Haja promessa.

Por Denize Bacoccina – IstoÉ Dinheiro

Às vésperas do segundo turno, candidatos fazem todo tipo de proposta, mas não dizem de onde virá o dinheiro
Ele promete um aumento real de 11,5% no salário mínimo e um reajuste de 10% para as aposentadorias, além de 13º para os 12,7 milhões de beneficiários do Bolsa Família. Ela promete erradicar a pobreza no Brasil nos próximos quatro anos, construir o trem-bala entre Campinas e Rio de Janeiro e manter os concursos públicos que aumentaram em 24% o quadro de funcionários públicos em oito anos.
A duas semanas do segundo turno da eleição presidencial e com as pesquisas de intenção de voto mostrando uma diferença de quatro a oito pontos entre os dois candidatos, José Serra e Dilma Rousseff capricham nas promessas, disputando o posto de quem vai abrir mais o cofre no próximo ano.

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Basílica de aparecida, na terça-feira 12: santuário, visitado pelos dois candidatos, recebe fiéis no dia da Padroeira do Brasil
O salário mínimo de R$ 600 oferecido por Serra vai aumentar em R$ 25,7 bilhões os gastos do governo. Incluindo o aumento dos aposentados, que atingiria a maior fonte de déficit do governo, e o abono do Bolsa Família, o pacote do tucano chega a R$ 32,8 bilhões. O custo do trem-bala de Dilma é de R$ 34,6 bilhões.
São promessas que, sem dúvida, movimentam a economia. Mas a questão é: será que cabem no Orçamento? Serra diz que é possível cumprir as promessas utilizando os recursos que serão economizados em outras áreas. O candidato tucano propõe reduzir cargos comissionados e os gastos com a política de acumulação de reservas – hoje em US$ 280 bilhões, com custo que pode superar 1% do PIB. “Há condições de ter o salário mínimo mais alto.
Temos os cálculos feitos e há muita gordura”, disse Serra. Dilma, surpreendentemente, neste quesito aparece do lado mais restritivo, defendendo o salário mínimo de R$ 538 previsto no Orçamento de 2011, com reposição da inflação e sem aumento real, já que a economia não cresceu em 2009.
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Dilma promete salário mínimo de R$ 538 – Custo: R$ 8 bilhões. Aumento de 5% para os aposentados – Custo: R$ 3 bilhões. 
Trem-bala de Campinas ao Rio – Custo: R$ 34,6 bilhões.
Ela diz que em seu governo o mínimo terá um ganho real constante – não em apenas um ano. Historicamente tido como mais fiscalista, Serra parece ter se adaptado à necessidade de conquistar mais eleitores. “Dá para bancar os aumentos, mas será preciso adiar um ajuste que seria saudável se fosse feito no começo do governo, quando há apoio para isso”, disse à DINHEIRO o economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria.
A dificuldade de Serra será conciliar o aumento de gastos com o corte de tributos que também prometeu. “Fica incompatível fazer as duas coisas. Para fechar essa conta, seria preciso um corte ainda maior nos gastos”, diz o economista Ricardo Amorim. O tucano prometeu cortes na carga tributária sobre a cesta básica e a conta de luz – esta última rendeu, no ano passado, mais de R$ 46 bilhões ao governo. As promessas de Dilma parecem menos generosas num primeiro momento porque representam uma continuidade em relação ao governo atual.
No programa resumido divulgado pelo PT no fim da semana passada, a erradicação da pobreza aparece como um dos 13 pontos fundamentais para o partido. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada mostra que a pobreza extrema, medida por uma renda per capita de um quarto do salário mínimo, caiu pela metade entre 1995 e 2008, para 10,5% da população brasileira.
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Serra promete salário mínimo de R$ 600 – Custo: R$ 25,7 bilhões. Aumento de 10% para os aposentados – Custo: R$ 6 bilhões. 
13º para o Bolsa Família – Custo: R$ 1,1 bilhão.
 
O instituto estima que, mantendose as atuais políticas de redistribuição de renda, é possível acabar com a miséria até 2016. Dilma quer realizar o feito nos próximos quatro anos. “País nenhum pode ser considerado desenvolvido se não tiver um processo de redução drástica da pobreza a zero”, disse Dilma.
Mesmo programas que estão na programação do governo podem mudar, dependendo do resultado das eleições. O trembala, por exemplo, é um compromisso de Dilma não endossado pelo tucano. Boa parte dos gastos já está prevista no Orçamento de 2011. O projeto enviado ao Congresso prevê despesas de R$ 753 bilhões no próximo ano. Em relação ao PIB, elas aumentam de 18,94% em 2010 para 19,34% em 2011. Ainda assim, a previsão das receitas previdenciárias está subdimensionada, na avaliação de analistas de fora do governo, o que permite despesas ainda não previstas.
A equipe de Serra calcula em 17,3% a expansão dessas receitas em 2011, enquanto o Orçamento a estima em 8,4%. Não se trata de conservadorismo por parte do governo, mas de uma estratégia. Quando a arrecadação “surpreende”, os novos recursos podem ser usados com mais liberdade, já que não estavam previstos no Orçamento e estão fora dos gastos carimbados. É quando novas bondades podem ser anunciadas. Por um ou por outro.
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