Entrevista de Ricardo Amorim sobre palestra sobre tendências no varejo.

Revista Alshop

04/2013

Por Ricardo Amorim

 
“A crise econômica internacional pode ajudar o varejista nacional? Ele consegue viver do mercado interno e não depender do externo? Os varejistas devem apostar no consumo? O varejo não funciona em termos globais?”
 
É exatamente porque o varejo funciona em termos globais, assim como todo o resto da economia mundial, que o setor varejista brasileiro transformou-se desde 2004 em um dos principais motores de crescimento da economia brasileira. Aliás, desde então, em todos os anos sem nenhuma exceção, as vendas do varejo no Brasil cresceram mais do que a produção industrial.
 
No início de 2010, publiquei um artigo intitulado A Formiga e a Cigarra Trocam de Papeis onde explicava que um fenômeno de crescimento mais acelerado de consumo nos países emergentes e de produção nos países desenvolvidos tinha de acontecer.Isto significa necessariamente crescimento mais acelerado do varejo do que da indústria no Brasil. Em linhas gerais, isto se deve ao fato de que, enquanto os países ricos expandiram crédito e endividamento entre 1980 e 2007, o Brasil e vários outros países emergente não puderam fazer a mesma coisa porque muita instabilidade econômica não levava instituições financeiras a expandirem a oferta de crédito.
 
A partir de 2004, beneficiando-se da fome chinesa por matérias primas, vários países emergentes, e particularmente a América Latina, entram em um círculo virtuoso de mais crescimento e mais estabilidade econômica, permitindo uma expansão acelerada da renda e do crédito e, por consequência acelerando um forte crescimento do consumo e do varejo. Em paralelo, por volta de 2007, o endividamento das famílias na maioria dos países ricos chega perto do seu limite, o que significa que não apenas o crédito não se expandirá mais como antes por lá, mas em alguns casos terá de se contrair. Isto reduzirá consumo e limitará o crescimento do varejo nos países ricos. Este processo ainda está muito longe de estar terminado.
 
O que isto necessariamente teria de significar. e já temos visto este fenômeno nos últimos anos. é um crescente interesse por parte dos varejistas dos países ricos em entrarem ou expandirem suas participações nos mercados emergentes e particularmente no Brasil. Acredito que este processo ainda vai se acentuar ao longo da década à medida que, por exemplo, dos 10 maiores varejistas mundiais, apenas dois estão no Brasil, Carrefour e Walmart. Por outro lado, uma competição mais acirrada com varejistas internacionais nas principais capitais dos estados brasileiros tem levado grandes cadeias varejistas nacionais a aumentarem sua presença no interior do país, aumentando a concorrência com redes regionais.
 
Em resumo, o varejo brasileiro está passando por um processo de crescimento acelerado de tamanho de mercado associado com concorrência maior e margens menores que ainda deve continuar por um bom tempo. Por consequência, o processo de consolidação no setor, com forte movimento de fusões e aquisições também deve continuar.
 

 Ricardo Amorim é apresentador do Manhattan Connection da Globonews, colunista da revista IstoÉ, presidente da Ricam Consultoria, único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do Speakers Corner e economista mais influente do Brasil segundo o Klout.com.

 
 

LinkedIn
Facebook
Twitter

Relacionados