Economista e palestrante Ricardo Amorim prevê baixo crescimento em 2012.

Correio de Uberlândia
6/11/2011
Por Flavia Ferraz

 
Economista prevê crescimento limitado no país no ano que vem.
 
Empresários e empreendedores de todo o país estarão reunidos, a partir da próxima terça-feira (8) até quinta-feira (10), em Uberlândia, durante a 2ª edição do Encontro de Negócios Brasil Central. Na programação do evento, além de seminários, oficinas e a rodada de negócios, considerada a maior do país e a segunda maior da América Latina, haverá palestras magnas com o economista Ricardo Amorim, cujo tema será “Economia mundial em transformação: impacto nos seus negócios”, e com o mestre em negócios e empreendedorismo, Raúl Candeloro, que terá como tema “4 formas de aumentar as vendas da sua empresa”.
 
Uma das principais atrações do evento – que em 2010 gerou R$ 539 milhões em expectativa de negócios e neste ano deverá contar com a participação de 40 empresas privadas, 20 públicas, 12 internacionais e outras 500 ofertantes -, a palestra de Ricardo Amorim acontecerá na abertura do encontro, na terça-feira, às 19h, com entrada franca. Um dos debatedores do programa “Manhattan Connection”, exibido pelo canal Globo News desde 2003 e especializado em assuntos como economia, política e entretenimento, Amorim também é colunista da revista “IstoÉ”.
Em entrevista ao CORREIO de Uberlândia, o economista, formado pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduado em Administração e Finanças Internacionais pela École Supérieure des Sciences Economiques et Commerciales (ESSEC), de Paris (França), disse que o crescimento da economia brasileira em 2012 deve ser limitado.
 
Amorim também afirmou que “a localização geográfica de Uberlândia a torna um local ideal para ser centro de logística nacional, o que explica por que ela tem crescido bastante”.
 
Qual a sua avaliação sobre o atual momento da economia brasileira?
Atualmente, nossa economia tem sido impactada por duas forças opostas. De um lado, a emergência da China e da Índia elevou a demanda e o preço de produtos que exportamos, reduziu o preço do que importamos, barateou o custo do capital e nos ajudou a atrair a mão de obra de brasileiros e estrangeiros. Em contrapartida, a crise dos países ricos tem impactado negativamente nas exportações brasileiras. Como é esperada uma recessão na Europa e nos Estados Unidos em 2012, o crescimento da economia brasileira deve ser limitado no próximo ano. A estimativa é que o PIB [Produto Interno Bruto] cresça cerca de 1%. Em compensação, em 2013, o país deve retornar às taxas de crescimento similares às de 2010: 7,5%. Já para 2014, ano de Copa do Mundo e eleições majoritárias, o crescimento deve continuar elevado.
 
Os escândalos políticos, que afetam a economia, estão cada vez mais frequentes no Brasil. Diante deste cenário, qual a sua visão sobre o futuro político e econômico do país?
A presidente Dilma [Rousseff] teve a coragem de expurgar vários alvos de acusação de corrupção de seu governo. Talvez, esta ação ajude a reduzir o grau de corrupção no país. Por outro lado, é uma situação que a deixa mais vulnerável às represálias políticas quando necessitar de apoio no Congresso. Mas ainda é muito cedo para traçar as consequências desta estratégia.
 
Você disse recentemente que esta pode ser a melhor década da história brasileira. Por quê?
Porque, pela primeira vez em muitas décadas, devido aos impactos favoráveis causados pela emergência de China e da Índia, o Brasil pode sustentar elevadas taxas de crescimento sem gerar grandes desequilíbrios de contas externas e públicas ou inflação. Por isso, a média de crescimento do PIB nos últimos oito anos mais que dobrou em relação à média dos 24 anos anteriores. Esta situação não dependeu da ação do governo brasileiro para solucionar problemas estruturais como gastos públicos exagerados, infraestrutura precária, educação e saúde de má qualidade.
 
Uberlândia é hoje a segunda maior cidade de Minas Gerais, com 604 mil habitantes. Qual a perspectiva de crescimento de cidades de médio porte como Uberlândia?
As cidades que mais crescem no Brasil são exatamente as de médio e pequeno porte. No caso específico de Uberlândia, a localização geográfica a torna um local ideal para centro de logística nacional, o que explica por que ela cresce ainda mais. Nos últimos três anos, por exemplo, Uberlândia foi a cidade brasileira onde a venda de automóveis mais cresceu entre aquelas com mais de 500 mil habitantes.
 
Recentemente, foi divulgada no jornal CORREIO uma reportagem sobre a mudança de hábitos da classe C. Uma pesquisa do Instituto Data Popular revelou que a categoria tem investido mais no setor de serviços. Economistas dizem que esta modificação está relacionada à maior oferta de crédito. Quais os riscos para a economia diante do maior “poder” de consumo desta classe?
Por enquanto, este crescimento do poder de consumo gera muito mais oportunidades do que risco. Segundo dados do Instituto Ipsos, um dos líderes globais no fornecimento de pesquisas, entre 2000 e 2010, 29 milhões de brasileiros entraram na classe C e 16 milhões emergiram às classes A e B. Em resumo, o Brasil ganhou 45 milhões de novos consumidores, o equivalente a uma Itália inteira.
 
Segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Triângulo Mineiro e Alto do Paranaíba (Sinduscon-TAP), o metro quadrado em Uberlândia, nos últimos três anos, subiu cerca de 60%. Em contrapartida, já se fala em uma redução no “boom” do mercado imobiliário. Hoje, para quem é investidor, ainda vale a pena aplicar os recursos em imóveis?
Não acredito que haja uma bolha imobiliária prestes a explodir no país. O volume de crédito no Brasil ainda é 20 vezes menor do que era nos Estados Unidos e 15 vezes menor que em Portugal ou Espanha quando as bolhas estouraram nestes países. Por outro lado, não parece realista esperar que a alta de preços vai seguir no mesmo ritmo dos últimos anos. Em resumo, acredito que os preços continuarão a subir, mas em ritmo mais lento.
 
Ainda sobre investimento, seria mais interessante neste momento investir no mercado imobiliário ou na bolsa de valores?
Depende do objetivo, do prazo de investimento e do grau de tolerância e risco do investidor. Em linhas gerais, nos próximos anos deve ser possível alcançar retornos mais elevados com investimentos em ações, inclusive das próprias construtoras e incorporadoras, do que com imóveis. Por outro lado, o risco também é muito maior.

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