Publicado em: www.clubelunico.com.br
janeiro de 2010
Vou começar pela má notícia. Você já deve ter ouvido falar da década de 80 como a década perdida. Pois bem, fomos enganados.
Entre 1980 e 2003, a média de expansão da economia brasileira foi de apenas 2,3%, menos do que cresceu nossa força de trabalho. Por incrível que pareça, o número de trabalhadores aumentou mais do que o PIB nesse período. Em outras palavras, a produtividade média da mão de obra em 2003 era mais baixa do que em 1980. Por que? Falta de investimento em educação e em infraestrutura, e um ambiente de negócios extremamente desfavorável. A maior preocupação das empresas por muito tempo foi defender-se da inflação.
Como o Brasil crescia menos do que o resto do mundo, sua participação na economia global foi ficando cada vez menor. O Brasil era uma economia submergente. Bye-bye país do futuro.
Que futuro é este que esta geração não viu chegar? Durante 80 anos, entre 1900 e 1979, o Brasil havia sustentado uma média de crescimento de 7% ao ano. Se ele tivesse mantido nos 24 anos seguintes, a mesma média de crescimento, a renda per capita brasileira teria sido igual a da Itália, França, Alemanha, Inglaterra, Cingapura ou Coréia do Sul em 2003. Como bem sabemos, não foi exatamente o que aconteceu.
Em 2003, a renda média do brasileiro ajustada pelo poder de compra da sua moeda – o que cada pessoa conseguia comprar em seu país – não era mais alta do que as de Botsuana, um país onde 40% da população estava infectada com o vírus HIV; Irã, com todas as guerras e governos extremistas que passaram por lá; ou de Tonga, uma linda, mas inexpressiva ilhota do Pacífico.
De lá para cá, impulsionado pela fome chinesa, por nossos metais e alimentos, o crescimento brasileiro dobrou de velocidade, passando a uma média de 4,7% entre 2004 e 2008.
Com isso, o Brasil viu sua posição se transformar de retardatário a líder global. Desde 2004, a contribuição brasileira para o crescimento mundial tem sido maior do que a do Japão, a segunda maior economia do planeta. As empresas instaladas no país passaram a ter um crescimento de geração de lucros maior do que em todos os países desenvolvidos, com exceção dos EUA.
Como consequência, muitas empresas brasileiras passaram de presas a predadoras nas grandes fusões internacionais e hoje estão entre as maiores do mundo em seus setores. Alguns exemplos são o Itaú, que comprou as operações latino-americanas do BankBoston e é hoje um dos dez maiores bancos globais, o JBS que comprou a Swift e a Pilgrim’s Pride – empresas americanas – tornando-se a maior empresa de carnes e laticínios do mundo e a AMBEV, que com a compra da Budweiser, um ícone americano, passou a ser uma das maiores cervejarias do mundo.
Por tudo isso, tanto a Copa do Mundo quanto as Olímpíadas serão aqui e, pela primeira vez, um presidente brasileiro foi eleito a personalidade do ano pelo jornal francês Le Monde.
Vou arriscar duas profecias. Desde que o Banco Mundial foi criado, após a Segunda Guerra Mundial, todos seus presidentes foram americanos. Isso vai mudar em breve. E seu primeiro presidente não americano será um brasileiro.