09/2016
Chegou a hora do Presidente Michel Temer mostrar a que veio. A conclusão do impeachment de Dilma Rousseff, por paradoxal que pareça, coloca o novo presidente na berlinda.
Em meu livro Depois da Tempestade, publicado há alguns meses, ainda antes de Michel Temer tomar posse como presidente interino, eu alertava que as pedaladas fiscais, os escândalos de corrupção, a desilusão eleitoral e as crises econômica e política tornavam o impeachment inevitável. Isto abriria espaço para mudanças da política econômica, recuperação da confiança na economia brasileira e, por consequência, uma recuperação econômica com mais força e iniciada muito antes do que a maioria imaginava, gerando ótimas oportunidades de negócio.
De lá para cá, a confiança dos consumidores e dos empresários de todos os setores da economia brasileira melhorou. Vários setores já começaram a mostrar sinais iniciais – ainda que incipientes e frágeis – de recuperação, os investimentos das empresas cresceram um pouco – depois de mais de dois anos de quedas consecutivas – e a inflação desacelerou, abrindo espaço para um possível corte da taxa de juros, talvez ainda neste ano, o que poderá criar condições para uma recuperação da oferta de crédito.
Com a conclusão do impeachment, é provável que os próximos indicadores de confiança melhorem ainda mais, reforçando o círculo virtuoso. No entanto, um componente fundamental para que este círculo virtuoso se sustente nos próximos meses e nos próximos anos ainda está ausente: o ajuste das contas públicas.
O desequilíbrio das contas públicas coloca em dúvida a capacidade do governo brasileiro de arcar com seus compromissos financeiros no futuro, afugentando investimentos das empresas e, portanto, impedindo a criação de mais empregos, renda e consumo no país.
A confiança no Brasil melhorou desde que Temer assumiu como presidente interino fundamentalmente pela saída do bode da sala. A confiança melhorou pelo que Dilma não mais fará; não pelo que Temer fez até aqui.
Inicialmente, apoiado na fragilidade de sua posição como interino, Temer cedeu a pressões por aumentos salariais do funcionalismo público e não levou à votação no Congresso nenhuma das reformas estruturais necessárias para fortalecer nossa economia.
Uma semana antes da votação final do impeachment no Senado, quando sua aprovação já estava garantida, Temer parece ter mudado de atitude e bloqueou aumentos do funcionalismo, colocou em discussão alguns aspectos de sua proposta de Reforma Trabalhista e sugeriu que colocará em votação em breve a reforma que limita gastos públicos.
Agora, com o impeachment sacramentado, Temer não tem mais a desculpa da interinidade. Se o ajuste das contas públicas não acontecer, a recuperação da confiança será abortada e, com ela, a possibilidade de estimularmos a economia expandindo crédito – sem confiança, os bancos não emprestarão mais dinheiro e as empresas e famílias não terão coragem de se endividar para financiar investimentos e consumo.
Chegou a hora da verdade. Se Temer enfrentar interesses estabelecidos, colocar as contas públicas em ordem, o círculo virtuoso vai se fortalecer ainda mais. Em particular, será fundamental aprovar a reforma que limita os gastos públicos e unificar a previdência em um sistema único, eliminando as regras excessivamente generosas e custosas dos diferentes regimes de previdência do setor público. Se Temer não tiver coragem ou não for capaz de fazer isso, o impeachment acabará se provando uma vitória de Pirro. Repito a pergunta que foi título do artigo que publiquei assim que Temer assumiu como interino: E agora, Temer?
Ricardo Amorim é autor do bestseller Depois da Tempestade, apresentador do Manhattan Connection da Globonews, presidente da Ricam Consultoria, o brasileiro mais influente no LinkedIn, único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do Speakers Corner e o economista mais influente do Brasil segundo a revista Forbes.
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