Publicado em: www.clubelunico.com.br
janeiro de 2010
Desde a redemocratização do Brasil em meados da década de 80, ano de eleição presidencial virou sinônimo de ano de crise.
Como toda boa regra, a da maldição eleitoral também tem lá suas exceções: a eleição de Fernando Henrique em 1994 e a reeleição de Lula em 2006, anos em que as crises passaram longe do país, e o Brasil cresceu com vigor.
O que as eleições de 1990, 1998 e 2002 tiveram em comum? O medo da ruptura do modelo econômico vigente. Medo e estabilidade econômica não costumam andar de mãos dadas. Está aí a recente crise financeira global para mostrar…
Em 1989, os brasileiros tinham razões de sobra para estarem apreensivos: não bastasse a inflação chegando a 90% ao mês, Collor semeou habilmente o pavor de que Lula, então candidato favorito na corrida eleitoral, usurparia a poupança do povo – o que, ironicamente, acabou sendo feito pelo próprio Collor. De quebra, o alagoano era um ilustre desconhecido e ninguém sabia ao certo o que faria uma vez no governo.
Em 1998, em meio à crise russa, o medo de Lula ressurgiu, e capitais estrangeiros e nacionais correram para a porta de saída do país. Não foi daquela vez que Lula foi eleito, mas sim quatro anos mais tarde, em 2002, quando mais uma vez preocupações com uma mudança radical do modelo econômico causaram uma enorme fuga de capitais, uma nova megadesvalorização do Real e consequentemente a alta dos juros.
Por que as eleições presidenciais de 2010 devem se assemelhar às de 1994 e 2006, e não às demais? Em primeiro lugar, os fantasmas do Partido dos Trabalhadores (PT) e de Lula não assustam mais. Independentemente de gostar ou não do governo Lula, é impossível não reconhecer que o medo de que ele e o PT ateassem fogo ao circo, que foi o estopim das crises de 1990, 1998 e 2002 já não se justifica.
Além disso, mudaram os tais fundamentos econômicos brasileiros. Em português claro, o Brasil passou a ter uma economia sólida em função de políticas macroeconômicas austeras ao longo dos dois mandatos de FHC e dos dois mandatos de Lula, além de uma ajuda descomunal da conjuntura econômica externa entre 2003 e o ano passado. Essa solidez se vê em várias áreas, talvez a mais marcante seja que de eterno endividado, o Brasil passou a ser credor externo líquido – isto é, temos mais ativos externos do que dívida externa. Até para o FMI, o Brasil está emprestando dinheiro. Não foi à toa que a crise financeira global do último ano foi muito mais branda por aqui do que em outras bandas.
Em resumo, com a economia sólida e crescendo de forma sustentada – o crescimento do PIB em 2010 deve ser o maior em mais de 20 anos – não há razões para mudanças radicais e a consequência é de que a eleição deve ficar polarizada entre os candidatos dos dois partidos que governaram o país nos últimos 16 anos, o PT e o PSDB. Apesar da incrível falta de carisma dos dois principais concorrentes à eleição presidencial, o governador tucano José Serra e a afilhada do filho do Brasil, a ministra Dilma da Silva, é bastante improvável que uma terceira via vingue e, por consequência, que haja grandes guinadas na condução da economia brasileira.
Pode dormir tranquilo. Pequenas chacoalhadas nos mercados financeiros até podem acontecer ao longo do ano, mas crise eleitoral em 2010 só se for na terra do Tio Sam.