08/2014
Por Danilo Sans
Apesar do fraco desempenho da economia e do pessimismo generalizado dos investidores, a tese de que há no Brasil uma bolha imobiliária prestes a estourar tem sido derrubada ano após ano. Mesmo com uma expectativa tímida de crescimento quando comparada à última década, o momento atual pode ser apropriado para a compra de imóveis, tanto para o investidor quanto para quem está esperando para realizar um sonho.
A projeção é do economista Ricardo Amorim, apresentador do programa Manhattan Connection, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria, que esteve ontem no Paradise Golf & Lake Resort, em Jundiapeba, onde ministrou uma palestra.
Em coletiva de imprensa realizada no local, o especialista mostrou que o mercado imobiliário brasileiro ainda tem espaço para crescer (com alta de 10% apresentada nos últimos 12 meses), e ainda falou sobre uma inevitável mudança no modelo econômico brasileiro pós-eleições. Confira:
Como está o mercado imobiliário atualmente e como podemos situar Mogi das Cruzes nesse cenário?
Mogi, como o restante do Brasil, viu nos últimos anos um crescimento muito forte do mercado imobiliário. A alta dos preços e da procura estimulou as construtoras a aumentarem a quantidade de lançamentos. Mas, nos últimos meses, houve um movimento de redução naquele ritmo de lançamentos, por vários motivos: a economia brasileira cresceu menos, o emprego piorou um pouco, a expansão de crédito foi mais lenta, e havia uma preocupação porque muita gente falava que o Brasil tinha uma bolha imobiliária prestes a estourar. Tudo isso fez com que o comprador de imóvel se retraísse e as vendas reduzissem de ritmo. Mesmo assim, isso não gerou um movimento generalizado de baixa de preços.
Hoje, ainda vale a pena investir em imóveis?
Olhando para frente, o que determina a perspectiva de Mogi é o mercado imobiliário da Capital. Em São Paulo, há um fator determinante que é a mudança de Lei de Zoneamento, o que basicamente encareceu muito o custo de se construir. Quando você tem que construir menos em um mesmo terreno, o número de apartamentos menores precisa rentabilizar toda aquela construção. Isso significa que a gente deve ter nos próximos anos uma alta forte dos preços de novos lançamentos em São Paulo, que, por sua vez, baliza o preço de todos os imóveis da Cidade. Esse encarecimento vai levar muita gente a procurar oportunidades nas cidades do entorno, incluindo Mogi, o que deve significar uma pressão altista de preço de imóveis ao longo dos próximos anos.
Então, os preços vão continuar a subir?
Um fator específico de Mogi e das cidades interioranas em todo o Brasil é que o agronegócio é uma das poucas áreas da economia brasileira que cresce muito. Como a renda no agronegócio movimenta a economia do interior do Brasil, a expectativa para esse mercado acaba sendo melhor do que no das capitais. Isso já vem acontecendo há alguns anos e deve continuar. Por esses fatores e também pelas vendas represadas de gente que só estava esperando a Copa do Mundo passar, com a expectativa de que poderia comprar mais barato, é provável que os preços dos imóveis em Mogi sigam em alta nos próximos anos. Portanto, para quem vai comprar, é melhorar comprar hoje do que esperar.
Ainda é possível sustentar a tese de que não há uma bolha imobiliária pronta para explodir no Brasil?
Uma análise mais simplista do mercado imobiliário brasileiro, comparando-o com o dos Estados Unidos e da Europa, fala o seguinte: A bolha estourou lá porque os preços e o número de lançamentos subiram muito. A princípio, no Brasil, a impressão é a mesma. No entanto, fui estudar essa história mais a fundo e notei que há uma série de diferenças importantes.
A primeira: a ideia de que há muitos lançamentos no Brasil não bate com comparações internacionais. No ano passado foram lançados 200 mil imóveis no Brasil, o que não representa nem um décimo do que foi lançado nos Estados Unidos no pico da construção, em 2005, sendo que lá não há déficit habitacional e a população é apenas uma vez e meia maior que a brasileira. Na China, foram lançados 22 milhões de imóveis somente no ano passado. Em resumo, ao contrário do que pode parecer, nós não estamos construindo muito. Segundo: o volume de endividamento também é diferente no Brasil. Aqui, a gente tem só 8% do PIB (Produto Interno Bruto) em financiamento imobiliário, enquanto nos países onde houve estouro de bolha isso chegou a representar entre 50% e 130% do PIB. Por último, o imóvel no Brasil está com um preço muito superior ao que era antes, e isso faz parecer que está muito caro. Mas, se for comprar o Brasil de hoje com os Estados Unidos antes do estouro da bolha, eu chego à conclusão de que o imóvel no Brasil está barato. Em uma comparação entre 123 países, o Brasil é o 48º em preços. Tudo isso me leva a crer que hoje o Brasil não está perto de um ponto de estouro da bolha. Se vamos ter isso daqui 10 ou 20 anos, eu, honestamente, não sei. Mas o que consigo dizer é que neste ou no próximo ano a probabilidade é baixíssima.
E como deve ficar o cenário econômico brasileiro pós-eleições?
Na minha opinião, independentemente de quem ganhar, é provável que a gente tenha uma mudança de modelo de política econômica brasileira por uma razão muito simples: o atual está esgotado. Nos últimos quatro anos, o Brasil cresceu muito pouco.
O que deve mudar nesse modelo?
Nos últimos anos, o modelo de crescimento brasileiro foi baseado em estímulo ao consumo. A gente teve uma série de estímulos à contratação e, por conta disso, o desemprego caiu e os salários subiram, o crédito cresceu e as pessoas passaram a consumir mais. Como a capacidade de produção não cresceu no mesmo ritmo, houve um desequilíbrio e é isso que precisa mudar. Eu acredito que, caso ganhe a oposição – e aí eu falo basicamente do Aécio Neves e, com uma probabilidade menor, mas não impossível, de Eduardo Campos -, essas mudanças provavelmente serão bem maiores do que se a presidente Dilma [Roussef] for reeleita. Entretanto, nos dois casos, eu acho que alguns ajustes vão acontecer.