Entrevista de Ricardo Amorim para a Anamaco: 2015 vai começar difícil, mas ao contrário dos últimos anos, pode terminar melhor

01/2015

Revista Anamaco

Por Ariane Guerreiro e Eraldo Soares

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Créditos ao Bob Paulino
 

Decepcionante é como o economista da Ricam Consultoria, Ricardo Amorim, define o ano economicamente, diante do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) próximo a zero, situação pior do que imaginado no final de 2013. Muito do cenário apresentado nesta reportagem pode parecer repetição de outros anos, mas na verdade é o aprofundamento de uma situação que coloca o País na contra mão do desenvolvimento, fruto de medidas econômicas que se mostraram errôneas ao longo dos últimos anos, somadas às incertezas e à baixa confiança do consumidor e dos empresários.

 

“O início de 2015 será difícil de qualquer jeito, com a alta de juros e o aperto fiscal que tem de acontecer e que passa por aumento de impostos. São medidas recessivas e que deverão ser compensadas com outras que sinalizem para as empresas que o segundo semestre poderá ser melhor”, prevê Amorim.

 

As perspectivas, porém, não são animadoras e a inflação deverá se manter elevada em 2015. Para o consultor da Ricam, o ajuste das tarifas sob controle público deverá ocorrer – como já aconteceu com energia elétrica -, provocando pressão inflacionária mesmo com a elevação das taxas de juros.

 

Amorim também alerta para a necessidade de reverter esse quadro. “Nenhum país cresce rápido se a indústria não crescer. Algumas coisas são simples, como a burocracia estatal, que custa muito ao País e não exige dinheiro para mudar, mas coragem.

 

No primeiro mandado da presidente Dilma, a solução para problemas foi o intervencionismo estatal, mas não estamos lidando com as razões para o problema”, salienta. “Se não privilegiar a produção, o PIB cairá no ano que vem”, prevê o economista.

 

Na opinião de Amorim, até dois anos atrás, a taxa de desemprego era baixa graças ao aumento do número de postos de trabalho, mas desde então, o índice está baixo porque as pessoas deixaram de procurar, confirmando um quadro que pode ser preocupante no próximo ano, tendo em vista que emprego é fundamental para a economia. “A redução dos postos de trabalho acende um alerta gravíssimo e indica, mais do que nunca, que o momento de choque de confiança é agora”, destaca. A análise explicaria os dados do IBGE sobre o índice de desemprego, que registrara a menor taxa desde 2002: 4,7%.

 

Não há como negar que profissionalização, qualificação, emprego e renda são fatores profundamente interligados. Diante disso, Amorim reafirma a necessidade do Governo Federal atuar no sentido de retomar a confiança, primeiramente, dos empresários. “Se as empresas estão preocupadas com o futuro, elas não investem, não geram empregos. Se as pessoas perdem o emprego ou veem alguém perdendo, ficam preocupadas e seguram os gastos, e isso tudo leva a economia a parar. Sem a retomada de confiança, o ano novamente deverá ser muito ruim economicamente”, explica.

 

Para Amorim, de fato, a reforma tributária é necessária, mas para que o sistema fosse mais simples e menor, seria necessário corte de gastos do governo e não há nenhum tipo de projeto mais profundo nesse sentido. “Se o governo sinalizar para o corte de gastos, cria espaço para a reforma tributária, para aumento dos investimentos em infraestrutura, para menor necessidade de financiamento e de aumento de taxas de juros, isto é, uma série de passos positivos, mas que dificilmente ocorrerá”, acredita o economista.

 

Na avaliação de Amorim, o primeiro semestre certamente será muito difícil, com crescimento zero ou negativo, mas o segundo poderá ser melhor, com resultados mais fortes. A inflação e os juros deverão continuar altos, devendo entrar numa tendência inversa somente no final de 2015 e início de 2016.

 

Na avaliação do consultor da Ricam, há uma série de medidas que poderiam ser tomadas, até mesmo simples do ponto de vista econômico, mas que são complicadas no âmbito político. “O governo precisa passar o recado que colocará a casa em ordem e, para isso, precisará subir juros, aumentar imposto e cortar gasto, o que diminui o crescimento e o primeiro impacto é negativo”, ressalta Amorim.

 

Acompanhe a matéria na íntegra.

 
 

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