12/2017
Por Ricardo Amorim
Apesar do caos político, em 2017, o Brasil finalmente deixou para trás a mais profunda, longa e dura depressão econômica da sua História. O PIB cresceu nos 3 primeiros trimestres do ano e os indicadores já conhecidos sugerem que o ritmo de crescimento se acelerou no 4º trimestre. A confiança dos consumidores e de empresários de todos os setores da economia vêm melhorando desde dezembro de 2015. Desde abril, os empregos começaram a voltar e 2,3 milhões de pessoas antes desempregadas voltaram a trabalhar. A nova legislação trabalhista deve ajudar a sustentar esta tendência.
Com a inflação caindo para o nível mais baixo em 20 anos, a taxa Selic caiu para o menor nível da História. Recentemente, isto começou a impulsionar também os setores de bens duráveis – sempre os últimos a se recuperarem após crises econômicas. Em outubro, as vendas e a produção de veículos cresceram mais de 40% em relação a outubro de 2016 e as vendas de imóveis no país cresceram mais de 20% no ano. As vendas de papelão ondulado – o melhor indicador das expectativas da indústria para o futuro – cresceram 4% no ano e 8% no último mês. O comércio espera o melhor Natal em pelo menos 3 anos; talvez, em 5 anos.
O futuro é sempre incerto e, com relação a 2018, não é diferente. A Reforma da Previdência e a Reforma Tributária serão aprovadas? Se forem, podem contribuir para melhorar as contas públicas e fortalecer a competividade da economia brasileira, colaborando para o aumento dos investimentos produtivos e, por consequência, para a geração de mais empregos e para um crescimento mais acelerado e mais duradouro.
Maior ainda é a incerteza eleitoral. Ainda não sabemos ao certo quem serão os candidatos, menos ainda o que farão se eleitos. Apesar disso, o risco de uma guinada substancial na política econômica que possa colocar em risco a recuperação parece relativamente limitado.
As maiores preocupações viriam de uma eventual eleição de Lula à Presidência, mas essa possibilidade é mais remota do que parece. Em janeiro, o TRF-4 deve decidir sobre o apelo de Lula à decisão do juiz Sergio Moro, que o condenou a 9,5 anos de prisão. Em 70% das decisões do TRF-4 sobre apelos de decisões da 1ª instância da Justiça em casos da Lava–Jato, o TRF-4 não apenas confirmou a condenação, mas endureceu as penas dadas por Moro. Mantida a condenação, mesmo que a pena seja abrandada, Lula será enquadrado como ficha suja e impossibilitado de se candidatar nas eleições. Uma eventual condenação é passível de embargo pela defesa de Lula, mas os embargos normalmente são rejeitados. Ainda caberia um apelo ao STF sobre a decisão, mas Lula permaneceria impedido de participar das eleições. Assim, a chance de que Lula possa vir a ser candidato é de menos de 30%.
Em segundo lugar, mesmo que seja candidato, sua chance de ser eleito é menor do que uma leitura rápida das pesquisas eleitorais mais recentes sugeriria. As mesmas pesquisas mostram que a maioria dos eleitores ainda não optou por nenhum dos candidatos e Lula – como aliás a grande maioria dos pré-candidatos conhecidos – tem taxas de reprovação maiores do que as de aprovação, o que mantém o resultado da eleição bastante incerto.
A última questão é, se eleito, Lula mudaria radicalmente a política econômica, colocando a recuperação em risco? Possível, mas improvável. Nunca é demais lembrar que, quando assumiu em 2002, ele fez exatamente o contrário, trazendo para Presidente do Banco Central o atual Ministro da Fazenda Henrique Meirelles, banqueiro internacional respeitado e então recém-eleito deputado federal pelo PSDB. Lula está magoado com “as elites” e, ameaçado por um número de processos que não para de crescer, deve ter atitudes diferentes se chegar à Presidência desta vez, mas a liberdade de imprensa e a independência da Justiça parecem muito mais em risco do que a política econômica.
Lula não é o único que, se eleito, eventualmente poderia mudar radicalmente a política econômica, colocando a recuperação econômica em risco. Ciro Gomes, Marina da Silva e Jair Bolsonaro também representam algum risco, mas as chances de Ciro Gomes ser o próximo presidente parecem baixas e Marina e Bolsonaro vêm, cada vez mais, apoiando as políticas econômicas atuais. Só teremos certeza se suas conversões à ortodoxia econômica são genuínas se um dos dois vier a ser eleito, mas os riscos de loucuras econômicas parecem estar diminuindo.
Os outros principais potenciais candidatos que se vislumbram hoje – Henrique Meirelles, Geraldo Alckmin, João Dória, João Amôedo e Alvaro Dias – têm diferenças enormes entre si, mas nenhum apoia mudanças de política econômica que colocariam a recuperação em risco.
Em resumo, riscos eleitorais existem – até porque não é possível descartar o surgimento de outros candidatos competitivos – mas parecem limitados. Riscos externos – uma guerra ou uma crise financeira global – talvez sejam até mais significativos, mas o resumo da ópera é que, se nenhum deles se materializar, o mais provável é que o crescimento da economia brasileira em 2018 e nos próximos anos supere – talvez por muito – a expectativa média de crescimento da maioria dos economistas na casa de 2% a.a..
Ricardo Amorim, autor do bestseller Depois da Tempestade, apresentador do Manhattan Connection da Globonews, o economista mais influente do Brasil segundo a revista Forbes, o brasileiro mais influente no LinkedIn, único brasileiro entre os melhores palestrantes mundiais do Speakers Corner e ganhador do prêmio Os + Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças.
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