Grupo Revenda
01/2014
Consultamos alguns presidentes de entidades ligadas à construção civil e economistas para tentar enxergar o rumo deste ano.
Segundo o economista Ricardo Amorim, mudanças acontecem de duas formas: quando escolhemos ou quando não há escolha. Infelizmente, a segunda é bem mais comum. Se os europeus tivessem controlado seus gastos antes da crise de 2008, escolas e hospitais não seriam fechados agora.
Por aqui não é diferente. Mudanças econômicas profundas, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, a renegociação da dívida de Estados e Municípios e a autonomia do Banco Central só aconteceram quando estávamos à beira da falência. Passado o medo do colapso, foram todas enfraquecidas nos últimos anos.
Sem crises, políticos não têm coragem para adotar medidas imprescindíveis, mas impopulares. Exemplo: aumentar a idade mínima para aposentadorias. De 2004 a 2010, o PIB brasileiro cresceu a um ritmo de quase 5% a.a., 2,5% vezes a média dos 25 anos anteriores. Só foi possível por ajustes econômicos feitos antes, um forte crescimento na procura global por matérias-primas que exportamos e uma grande queda no custo de capital no mundo. Este modelo de desenvolvimento baseado na expansão da procura, tanto externa quanto doméstica, pelos nossos produtos e serviços está esgotado. Nos últimos 3 anos, voltamos à média história de crescimento do PIB de apenas 2% a.a. Dois fatores que ajudaram o crescimento acelerado de 2004 a 2010 acabaram: incorporação de mão de obra ao mercado de trabalho e maior utilização de infraestrutura existente. O desemprego já é o mais baixo da história e o gargalo da infraestrutura é visível. Para sustentarmos um crescimento mais rápido, só investindo muito em qualificação de mão de obra, máquinas, equipamentos e infraestrutura. A China, que cresce 3 a 4 vezes mais rápido que o Brasil, investe em sua infraestrutura a cada 3 meses, o equivalente a todo o estoque de infraestrutura existente no Brasil.
Se você estivesse concorrendo a reeleição e, a menos de um ano das eleições, as pesquisas indicassem sua vitória com uma folga razoável, você faria grandes mudanças na política econômica? A Dilma também não.
O que esperar da economia em 2014? Sem uma nova crise externa, o PIB deve crescer cerca de 2%, os juros subirão para impedir que a inflação aumente e o dólar cairá ao longo do ano.
Por outro lado, se uma desaceleração dos estímulos monetários dos EUA deflagrar um estouro de bolhas de ativos pelo mundo, a recuperação da economia chinesa for abortada, ou novas crises financeiras pipocarem na Europa ou nos países emergentes, nosso crescimento será próximo de nulo e, temporariamente, o dólar subirá ainda mais, pressionando a inflação.
Em síntese, o Brasil terá, na melhor das hipóteses, um 2014 medíocre. Na pior, estagnação. Felizmente, algumas regiões e setores terão um bom desempenho. O Norte, o Centro-Oeste e o interior do país crescerão mais, impulsionados pelo vigor do agronegócio e da mineração. Idem para o Nordeste, onde a emergência de novos consumidores continuará forte. Setores de serviços, comércio e imobiliário também crescerão mais do que o PIB, beneficiando-se da expansão de renda e crédito e da falta de concorrência estrangeira, ao contrário da indústria.
Pelo 11º ano consecutivo, a produção industrial deve expandir-se menos do que as vendas no varejo. Continuaremos a consumir mais do que produzimos. Em algum momento, isto ficará insustentável e deflagrará uma nova crise, que forçará as mudanças que poderíamos ter feito antes, por escolha própria, em condições muito mais favoráveis.
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