11/2013
Por Ricardo Amorim
Que venha o ano da Copa e das eleições
2013 vai embora sem deixar muitas saudades na maioria dos setores da economia brasileira. Crescimento medíocre, pressões inflacionárias, juros em alta. Felizmente, no setor de caminhões e ônibus a história foi outra. Depois dos impactos negativos nas vendas em 2012 com a implementação do padrão tecnológico Euro 5, 2013 trouxe uma recuperação que, se não chegou a ser explosiva, foi significativa.
O que 2014 nos reserva? Para começar, mais um ano de crescimento baixo do PIB, provavelmente na faixa de 2% a 3%. Desde 2011, esgotaram-se dois fatores que permitiram um crescimento acelerado no período de 2004 a 2010: incorporação de mão de obra ao mercado de trabalho e maior utilização de infraestrutura já existente. Com isso, nosso ritmo de crescimento caiu. Para voltarmos a sustentar um crescimento mais acelerado precisamos acelerar muito os investimentos em qualificação de mão-de-obra, máquinas, equipamentos e infraestrutura. Como isto não deve acontecer em 2014, o crescimento ainda deve ser fraco. Quem sabe após as eleições de 2014…
Enquanto as reformas estruturais que impulsionariam nossa competitividade não vêm, seria uma alta do dólar a solução para aumentar a competitividade de nossa economia? Infelizmente, não. Desde 2002, o dólar só subiu em momentos de crise da economia mundial. Foi assim em 2008/2009, com a crise imobiliária americana e 2012/2013 com a crise européia. A partir dos níveis atuais, o dólar só se manteria onde está ou subiria mais se houvesse uma crise financeira ou se o Banco Central americano (Fed) suspendesse os estímulos monetários à economia. Se isto acontecer, muito possivelmente será o gatilho para crises financeiras e uma recessão global. Nestes casos, mesmo uma taxa de câmbio mais competitiva não seria capaz de compensar os impactos negativos da desaceleração da economia mundial sobre a economia brasileira, como também não foi em 2009 e 2012, em cenários econômicos globais parecidos.
A inflação deve continuar pressionada, exigindo altas adicionais da taxa básica de juros – que, para surpresa de muitos, voltou a patamares de dois dígitos em 2013. Felizmente, como a inadimplência parou de subir e até já deu alguns sinais de queda e o BNDES deve continuar a ser capitalizado pelo governo, uma expansão da disponibilidade de crédito para o setor de caminhões e ônibus deve permitir que ele cresça novamente bem mais do que o PIB em 2014.
Outro fator a impulsionar o setor deve ser um crescimento mais acelerado do interior do país em função de boas perspectivas para o agronegócio. Sem uma expansão significativa da malha ferroviária e hidroviária a curto prazo, a única possibilidade logística para que os produtos cheguem ao interior, que continuará a crescer mais do que as capitais dos estados, é a rodoviária.
Setores de serviços, comércio e imobiliário também devem crescer mais rápido do que o PIB. Por outro lado, pelo 11º ano consecutivo, a produção da indústria deve expandir-se menos do que as vendas no varejo. Enquanto não reduzirmos a carga tributária e os entraves a negócios, melhorarmos a infraestrutura e qualificarmos a mão de obra, isto não deve mudar.
O maior ponto de interrogação é o cenário eleitoral e suas eventuais implicações econômicas. As pesquisas hoje indicam a reeleição da Presidenta Dilma, mas com a Copa do Mundo acontecendo apenas três meses antes das eleições e, potencialmente, servindo de holofote para mais e maiores manifestações de rua, parece cedo demais para dar as eleições como decididas.
Que 2014 traga boas surpresas, começando pelo hexa na Copa.
Ricardo Amorim
Apresentador do Manhattan Connection da Globonews, colunista da revista IstoÉ, presidente da Ricam Consultoria, único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do Speakers Corner e economista mais influente do Brasil segundo o site Klout.com.
Contato: palestras@ricamconsultoria.com.br