05/2015
Por Matheus Müller
Foto: Erica DalBello
Caso o governo consiga cumprir as medidas do ajuste fiscal e de combate à inflação, é possível que o Brasil termine o ano melhor do que começou e retome um ritmo de crescimento mais acelerado. Esse e outros assuntos serão abordados no seminário do Fórum da Indústria da Construção de Santos e Região (Ficon) pelo economista Ricardo Amorim, debatedor do Manhattan Connection, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria. O encontro, que é uma iniciativa do Sistema A Tribuna de Comunicação, com realização da Una Marketing de Eventos, acontece entre os dias 19 e 20 no Mendes Convention Center.
Quanto tempo a economia do País deve levar para se recuperar da atual crise?
Isto dependerá primordialmente da evolução do quadro político e do ritmo e profundidade da implementação das medidas de ajuste fiscal e de combate à inflação e seus impactos sobre a confiança de empresários e consumidores. Ainda neste trimestre e no próximo, é provável que haja comportamentos bastante distintos entre setores de bens não duráveis, como supermercados e farmácias, e os de bens duráveis, como o automotivo e o imobiliário. Com a confiança de consumidores nos níveis mais baixos da história, consumidores optam por adiar a troca do carro e da casa, impactando muito negativamente a venda destes produtos. Por outro lado, isto aumenta a renda disponível para gastos com produtos como alimentos e cosméticos, favorecendo o desempenho destes setores, o que aliás já aconteceu no primeiro trimestre. Por outro lado, pela primeira vez em cinco anos, é provável que terminemos o ano melhor do que começamos e com perspectivas melhores para os próximos anos. Se conseguirmos arrumar a casa ainda em 2015, retomando a confiança de empresários e consumidores, podemos retomar um ciclo de crescimento mais acelerado no final do ano e nos anos seguintes.
No curto prazo, qual deve ser o impacto do ajuste fiscal na economia?
A economia brasileira está doente. O ajuste fiscal é parte do tratamento. Como uma quimioterapia, garante a sobrevivência do paciente, mas seus efeitos colaterais são significativos e inicialmente eles fazem com que o paciente se sinta pior. Mais grave, o ajuste fiscal que está sendo feito no Brasil é de péssima qualidade e, por consequência, os efeitos colaterais são mais nocivos. Qualquer ajuste fiscal pode ser feito tanto reduzindo-se gastos públicos, como aumentando-se as receitas do governo, elevando impostos.
E como será esse ajuste?
O atual ajuste já anunciado chega a R$ 110 bilhões, dos quais R$ 92 bilhões viriam de aumento de impostos e R$ 18 bilhões de cortes de gastos com auxílio-desemprego e pensões. Esta parte do ajuste já foi reduzida pelo Congresso a R$7 bilhões, o que exigirá novos ajustes, que provavelmente também virão de aumento de impostos. Ainda mais grave, como o ajuste fiscal retira dinheiro da economia, ele aprofunda a recessão, reduzindo a arrecadação de impostos, exigindo um novo aprofundamento do ajuste. O aumento de impostos sobre produção e consumo, por sua vez, encarece produtos, o que eleva a inflação e exige juros mais altos, o que também aprofunda a recessão. O ideal seria que todo o ajuste fiscal se concentrasse em corte de gastos públicos.
O governo conseguirá fazer o ajuste fiscal?
Acredito que sim, mas como dizia antes, temo que a qualidade do ajuste será péssima e com impactos muito dolorosos sobre a economia brasileira.
A alta recente da bolsa e o recuo do dólar são sinais de melhora?
São sinais de melhora de expectativas, mas ainda muito iniciais para garantirem tranquilidade. Alguns dos maiores medos – como os associados com a incapacidade da Petrobras sequer de publicar seu balanço – parecem ter diminuído, mas é prematuro afirmar que eles tenham sido eliminados, principalmente considerando-se que o cenário político continua muito conturbado com a presidente com um nível de popularidade baixíssimo, o governo sendo constantemente derrotado no Congresso e a Operação Lava Jato podendo trazer novidades que compliquem ainda mais o cenário político.
Quanto ao mercado imobiliário, quais as perspectivas em meio a essa crise?
Acredito que 2015, assim como 2014, ainda será um ano muito difícil para quem constrói e vende imóveis. Mas as dificuldades que construtoras e corretores têm encontrado em vender são apenas um ajuste temporário em um processo de expansão acelerada iniciado há mais ou menos uma década e que ainda tem um período longo pela frente e que estas dificuldades para quem quer vender no momento representam uma ótima oportunidade para quem quer comprar imóveis.
Qual a sua expectativa para o setor imobiliário da região?
A Baixada Santista como um todo e mais especificamente seu mercado imobiliário têm sido negativamente impactados pelos problemas da Petrobras. É inegável que em um momento que o mercado imobiliário em todo o Brasil tem passado por dificuldades, os impactos específicos dos problemas de caixa e consequente redução de investimentos da Petrobras prejudicam ainda mais regiões como a Baixada Santista, o que na minha opinião só aumenta as oportunidades do ponto de vista de quem quer comprar um imóvel na região. Dificuldades para quem quer vender são sempre oportunidades para quem quer comprar, desde que não estejamos à beira de um colapso do mercado imobiliário por aqui, coisa que eu realmente acredito que não seja o caso.