre se caracteriza por preços muito elevados em relação à capacidade de pagamento das pessoas. Considerando-se quantos anos de salários são necessários para comprar um imóvel de preço médio nas principais cidades do mundo, nenhuma cidade brasileira está hoje entre as 20 mais caras. Brasília, Rio de Janeiro, Salvador e Balneário Camboriú estão entre as 100 mais caras. Entretanto, mesmo por esse parâmetro, Brasília, a mais cara do país, ainda é duas vezes e meia mais barata do que Rabat, no Marrocos, a mais cara do mundo.
O ar que infla qualquer bolha de investimento, imobiliária ou não, é sempre uma abundante oferta de crédito. Ela possibilita que investidores comprem algo que não poderiam apenas com suas rendas. As bolhas imobiliárias dos últimos 112 anos estouraram quando o total do crédito imobiliário superava 50% do PIB e, em alguns casos, passava de 130% do PIB. Nos EUA, em 2006, um ano antes dos preços começarem a cair, era de 79% do PIB. No Brasil, apesar de todo crescimento dos últimos anos, este número é hoje de 5% do PIB.
Aliás, é sempre uma súbita ruptura na oferta de crédito, normalmente associada a uma forte elevação do custo deste crédito, que faz com que bolhas estourem. No Brasil está acontecendo exatamente o contrário. O crédito imobiliário está em expansão e o seu custo em queda.
Em resumo, é improvável que os preços dos imóveis continuarão subindo no ritmo dos últimos anos, pois os preços atuais já estão mais elevados; em casos específicos, até altos para padrões internacionais, mas é igualmente improvável um recuo significativo generalizado dos preços nos próximos anos. O mais provável, são altas mais modestas, às vezes bem mais modestas. Em alguns casos, até pequenos ajustes de preços para baixo são possíveis e salutares. São exatamente eles que garantiriam que bolhas não estourem em um futuro mais distante.
 
Ricardo AmorimEconomista, consultor, apresentador do programa Manhattan Connection da Globonews, colunista da revista IstoÉ e presidente da Ricam Consultoria. Realiza palestras em todo mundo sobre perspectivas econômicas e oportunidades em diversos setores Único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do site inglês Speakers Corner e economista mais influente do Brasil e um dos dez mais influentes do mundo segundo o site americano Klout.com.

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