Entrevista de Ricardo Amorim sobre perspectivas econômicas e empreendedorismo

S. C. Capelli

01/2014

Por Luiz Belatto

 
1) Quais as perspectivas para a economia brasileira em 2014?
A economia brasileira como um todo terá, na melhor das hipóteses, um 2014 medíocre. Na pior, estagnação. Sem uma nova crise externa, o PIB deve crescer cerca de 2%, os juros subirão para impedir que a inflação aumente e o dólar cairá ao longo do ano.
 
Por outro lado, se uma desaceleração dos estímulos monetários nos EUA deflagrar o estouro de bolhas de ativos pelo mundo, a recuperação da economia chinesa for abortada, ou novas crises financeiras pipocarem na Europa ou nos países emergentes, nosso crescimento será próximo de nulo e, temporariamente, o dólar subirá ainda mais, pressionando a inflação.
 
 
2) Dentro desta perspectiva, como o Dr. Ricardo Amorim analisa os mercados de maior crescimento, como o farmacêutico?
No caso do setor farmacêutico, há pelo menos dois fatores importantes que devem continuar a impulsionar o crescimento do setor em 2014 e nos anos seguintes. O primeiro foi o forte crescimento recente do número de usuários dos planos de saúde privados, que deve continuar nos próximos anos devido à expansão de renda e emprego, ainda que em ritmo mais lento.
 
O segundo é a importância política crescente que a saúde pública deve ganhar devido à mudança do perfil sócio-econômico da população brasileira ao longo da última década e das recentes manifestações de rua. À medida que mais de 50 milhões de brasileiros deixaram as classes D e E juntaram-se à classe média e às classe mais altas, suas ambições e expectativas mudaram. Casa e comida apenas não os satisfazem. Há uma pressão popular crescentes por saúde, educação e transporte público de qualidade e, em algum momento, a classe política deve responder a esta nova realidade.
 
 
3) Analise os fatores que podem alavancar e prejudicar a economia brasileira nos próximos anos:
De 2004 a 2010, o PIB brasileiro cresceu a um ritmo de quase 5% a.a., 2,5 vezes a média dos 25 anos anteriores. Só foi possível por ajustes econômicos feitos antes, um forte crescimento na procura global por matérias primas que exportamos, e uma grande queda do custo de capital no mundo. Este modelo de desenvolvimento baseado na expansão da procura tanto externa quanto doméstica pelos nossos produtos e serviços está esgotado. Nos últimos 3 anos, voltamos à média histórica de crescimento do PIB de apenas 2% a.a.
 
Dois fatores que ajudaram o crescimento acelerado de 2004 a 2010 acabaram: incorporação de mão de obra ao mercado de trabalho e maior utilização da infraestrutura existente. O desemprego já é o mais baixo da história e o gargalo da infraestrutura é visível. Para sustentarmos um crescimento mais rápido, só investindo muito em qualificação de mão de obra, máquinas, equipamentos e infraestrutura. A China, que cresce 3 a 4 vezes mais rápido que o Brasil, investe em sua infraestrutura, a cada 3 meses, o equivalente a todo o estoque de infraestrutura existente no Brasil.
 
 
4) Quais segmentos da economia e do consumo tendem a deslanchar e/ou manter a economia brasileira em evidência?
Felizmente, algumas regiões e setores, incluindo o setor farmacêutico, terão um bom desempenho. O Norte, Centro-Oeste e o interior do país crescerão mais, impulsionados pelo vigor do agronegócio e da mineração. Idem para o Nordeste, onde a emergência de novos consumidores continuará forte. Setores de serviçoscomércio e imobiliário também crescerão mais do que o PIB, beneficiando-se da expansão de renda e crédito, e da falta de concorrência estrangeira, ao contrário da indústria.
 
 
5) Em um ano eleitoral, qual o impacto para a economia a manutenção ou ascensão de um novo governo? Como a eleição pode influenciar na economia?
Se você estivesse concorrendo à reeleição e, a menos de um ano das eleições, as pesquisas indicassem sua vitória com uma folga razoável, você faria grandes mudanças na política econômica? A Dilma também não. Como necessitamos urgentemente de uma mudança no modelo de política econômica redirecionando estímulos do consumo para a produção, neste sentido, as eleições devem atrapalhar o desempenho da economia em 2014. Passadas as eleições, seja com a vitória do atual governo ou da eleição, eu acredito que em algum momento do próximo mandato presidencial estas mudanças ocorrerão porque se não ocorrerem, nosso crescimento continuará muito baixo, com pressões inflacionárias crescentes, o que acabará resultando em elevação do desemprego, queda de poder de compra da população e forte insatisfação popular.
Em 2014, pelo 11º ano consecutivo, a produção industrial deve expandir-se menos do que as vendas no varejo. Continuaremos a consumir mais do que produzimos. Em algum momento isto ficará insustentável e deflagrará uma nova crise que forçará as mudanças que poderíamos ter feito antes, por escolha própria, em condições muito mais favoráveis.
 
 
6) Qual a mensagem que o Dr. Ricardo Amorim poderia deixar a quem deseja empreender no atual estágio da economia brasileira? Quais os melhores segmentos a investir?
Apesar de todas as dificuldades mencionadas, o desempenho de novas empresas no Brasil nos últimos anos foi o melhor da história, basicamente porque a entrada de novos consumidores no mercado com a expansão de emprego, renda e crédito beneficiou particularmente micro e pequenas empresas que, muitas vezes, tem mais acesso a estes consumidores emergentes.
Além disso, pela primeira vez em muitas décadas, novos empreendedores hoje têm acesso a crédito para financiar seus negócios.
Em resumo, o que eu diria, é foque em setores que crescerão mais, ofereça um serviço de qualidade e inove sempre para não ser esmagado pela concorrência.
 
 
Ricardo Amorim é apresentador do Manhattan Connection da Globonews, colunista da revista IstoÉ, presidente da Ricam Consultoria, único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do Speakers Corner e economista mais influente do Brasil segundo o Klout.com.Perfil no Twitter: @ricamconsult.

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