03/2016
Por Ricardo Amorim
Muito se discute como o Brasil chegou à mais profunda recessão de sua História e o que teremos de fazer para sairmos dela. Já tratei das razões econômicas e políticas da crise. Desta vez, quero falar de uma razão estrutural e suas implicações: o atual vácuo de lideranças no país.
Independentemente da gravidade dos erros de política econômica do governo Dilma desde seu primeiro mandato e da amplitude do escândalo de corrupção que vem emergindo com a Operação Lava-Jato, a crise econômica jamais teria tomado as proporções que tomou, não fosse a total incapacidade de liderança da Presidente Dilma.
Sua personalidade excessivamente conflitiva e centralizadora resultou em uma equipe de governo de baixa qualidade e em péssimas relações com o Congresso. Além disso, a falta de uma visão, uma proposta e uma agenda de reformas para melhorar o país que ocupasse as discussões no Congresso, levou o Congresso a definir sua própria pauta, antagônica aos interesses do governo.
Ainda assim, mesmo a incapacidade de liderança da atual Presidente é apenas uma parte da explicação da gravidade e profundidade da crise. O vácuo de liderança no Brasil é generalizado.
Ainda na política, a chegada de Dilma à Presidência já foi um subproduto deste vácuo de lideranças. Após José Dirceu e Antônio Palocci terem sido queimados por denúncias de corrupção, não restou ao PT e a Lula outra opção.
A ausência de lideranças fortes na oposição, por sua vez, permitiu sua eleição e reeleição, apesar da falta de carisma de Dilma e do desempenho econômico pífio de seu primeiro mandato.
Mais recentemente, à medida que as denúncias de corrupção se avolumam e aprofundam, os principais líderes da oposição – em alguns casos apesar de dezenas de milhões de votos na última eleição – se acovardam. Na melhor das hipóteses, o acovardamento é consequência de cálculos político-eleitorais pessoais, independentemente das consequências negativas que a inação e paralisia trouxeram à vida de todos os brasileiros. Na pior hipótese, o acovardamento é consequência de medo e causado por rabos presos.
Se o quadro é grave no Executivo, no Legislativo ele não é melhor. Metade de nossos congressistas está sendo investigada por crimes eleitorais, corrupção, homicídio e outros crimes.
Não surpreende a atual aversão generalizada a políticos. O que surpreende é que – talvez com a exceção de Joaquim Barbosa e Sergio Moro – não haja surgido outras lideranças ocupando o vácuo deixado pelos políticos.
Infelizmente, a falta de lideranças atinge toda a sociedade brasileira. Assim como na política, no mundo empresarial houve uma transição geracional em que líderes fortes e carismáticos ficaram para trás sem o surgimento de novas figuras da mesma envergadura. No caso das lideranças empresariais, houve um agravante.
Desde que o PT assumiu o poder, há mais de 13 anos, o governo estendeu seus tentáculos sobre toda a economia, desvirtuando a relação público-privado e a própria competição entre as empresas. Para o sucesso das empresas, relações privilegiadas com o governo tornaram-se mais importantes do que eficiência, inovação ou bons produtos, serviços e atendimento. Ícones empresariais que surgiram neste ambiente provaram ter pés de barro.
Talvez ainda mais grave, através de pseudopolíticas de desenvolvimento que distribuíam supostas benesses para algumas regiões e setores – como impostos temporariamente reduzidos ou crédito subsidiado do BNDES – e a ameaça de retirar tais benesses, o governo impediu a formação de uma liderança empresarial unida e combativa.
A política não aceita vácuo. Na História brasileira, vácuos de liderança e consequentes desacelerações econômicas agudas sempre resultaram em transições políticas e econômicas significativas. No início da década de 30, eles levaram à emergência de Getúlio Vargas e do Estado Novo; em meados dos anos 40, à 4ª República; em meados da década de 60, ao Golpe Militar; em meados dos anos 80, à redemocratização e no início da década de 90, ao impeachment de Collor. É improvável que desta vez seja diferente. Teremos mudanças significativas. Recentemente, plantamos sementes de onde pode florescer um país melhor, mas isto acontecer ou não dependerá de nossa capacidade de regar e cuidar destas sementes. Cabe a nós exigir e construir a transição para um país melhor.
Esta questão me parece tão importante, que estou lançando um livro, Depois da Tempestade, para tratá-la com a atenção que merece.
Mais do que nomes de potenciais salvadores da Pátria, que – de uma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde – acabam aparecendo nestas situações, deveríamos discutir as qualidades que nossos líderes deveriam ter.
Não precisamos fomentar boas lideranças só a nível federal, mas também em cada Estado, Município e empresa. Como garantir que nossa empresa não entre em crise quando um líder forte se vai, como aconteceu com o país? Como formar líderes com as qualidades que julgamos importantes? Como nos tonarmos estes líderes em nossas próprias áreas de atuação? Eu jamais conseguiria esgotar estas questões neste artigo. Há quatro anos dedico-me a estudá-las e, mais recentemente, venho desenvolvendo alguns cursos para tratá-las com a profundidade que merecem e tentar colaborar para a formação de bons líderes empresariais.
Mais do que nada, cabe a cada um de nós responder quais deveriam ser as qualidades fundamentais de nossos líderes. Para começar a discussão, eis três que, em minha opinião, não podem faltar:
- Valores éticos fortes – a gravidade da atual crise de algumas grandes empresas, líderes políticos e líderes empresariais fala por si só. Nas palavras de Warren Buffett, “são necessários 20 anos para construir uma reputação e cinco minutos para destruí-la”.
- Paixão e propósito fortes – líderes que deixam marcas em empresas, comunidades, países ou em todo o mundo sempre têm propósitos fortes e uma paixão inabalável para transformar seus propósitos em realidade. Não construiremos um país ou empresas que melhorem a vida das pessoas sem pessoas que acreditem que estas são causas pelas quais vale a pena lutar.
- Visão de longo prazo – Sem um objetivo claro de onde queremos chegar, ficamos à mercê dos ventos e tomamos decisões que, sem nos darmos conta, nos levam em direção ao precipício. Em 2014, o único objetivo de Dilma era vencer as eleições, mesmo gerando desequilíbrios nas contas externas, nas contas públicas e na inflação que acabaram sendo os gatilhos da crise atual e destruindo seu partido e qualquer legado de seu primeiro mandato. Valeu a pena? Como melhorar a educação, a infraestrutura, o ambiente de negócios ou garantir a sustentabilidade da Previdência olhando só para o próximo ano, ao invés de para a próxima geração?
E para você, quais qualidades os líderes do país e da sua empresa não podem deixar de ter?
Ricardo Amorim é apresentador do Manhattan Connection da Globonews, presidente da Ricam Consultoria, o brasileiro mais influente no LinkedIn, único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do Speakers Corner e o economista mais influente do Brasil segundo a revista Forbes.
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