5 sementes de um novo Brasil

02/2016

Por Ricardo Amorim

 

Bandeira sementes

 
Transformações significativas, profundas e duradouras normalmente não acontecem de uma hora para outra. Elas levam tempo e são consequências de forças que se somam e que, ao maturarem, trazem à tona mudanças imperceptíveis até então.
 
É cedo demais para ter certeza, mas talvez, o Brasil esteja passando por uma destas transformações, ainda em estágio subterrâneo e silencioso. Cinco sementes já estão plantadas:
 
1. Fim da cultura de impunidade generalizada e aceitação da corrupção – baixíssimo risco de punição e grande potencial de ganhos criaram uma cultura em que a corrupção foi, por muito tempo, encarada como “a forma como as coisas são no Brasil”. O corrupto era visto como o padrão; o honesto, como trouxa. Punições severas a algumas das pessoas mais poderosas do país, incluindo empresários, como Marcelo Odebrecht, e políticos, como o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral, e potencialmente outros muito mais poderosos, elevaram o risco para candidatos a corruptos e corruptores. Além disso, a decisão do Supremo Tribunal Federal de autorizar a prisão após condenação em segunda instância “fechou uma das janelas da impunidade no processo penal brasileiro”, segundo o juiz Sérgio Moro. Por fim, se houver suficiente pressão da sociedade, mudanças significativas na lei de combate à corrupção podem acontecer (10 medidas contra a corrupção).
 
2. Melhora de nível educacional brasileiro ao longo das duas últimas décadas – a qualidade da educação brasileira é péssima. Por isso, pouco notou-se o aumento no acesso de brasileiros ao ensino médio e universitário. É óbvio que precisamos melhorar – e muito – a qualidade da educação no país. Menos óbvio é que, mesmo com educação de baixa qualidade, o nível educacional médio do brasileiro melhorou bastante nas duas últimas décadas simplesmente porque mais de uma dezena de milhões de brasileiros que não iam à escola e à universidade passaram a ir. Ainda temos muito a evoluir, mas um povo mais educado fica mais produtivo, é menos vulnerável a manipulações e exige mais de seus líderes.
 
3. Expansão do acesso à internet e a redes sociais – nós brasileiros precisamos cobrar mais de nossos governantes. É mais fácil fazer isso quando a maioria dos brasileiros tem acesso à internet e às redes sociais, como hoje, e pode externar o que pensa, organizar-se e protestar. A importância deste fator na Primavera Árabe fala por si só.
 
4. Mudança de perfil religioso – nas últimas décadas, particularmente entre as camadas de menor poder aquisitivo da população, houve uma expansão muito significativa da fé evangélica. Muita atenção foi dada ao fato que diversos líderes religiosos e políticos inescrupulosos aproveitaram-se disso em benefício próprio. Por outro lado, o fato de que a ética de vida e de trabalho deste grupo tende a ser diferente da que a maior parte da população brasileira tem recebeu pouca atenção. A ética protestante de valorização do trabalho como forma de melhorar de vida, se generalizada, pode ser um elemento importante para revertermos a cultura de paternalismo estatal que, há alguns anos, batizei de Bolsa-Brasil, e que é um componente importante dos problemas brasileiros. Além disso, a honestidade parece ser um valor mais arraigado entre evangélicos fervorosos do que na maioria da população brasileira.
 
5. Ascensão social e econômica da nova classe média – dezenas de milhões de brasileiros que nunca tiveram acesso a muitos produtos e serviços não tinham sequer a expectativa de ter este acesso. Eles não mudaram apenas de padrão e consumo, mas também de expectativas. Eles esperam manter o que conquistaram e conquistar mais ao longo da vida. Neste momento, está acontecendo o contrário. Muitos estão regredindo, gerando insatisfação e uma pressão nos líderes políticos que antes não ocorria. Quem não provou e não esperava ter, não exigia; quem provou e está perdendo, sim. Além disso, ao melhorarem de padrão de renda e consumo, muitos deles passaram de beneficiários de programas sociais do governo a seus financiadores, pagando impostos bastante elevados sobre renda e consumo. Isto pode tornar-se um componente de pressão para desmontar o atual modelo de Estado provedor inchado, caro e ineficiente.
 
Para se desenvolverem, crescerem e gerarem árvores que darão frutos, as sementes precisam ser regadas e cuidadas. A transformação do Brasil em um país melhor também não vai acontecer sozinha. O trabalho será difícil e árduo, mas pelo menos as sementes já estão plantadas.
 
Ricardo Amorim é apresentador do Manhattan Connection da Globonews, presidente da Ricam Consultoria, o brasileiro mais influente no LinkedIn, único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do Speakers Corner e o economista mais influente do Brasil segundo a revista Forbes.
 
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