Publicado em: www.clubelunico.com.br
março de 2010
“Inglaterra volta a pedir auxílio ao FMI pela quarta vez”
Há dez anos, as manchetes acima certamente só poderiam fazer parte de um programa de comédia. Ao longo dos próximos dez, é provável que vamos lê-las nos mais respeitados jornais em todo o mundo.
A entrada da China na Organização Mundial do Comércio em 2001 alterou completamente a ordem econômica mundial. Favoreceu países emergentes, como o Brasil, que agora vendem suas matéria-primas a preços crescentes e atraem capital a baixas taxas de juros. E impactou negativamente países ricos, que sofrem maior concorrência na produção de artigos manufaturados e serviços, além de não conseguirem mais a mesma remuneração para seu capital que recebiam em décadas anteriores.
Para o Brasil, isto marcou o final de um período que chamo de geração perdida – quase 25 anos entre 1980 e 2003, quando nosso crescimento médio não chegou a 2,5% ao ano, menos do que se expandiu nossa força de trabalho. De lá para cá, com exceção da crise do ano passado, a média de crescimento brasileiro mais que dobrou e, provavelmente ainda aumentará um pouco nos próximos anos.
Essa aceleração do crescimento constrói uma nova nação ao longo do tempo, aquela com a qual apenas sonhávamos quando ainda acreditávamos que o Brasil seria o país do futuro. Entre as décadas de 50 e 70, o Brasil sustentou um crescimento médio anual de mais de 7%, bem acima da média mundial. Depois disso, veio a geração perdida. Se tivéssemos mantido o ritmo de crescimento dos trinta anos anteriores, nossa renda per capita atual seria similar ou superior às de países como Espanha, Itália, ou França. Não foi esse futuro que se materializou para toda uma geração, mas talvez seja o que a geração seguinte possa desfrutar.
Mantidas as tendências dos últimos anos por apenas mais 10 anos, teremos em 2020 uma distribuição de renda no Brasil mais igualitária que a americana e uma economia maior que a inglesa ou a francesa. Se isso não é uma mudança radical de paradigma econômico, eu não sei o que é.
Enfim, é bom superarmos o complexo de vira-lata das últimas décadas e nos prepararmos, porque o futuro está batendo às nossas portas.