Entrevista de Ricardo Amorim sobre oportunidades em cidades do interior e no mercado imobiliário.

Jornal Correio de Uberlândia
11/2011
Por Flávia Ferraz


 
 
1 – Qual avaliação você faz do atual momento da economia brasileira?
R.A – Atualmente nossa economia está sendo impactada por duas forças opostas. Por uma lado a emergência da China e da Índia elevou a demanda e preço de produtos que exportamos, barateou o preço do que importamos, barateou o custo do capital e nos ajudou a atrair talentos de brasileiros que estavam fora e de estrangeiros. Por outro, a crise dos países ricos está impactando negativamente nossas exportações. Como é provável que Europa e EUA entrem em recessão no ano que vem, nosso crescimento deve ser limitado em 2012; provavelmente o PIB crescerá cerca de 1%. Em compensação, em 2013 devemos retornar a taxas de crescimento similares às de 2010: 7,5% e em 2014, ano de Copa do Mundo e eleições, o crescimento deve continuar elevado.
 
2 – Os escândalos políticos, que se esbarram diretamente na economia, estão cada vez mais recorrentes no Brasil. Diante deste cenário, qual a sua visão sobre o futuro político e econômico do país?
R.A – A Presidente Dilma teve a coragem de expurgar vários alvos de acusação de corrupção de seu governo. Talvez, isto ajude a reduzir o grau de corrupção no país. Por outro lado, isto a deixa mais vulnerável a represálias políticas quando precisar de apoio no Congresso. Ainda é muito cedo para saber as consequências desta estratégia.
 
3 – Você disse recentemente que esta pode ser a melhor década da história brasileira. Por quê?
R.A – Porque pela primeira vez em muitas décadas, devido aos impactos favoráveis causados pela emergência de China e Índia, o Brasil pode sustentar elevadas taxas de crescimento sem gerar grandes desequilíbrios de contas externas, públicas ou inflação. Por isso, a média de crescimento do PIB nos últimos 8 anos foi mais do que o dobro da média dos 24 anos anteriores sem que o Brasil resolvesse nenhum de seus problemas estruturais – gastos públicos exagerados, infraestrutura precária, educação e saúde de má qualidade, etc.
 
4 – Uberlândia é hoje a segunda maior cidade de Minas Gerais, com 604 mil habitantes. De olho neste dado, a administração municipal executa a maioria de suas obras projetando um crescimento ainda maior para a cidade. Um exemplo é o investimento feito, recentemente, na estação de tratamento de esgoto, que vai permitir à cidade ter a capacidade de tratar o esgoto de uma população de 1,36 milhão de habitantes, em 2015. Diante de projeções como esta, qual a perspectiva de crescimento de cidades de médio porte?
R.A – As cidades que mais crescem no Brasil são exatamente as de médio e pequeno porte. No caso específico de Uberlândia, a localização geográfica a torna um local ideal para centro de logística nacional, o que explica porque ela cresce mais ainda. Nos últimos 3 anos, por exemplo, Uberlândai foi a cidade do Brasil onde a venda de automóveis mais cresceu entre aquelas com mais de 500 mil habitantes.
 
5 -Recentemente, foi divulgada no jornal Correio uma matéria sobre a mudança de hábitos da classe C, com base em uma pesquisa realizada pelo instituto Data Popular. O estudo revelou que a categoria está investindo mais em profissionais e empresas prestadoras de serviços. Esta modificação está diretamente relacionada à maior oferta de crédito. Como um estrategista de investimentos, qual a sua avaliação sobre este cenário atual. Quais os riscos para a economia diante do maior “poder” de consumo desta classe?
R.A – Por enquanto, este crescimento do poder de consumo gera muito mais oportunidades do que risco. Segundo dados do Ipsos, entre 200d e 2010, 29 milhões de brasileiros entraram na classe C e 16 milhões emergiram às classes A e B. Em resumo, o Brasil ganhou 55 milhões de novos consumidores, uma Itália inteira.
 
6 – Segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Triângulo Mineiro e Alto do Paranaíba (Sinduscon-TAP), o metro quadrado em Uberlândia, nos últimos três anos, subiu cerca de 60%. Em contrapartida, já se fala em uma redução no “boom” do mercado imobiliário. Hoje, para quem é investidor, vale a pena aplicar os recursos em imóveis?
R.A – Não acredito que haja uma bolha imobiliária prestes a explodir no país porque o volume de crédito no Brasil ainda é 20 vezes menor do que era nos EUA e 15 vezes menor que em Portugal ou Espanha quando bolhas estouraram por lá. Por outro lado, não parece realista esperar que a alta de preços sustente o ritmo dos últimos anos. Em resumo, acredito que os preços continuarão a subir, mas em ritmo mais lento.
 
7 – Ainda sobre investimento, seria mais interessante investir no mercado imobiliário ou na bolsa de valores?
R.A – Depende do objetivo, prazo de investimento e grau de tolerância a risco do investidor. Em linhas gerais, nos próximos anos, deve ser possível alcançar retornos mais elevados com investimentos em ações, inclusive das próprias construtoras e incorporadoras do que com imóveis. Por outro lado, o risco é também muito maior.

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