BRICs: tijolos de um novo mundo.

Publicado em: www.clubelunico.com.br

março de 2010

 

Como se cunhou a sigla BRICs.

Em 2001, o banco americano Goldman Sachs – que ultimamente tem frequentado as manchetes de jornais por, supostamente, ter auxiliado o governo grego, em 2002, a esconder da Comissão Europeia US$ 1 bilhão em dívidas para poder juntar-se à zona do euro – cunhou a sigla BRICs. Ela se refere ao conjunto dos quatro maiores países emergentes – Brasil, Rússia, Índia e China – que, segundo estudo do Goldman Sachs, deverão representar em 2050 uma fatia maior da economia mundial do que os atuais países ricos.

A palavra brics, tijolos em inglês, alude ao fato de que esses países devem se tornar o sustentáculo da economia mundial ao longo das próximas décadas.
Eu já era do contra naquela época e, por várias razões, achava que uma melhor sigla para este grupo de países teria sido CRIBs. Crib, berço em inglês, enfatizaria que essas economias ainda estão em seus estágios iniciais de desenvolvimento e que seu gradual crescimento criará uma nova ordem econômica global, totalmente distinta desta com que nos acostumamos desde que nascemos.
Além disso, to crib significa plagear, algo que os chineses são mestres, como é de amplo conhecimento de seus competidores nos mais diversos setores. Isto me leva ao último e mais importante ponto. Ao contrário de BRICs, que se inicia com o B de Brasil e termina com o C de China, CRIBs começa com o C de China – o motor propulsor deste processo após sua entrada na Organização Mundial do Comércio em 2001 – e finaliza com o B de Brasil, o último dos quatro países do bloco a verificar uma aceleração do crescimento econômico.
Isto ajudaria a deixar mais claras as diferenças dentro do bloco. China e Índia, as duas economias mais populosas do planeta, estão emergindo da pobreza, enquanto Brasil e Rússia, países de renda média e bem dotados de commodities, complementam as economias dos dois primeiros, suprindo-os de alimentos, metais, minerais e fontes de energia.
Essa distinção é fundamental para entendermos as próprias diferenças de ritmo de crescimento dentro do bloco, com a China sustentando taxas de crescimento do PIB de quase 10% ao ano em média nos últimos 30 anos, enquanto no Brasil, mesmo com a aceleração do crescimento nos últimos anos, não passamos da metade do ritmo de crescimento chinês.
A explicação está no estágio de desenvolvimento inferior que Índia e China ainda se encontram em relação a Brasil e Rússia. Metade da população chinesa e mais da metade da indiana ainda moram em zonas rurais. Algo não muito distinto acontecia no Brasil em meados do século passado. Hoje, menos de 10% da população brasileira ainda vive no campo.
Desta forma, a mera transferência gradual de parcelas crescentes da mão de obra chinesa e indiana da agricultura de subsistência para a indústria manufatureira e de serviços, onde a produtividade é bem maior, permite a estes países sustentar taxas de crescimento que no Brasil foram possíveis das décadas de 50 a 70, mas hoje dificilmente seriam.
Isto não significa que o Brasil ou a Rússia não estejam emergindo ou não continuarão a emergir, mas apenas que por estarem em estágios de desenvolvimento mais avançados, o ritmo de suas emergências daqui para frente será menos intenso e mais dependente dos dois primeiros países e suas necessidades por recursos naturais. Para termos uma ideia da abundância de recursos naturais no caso russo, suas exportações apenas de petróleo ultrapassam US$ 200 bilhões por ano.
Enfim, BRICs ou CRIBs, pouco importa, o berço do novo mundo é feito de tijolos.

LinkedIn
Facebook
Twitter

Relacionados